Tecnologia nacional para mapeamento da Amazônia contribui com análises da Nasa

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O mapeamento de biomassa da floresta ajuda no controle do desmatamento. A paulista dataRain foi a empresa brasileira que forneceu toda tecnologia de computação em nuvem que viabilizou o estudo realizado pelo Inpe

O Brasil tem até 2028 para cumprir o Acordo de Florestas e uso do Território, firmado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26). O objetivo é zerar o desmatamento e restaurar florestas já devastadas. Um aliado para o cumprimento destas metas, disponível em um futuro próximo, é o Global Ecosystem Dynamics Investigation (GEDI), um laser de alta resolução que conta com suporte da NASA para mapear todas as florestas do planeta Terra, diretamente da Estação Espacial Internacional. Atualmente, esta inovação está em fase de calibração, e para isso, conta com dados brutos do estudo Estimativa da Biomassa da Amazônia (EBA), realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A dataRain, empresa brasileira 100% orientada à computação em nuvem e um dos mais importantes parceiros da Amazon Web Services (AWS) no Brasil, forneceu recursos tecnológicos para o processamento intensivo do que é considerada a maior coleta de dados sobre a floresta já realizada até os dias de hoje.

O EBA foi realizado entre 2016 e 2019 com uso de LiDAR Aerotransportado. A cada vôo, os sensores acoplados ao avião puderam disparar mais de cem mil feixes de laser por segundo sobre a floresta, resultando na captação de imagens em três dimensões, com alta precisão dos mais 7 milhões de m² da Amazônia e suas 80 bilhões de toneladas de biomassa, que correspondem a cerca de 40 bilhões de toneladas de carbono.  

“A principal vantagem desse tipo de mapeamento foi a reprodução de imagens em todos os ângulos. Além da copa das árvores, o equipamento também registrou o tamanho das folhas, dos galhos, dos troncos e até mesmo o relevo do solo. Essa base de dados gigantesca é usada até hoje, pois é referência para novos estudos, como o GEDI. A partir do EBA, os pesquisadores podem entender detalhes da geografia da Amazônia e aprimorar seus levantamentos”, explicou o analista de dados do Inpe, Mauro Assis, que participou da realização do EBA . 

Para possibilitar o processamento de todas essas informações, a dataRain proveu os serviços de computação em nuvem, que incluem armazenamento e tratamento de dados da ordem de petabytes, associados a High Performance Computing, Data Analytics e Inteligência Artificial para processar os sofisticados modelos estatísticos que permitem projeções e estimativas extremamente precisas. 

“São serviços que permitem que análises tremendamente profundas e detalhadas sejam feitas, avaliando o peso de cada fator como composição da atmosfera, cobertura vegetal, fotossíntese, nível de insolação, mapas de temperaturas, pluviosidade, umidade relativa,  entre inúmeros outros fatores possam ser calculados, avaliados e estudados nos mais diversos cenários hipotéticos, estimando-se e medindo a efetividade de cada medida de mitigação das mudanças climáticas e seu impacto em cada população, seja qual for a região do globo, dado que fenômenos climáticos não respeitam fronteiras ou distâncias”, explicou o CEO da dataRain, Wagner Andrade.  

Ele explica que o uso da nuvem foi fundamental para garantir estes estudos. “Análises com esta dimensão de dados exigem recursos computacionais poderosíssimos, que só a computação em nuvem pode oferecer e sua aplicabilidade se dá a qualquer área do conhecimento em que seja preciso  realizar simulações. Aliás, todas as áreas de conhecimento se beneficiaram da computação em nuvem, devido a sua escalabilidade, elasticidade e possibilidades de compartilhamento. Isso ficou muito patente, recentemente, quando observamos a velocidade com que grupos multidisciplinares, atuando colaborativamente e compartilhando um volume enorme de dados, puderam desenvolver projetos a nível global, como o desenvolvimento de novas vacinas, num tempo recorde”, finalizou.

DESMATAMENTO – De acordo com o Inpe, a Amazônia Legal teve uma área de 877 km² sob alerta de desmatamento em outubro, uma alta de 5% em relação a 2020 e recorde para o mês na série histórica. “A última estimativa de desmatamento da Amazônia indica que houve uma perda de 7.900 quilômetros quadrados de floresta, entre agosto de 2017 e julho de 2018. Isso é cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo e foi a taxa mais alta desde 2008”, ressaltou Assis.

Em dados anuais, o Brasil segue na contramão do Mundo. Enquanto a média global de emissões de gases poluentes sofreu uma redução de 7%, por causa das paralisações de voos, indústrias e serviços durante a pandemia, o País terminou 2020 com alta de 9,5% em relação a 2019. Os dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, creditam o número aos episódios de desmatamento e queimadas na Amazônia e em outras áreas, como Pantanal e Cerrado.

O Brasil é um dos maiores emissores históricos de gás do efeito estufa, quando se leva em consideração todo o desmatamento ocorrido em todas as regiões desde a revolução industrial. Um estudo recente publicado pela Carbon Brief, revista especializada em estudos sobre mudanças climáticas, mostrou que o Brasil é o quarto maior emissor histórico de gás carbônico em números absolutos, atrás apenas de EUA, China e Rússia.