Por Cynthia Hobbs, Chief Financial officer no GetNinjas
Quando me deparo com a questão da presença feminina nos conselhos de administração, vejo que ainda há um grande caminho pela frente. A agenda de redução da diferença entre homens e mulheres atuando em determinados espaços, é algo que faz parte de um cenário muito mais abrangente, com raízes históricas e estruturais. E os números refletem essa realidade.
Atualmente, as mulheres representam metade da população mundial, mas contribuem apenas com 37% do PIB global. Segundo a Consultoria McKinsey, poderíamos acrescentar US$12 trilhões no PIB global até 2025 se promovessem uma redução nessa diferença entre gêneros, valor que equivale ao PIB do Japão, Alemanha e Inglaterra juntos. Neste sentido, a redução da desigualdade de gênero é algo de grande importância não apenas para a justiça social, como para a economia.
E para avançar nessa pauta, acredito que é preciso começar pelas bases: na educação básica. Pois a diferença entre homens e mulheres presentes no processo de alfabetização hoje é de, aproximadamente, 200 milhões.
Fora isso, hoje as mulheres passam três vezes mais tempo em atividades não remuneradas quando comparado aos homens. Esse papel múltiplo atribuído às mulheres que são mães, esposas e cuidam dos afazeres domésticos, faz com que o caminho seja muito mais desafiador, e acaba desacelerando uma mudança mais rápida neste cenário.
Por isso, quando me refiro à pauta dos conselhos de administração, vejo um cenário com grande necessidade de melhorias quanto a presença feminina, dado todas essas diferenças de oportunidades. De forma que prepare melhor as mulheres não só para ocupar posições mais altas, como assumir responsabilidades também de conselheiras das empresas, outra área que ainda vemos uma discrepância grande entre os gêneros.
Os conselheiros de administração profissionais, ou seja, que não fazem parte da família controladora, na sua grande maioria são executivos de empresas que, como desenvolvimento de carreira, naturalmente migram para esses conselhos. E assim com toda a experiência profissional podem apoiar outras empresas. Nessa ótica, chamo a atenção para a necessidade de se ter um olhar mais atento nas diretorias das empresas hoje, para entender a tendência de crescimento das mulheres em conselhos e criar uma maior representatividade no futuro.
Quando nos deparamos com as estatísticas, até 2016, as maiores empresas do Brasil não tinham mulheres nos quadros de diretoria, de acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria Com dinheiro com 80 empresas listadas no novo mercado da B3. E esse número não evoluiu muito em cinco anos. Hoje, 36 empresas, que equivalem a 45% do total, ainda não têm mulheres nesta posição. Empresas, inclusive, que possuem a métrica Environment, Social & Governance (ESG) em suas agendas.
É impressionante que empresas com agendas relevantes de sustentabilidade não tenham um olhar para enxergar 50% da população. E com esses números, vemos que o caminho para aumentar a presença de mulheres em conselhos será, ou melhor, está sendo um caminho desafiador. Ainda de acordo com a pesquisa, em 2016, 35 mulheres compunham conselhos de 29 empresas, enquanto 470 eram compostas por homens. Ou seja, as mulheres representavam 7% do total.
Por outro lado, este ano os números são um pouco mais animadores, dando um respiro para esse cenário que está em transição, porque 69 empresas contam com 112 mulheres em seus conselhos, enquanto 712 são conselheiros homens. A porcentagem passou para 15,7%.
Acredito que a maior presença de mulheres nos conselhos das empresas se deve, principalmente, a programas que fomentam a diversidade de gênero nos conselhos na prática, como a WCD – Women Corporate Directors e WOB – Women on Board, fundação global que representa mulheres líderes nos negócios, na qual membros atuam em milhares de conselhos em seis continentes.
Iniciativas como essas são muito importantes para dar mais visibilidade à questão da diversidade nos conselhos de Administração das empresas, além de promover o networking necessário para que as mulheres possam estar conectadas com os tomadores de decisão no momento de escolher um conselheiro.
E por mais que o caminho ainda seja longo, precisamos de mais iniciativas para estimular a diversidade nas diretorias das empresas, pois assim iremos possibilitar alternativas para as mulheres ocuparem posições em conselhos no futuro. Esse pipeline precisa ser muito bem estimulado, pois trabalhar apenas o fundo do funil sem alimentar todas as outras camadas desse funil, será ainda mais desafiador mudar essa realidade.