As startups do Cubo Itaú, mais relevante hub de fomento ao empreendedorismo tecnológico da América Latina, captaram mais de R$2,8 bilhões em 140 rodadas ao longo de 2023, segundo levantamento feito para o Selo Cubo 2024. Gringo, com R$150 milhões, Órigo Energia, com R$250 milhões e Digibee, com R$ 300 milhões são alguns dos destaques, visto que estão entre as dezessete maiores rodadas do ano, considerando equity, segundo um mapeamento feito pela Sling Hub, plataforma de inteligência de dados.
De modo geral, os investimentos em startups brasileiras diminuíram cerca de 56,8%, segundo dados da Distrito no ano passado. Entre as startups do Cubo, o número se manteve acima do mercado e a mediana de investimento por startup ficou em R$4 milhões, sem considerar os outliers. “O que acontece é que em 2020, 2021 e um pedaço de 2022, vivemos um período incomum de muito recurso disponível para crescimento acelerado, o que não era sustentável a longo prazo para os fundos. Estamos, sim, vivendo um momento de escassez de capital, mas voltado a uma readequação de mercado para uma realidade mais próxima da nossa região e que possa ser mantida ao longo do tempo”, explica Paulo Costa, CEO do Cubo Itaú.
Em relação a faturamento, os dados obtidos pelo levantamento do Selo Cubo, mostram que houve um crescimento médio de 25,8% por startup. A expectativa para 2024 é que esta crescente se mantenha e a maioria das startups dobre o seu faturamento.
Inteligência Artificial
Antes tendência, agora com o status de realidade consolidada, startups com uso de inteligência artificial mostraram resultados expressivos. Segundo os dados obtidos para o Selo Cubo, as mais de 230 soluções que têm como base a IA, somaram R$2,6 bilhões de faturamento em 2023. Vale destacar que cerca de 30% delas dobraram de faturamento quando comparados os anos de 2022 e 2023, o que comprova o potencial desta tecnologia. “Diferentemente do metaverso, que teve um pouco mais de dificuldade de adentrar o cotidiano das pessoas, a inteligência artificial conseguiu se mostrar acessível a sociedade tanto na esfera de vida profissional quanto na privada. Ouso dizer que, daqui para frente, todas as soluções tecnológicas terão sistemas de IA integrado para otimização de ferramentas e de análise de dados”, reforça o CEO do Cubo Itaú.
Entre as áreas que se destacaram no uso da inteligência artificial, o setor de data analytics mostrou a aplicabilidade da tecnologia em diversos segmentos, incluindo as áreas de saúde, agronegócio e finanças. A Data Rudder, por exemplo, tem se consolidado no mercado de prevenção à fraude, utilizando IA e AutoML em soluções especializadas no monitoramento transacional e na redução do risco financeiro. Criada em 2020 por Rafaela Helbing e Thais Nolasco, no ano passado, a empresa cresceu seu faturamento em 60% e lançou um sistema antifraude Pix, que recebeu o reconhecimento de instituições como a Febraban. Além disso, a startup levantou uma rodada Série A de R$ 10 milhões, liderada pela L4 Venture Builder (fundo B3) e BTG Pactual para aprimorar a ferramenta e expandir a equipe.
Outro caso é o da Mention, primeira startup de relações públicas da América Latina, que tem como principal objetivo tornar relacionamento com a imprensa acessível e escalável e aposta no uso de IA para a criação dos conteúdos e refinamento de materiais. O resultado foi um aumento de 8 vezes no faturamento em apenas um ano.
“Estes são apenas alguns dos casos expressivos de soluções que estão prontas para escalar. Vimos healthtechs que cresceram 5X entre 2022 e 2023. Todas as áreas serão impactadas pela inteligência artificial, é um fato”, reforça Costa.
Brasil no foco do mundo
Um dos pontos que merecem destaque é que em 2023, cerca de 20 startups de fora do país chegaram ao Cubo para expandir seus negócios no mercado brasileiro. Atualmente, quase 50 startups estrangeiras que fazem parte da comunidade. Ou seja, um aumento de 75% só no ano passado. “Um hub como o Cubo oferece a oportunidade de fazer um ‘soft landing’ em nosso país com o apoio de especialistas que podem auxiliar na conexão com potenciais clientes, acesso a investimento, ajuda com possíveis burocracias, entre outros desafios na expansão para novos mercados. Em relação às startups que já estão na comunidade, é a chance de ter trocas ricas com fundadores de um background diferente”, explica Paulo Costa.
A Flokzu, responsável por um software BPM na nuvem que auxilia empresas na automatização e otimização nos processos de negócio, chegou com a expectativa de conquistar uma receita de US$ 2 milhões no Brasil em seu primeiro ano de operação. Com experiência em mais de 70 países e 18 mil de organizações que assinam seu serviço, a automação oferecida pela solução permite que as empresas gerem eficiências, economizem recursos e foquem em tarefas de maior valor agregado.
Nascida no Vale do Silício, a Flexi, que tem como desafio em seu negócio melhorar e otimizar o atendimento ao cliente pelas redes sociais, principalmente o WhatsApp, atua no Brasil há pouco mais de um ano, atingindo 450 empresas, das quais mais de 40% são do setor varejista e 30% de educação, saúde e turismo. Em 2023, consolidaram sua presença na América Latina em termos de impacto dobraram a receita de vendas de seus clientes e melhoraram o indicador NPS em pelo menos 50%.
Logística
Entre os setores que se destacaram, logística é um dos mais promissores. A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) estima que o setor privado invista R$ 124,3 bilhões em transporte e logística de 2022 a 2026. Isso porque além de haver uma necessidade latente do mercado para que esse gargalo ganhe apoio de tecnologia para otimizar rotas e fretes, é uma frente que impacta diversos setores, como varejo, agronegócio, construção e habitação, saúde, entre tantos outros.
Dentro da comunidade, esta foi uma área de bastante atenção no olhar de investidores, visto que foi um dos setores que mais recebeu aportes. A LogShare, plataforma SaaS de serviços logísticos especializada em otimizar o frete de retorno (backhaul em inglês) que conecta indústria, varejo e transportadores de carga por meio de tecnologia, machine learning e compromisso socioambiental em uma plataforma colaborativa, conquistou uma rodada com ONEVC e FJ Labs. A missão da empresa é reduzir as ineficiências na rede de transporte de cargas brasileira, que é altamente dependente do transporte rodoviário. 2 em 5 caminhões que trafegam em nossas rodovias retornam vazios para seus pontos de origem.
No ano passado, o conceito colaborativo que a LogShare facilita ajudou seus clientes (como Unilever, Pepsico, Mondelez, GPA, Mercado Livre, BRF, Coca-Cola, entre outros) a economizarem 26% em custos de frete e em 42% as reduções de emissões de carbono, — uma das métricas mais importantes para empresas com metas de ESG e sustentabilidade. A plataforma transacionou mais de R$100 milhões em valor de frete (TPV), rodou mais de 9 milhões de km, o que equivale a mais de 350 voltas na Terra em 2023.
Pessoas
Apesar de tecnologia ser mais frequentemente a protagonista das conversas no ecossistema de inovação, é necessário lembrar que cada uma das soluções é desenvolvida e guiada por pessoas. “Os fundadores depositam seus sonhos em suas companhias e confiam no Cubo como uma das plataformas de crescimento que os possibilitam de atingir seus objetivos. Logo, nossa missão é fazer jus a essa confiança e facilitar o acesso a mercado, capital e conhecimento”, reforça Paulo Costa.
Vanessa Poskus, que no início de 2020 fundou a Uppo, é um exemplo. Pensando em pessoas, ela criou uma ferramenta que busca auxiliar a área de recursos humanos das empresas no engajamento e retenção dos colaboradores por meio de benefícios corporativos flexíveis. A plataforma contempla mais de 600 parceiros e 20 mil estabelecimentos que oferecem descontos em diferentes locais, como restaurantes, cinemas, hotéis, entre outros serviços e atividades.
Com o novo produto lançado em 2023, o cartão de benefícios flexíveis, Uppo Flex, a startup vem ampliando seus serviços em soluções de banking, para que os usuários possam acompanhar e gerir o saldo, além de efetuar pagamentos e transferências via PIX pela plataforma. Em termos de faturamento, a Uppo dobrou em 2023 e conquistou um aporte de R$1,25 milhão via EqSeed para fazer melhorias no produto e na tecnologia, além de estruturar a máquina de vendas e investir em marketing para posicionar a companhia.
“Empreender é com certeza uma jornada desafiadora e, muitas vezes, extremamente solitária, ainda mais no universo de tecnologia. Poder estar em um ambiente em que outras pessoas estão passando pelos mesmos obstáculos e que dedicam tempo para a troca de experiências, faz toda a diferença. É ressaltar a essência de ser humano e colocá-la em prol da tecnologia para impactar setores e, consequentemente, a realidade da sociedade”, relata Vanessa Poskus, fundadora da Uppo.