Empreendedores, entidades e setor privado apontam falta de incentivo à inovação no Brasil

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O Museu do Amanhã foi palco de um debate sobre a inovação no Brasil, fomentado pelo CSEM. O evento “Inovadores do Mundo Real” marcou as comemorações de 10 anos do centro de pesquisa, sediado em Belo Horizonte. “Tal qual foi a inovação, teremos uma próxima onda. Inovar é perceber isso antes de acontecer, é quebrar paradigmas”, avaliou o presidente do CSEM Brasil, Tiago Alves. A colocação serviu como ponto inicial do debate sobre o tema. Entre os convidados estavam David Travesso (Fir Capital), André Barrence (Google Campus), George Kotrotsios (CSEM Suíça), Luiz Alberto (Museu do Amanhã), Professor Carlos Arruda (FDC), Professor Carlos Eduardo Pereira (Embrapii), Professor Marta Pimentel (FDC), Giana Sagazo (CNI), Rodrigo D`Elia (AES), Paulo Rocca (Bosch), Juliano Seabra (Endeavor), Irecê Kauss (BNDES), Arturo Vittori (Nasa, Airbus, Warka Tower).

Para os participantes, é necessário que o Brasil crie um clima propício à inovação, com mais investimentos destinados à educação, ciência e tecnologia, agenda positiva, escolas técnicas e melhor qualidade das universidades públicas e menos burocracia para as empresas. “É evidente que o brasileiro é um povo criativo, que inova todos os dias para lidar com os problemas do país. Precisamos apenas de um ambiente favorável”, avaliou Paulo Rocca, vice-presidente da Bosch.

O executivo relatou que dentro da empresa é difícil conquistar espaço para o Brasil porque há volatilidade econômica e politica, além do problema educacional. “Nossa luta hoje é mostrar para a matriz que somos rápidos e que podemos levar a inovação brasileira para o resto do mundo.”

André Barrence, diretor do Google Campus de São Paulo, afirmou que a empresa tem muita convicção no setor brasileiro. “Não é a toa que nosso campus é o maior do mundo. Poucos países têm um espaço aberto do Google voltado ao empreendedorismo. Mesmo em um cenário educacional pouco favorável, temos ótimas ideias vindas do empreendedor local. Aliás, a primeira empresa adquirida pelo Google, em 2005, é brasileira, a Akwan. Isso mostra como a inovação no Brasil é real.”

O Museu do Amanhã é um exemplo disso. O curador Luiz Alberto Oliveira explicou que o local foi concebido diferentemente dos outros museus, como por exemplo o de História, que se baseia em artigos antigos. “Nós partimos do inusitado, do que ainda não aconteceu.” Essa inovação faz o museu, localizado no Rio de Janeiro, ser o mais visitado do mundo na categoria Ciência. “A inovação faz parte do Brasil”, acrescentou.

No entanto, Carlos Arruda, do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral fez um alerta: “77% das empresas que foram citadas no primeiro ranking da Exame de maiores empresas, há 35 anos, não existem mais. Apenas 23% entenderam que precisavam investir em inovação para continuar no mercado”.

Para ele, nos próximos anos, o mundo irá ouvir muito sobre as inovações chinesas, já que o país da Ásia tem feito investimentos constantes no setor. “No Brasil, pouco se investe. A melhor universidade brasileira, que é a Unicamp, está na colocação 182 no ranking mundial de melhores instituições de ensino (segundo QS University Ranking). Isso é muito ruim.”

Carlos Eduardo Pereira, diretor de Operações da Embrapii, afirmou que essa realidade seja provocada pela ausência de uma agenda positiva, muitas vezes adiada ou interrompida pelos processos eleitorais. “Não podemos deixar o calendário político intervir dessa maneira. Precisamos dar continuidade às ações, independentemente de quem seja eleito.”

A mesma opinião foi compartilhada por Marta Pimentel, diretora-adjunta de Mercados da Fundação Dom Cabral. “Falta acreditar que é possível. Estamos numa geografia benéfica, flexível, inteligente. Acho que nosso desafio enquanto educadores é mobilizar, fazer uma agenda que projete futuro. No delta do hoje, viabilizar o amanhã possível.”

Para Rodrigo D’Elia, diretor de desenvolvimento de tecnologias da AES, o que falta é conectar com boas ideias. “A legislação precisaria ser mais flexível. Isso atravanca investimento. Participamos do Kubo, mas não vemos nada oficial, vindo do governo, que podemos acessar.”

Gianna Sagazio, diretora de Inovação da CNI, contou que há um movimento pela inovação na instituição, mas afirma que a situação brasileira não é confortável. “Falta prioridade no país. Ciência, tecnologia e inovação são considerados gastos. Sabemos que nos outros países isso é considerado investimento. Falta política para fortalecer instrumento de inovação. Precisa melhorar a qualidade da educação no Brasil, desde a básica até a graduação.”

Segundo Irecê Kauss, chefe do departamento de tecnologia da informação e comunicação do BNDES, apesar das amarras, é possível apoiar bons projetos e fazer coisas que são realmente importantes no Brasil. “Vamos tentar construir algo que seja possível. Não adianta falar muito, porque, no final, o que vale é a inovação transformada em valor de caixa.”

Sócio da Fir Capital, David Travesso, fez o fechamento do debate falando sobre a importância de não pensar só no investimento na hora de colocar a ideia em prática. “Na Fir Capital e no conceito que adotamos da CSEM Suíça estamos baseados em três eixos: conhecimento, tecnologia e capital.”

George Kotrotsios, presidente do CSEM Suíça resumiu o tema em uma frase: “Manipular a complexidade é a chave para a indústria de amanhã.”

Sobre o CSEM Brasil

Com base na experiência do CSEM S/A (Centro Suíço de Eletrônica e Microtecnologia), que já na década de 80 apostava em inovação para o desenvolvimento do país, a FIR Capital trouxe o modelo para o Brasil. Em 2006, nasceu o CSEM Brasil, com o apoio do parceiro suíço e do Governo de Minas, por meio da FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais).

O centro cria produtos, aplicações e empresas de alto conteúdo tecnológico, oferecendo meios para o aumento de produtividade, competitividade e novas oportunidades de mercado. Seu papel é desenvolver a ligação entre ciência, tecnologia, mercado e indústria, com a formação de novas empresas e nichos de atuação, estimulando a toda a cadeia de valor.

O CSEM Brasil investe na ciência aplicada em projetos de pesquisa e desenvolvimento, desenvolvendo soluções originais com foco no mercado e nos desafios enfrentados por clientes. Ao fomentar a inovação tecnológica, contribuímos para setores estratégicos da economia e aumentamos a competitividade do Brasil em escala global, buscando sustentabilidade econômica e desenvolvimento social.