Por Santiago Ayerza, Presidente da Thomson Reuters Brasil
“Empresa X é denunciada por atividade ilegal deflagrada pela Operação YZ, da Polícia Federal”. Esta é uma manchete que provavelmente você leu algumas vezes nos últimos anos. Investigações sobre roubo, corrupção, lavagem de dinheiro, financiamento de terrorismo e equivalentes ganham força no Brasil e no mundo. Por aqui, ação mais conhecida é a Operação Lava Jato, mas é importante observar que apenas em 2018 já foram realizadas quase 30 operações da Polícia Federal com foco no combate a estes crimes, praticados por empresas ou governos.
Um dos efeitos mais visíveis deste cenário na iniciativa privada é a atenção dada ao compliance, quase uma palavra da moda entre as grandes corporações. Uma irregularidade digna de investigação pode ser originada desde coisas grandes, como o movimento suspeito de grandes quantias, até coisas pequenas, como um e-mail com informações internas enviado por um funcionário para um endereço externo. O compliance atua para evitar isso e promover uma política de boas práticas que garanta a conformidade das atividades de uma empresa.
É um tema sensível, complexo e que ainda não tem sua devida importância reconhecida por toda a comunidade empresarial, apesar do crescimento de sua exposição. Em muitos casos, fica relegado a um profissional do RH, do Financeiro ou do Jurídico de uma empresa, que acumula essa função e a exerce de maneira secundária. Não é o cenário ideal. Mas por onde começar?
O mais importante, em um primeiro momento, é a transmissão da mensagem. As pessoas que compõem uma empresa precisam ter claro o quão importante é que cada um tome cuidados e medidas para tornar o seu trabalho mais seguro. Tudo isso, obviamente, regrado por um Código de Conduta claro e objetivo, que permita a todos os colaboradores, de todos os níveis, entenderem quais são as regras, por que elas existem e que tipo de problema pode ser causado pelo não cumprimento das mesmas, tanto para a companhia quanto para o profissional em questão.
Enquanto maior interessada em um ambiente de conformidade, é responsabilidade da empresa promover ações e iniciativas de propagação das mensagens do compliance. Na Thomson Reuters, para além dos tradicionais conteúdos impressos, trabalhamos também com opções criativas como a gamificação, por onde buscamos alcançar públicos de faixas etárias diferentes e garantir a entrega da mensagem proposta ao público final. Dentro da realidade de cada companhia, diversos outros caminhos podem ser explorados, desde a Inteligência Artificial até dinâmicas de grupos.
Voltando ao papel das lideranças, não terá sucesso uma política de compliance na qual os colaboradores não observam na direção o comportamento pedido por eles. É o conceito famoso em compliance o “Tone at The top”, ou o exemplo vem de cima, em tradução livre. A liderança ocupa clara posição de destaque na política de compliance. Portanto, deve promover comportamentos a serem “imitados” pelos seus subordinados.
O compliance é um trabalho de todos, todos os dias, e isso implica que um gerente que cobra de seu funcionário cuidado com os e-mails que envia, não comente dados confidenciais da empresa com estranhos. Toda regra determinada pela política de compliance de uma empresa cabe também a você, não importando a função que exerce ou a posição que ocupa. Isto é algo que precisa estar sempre muito claro.
Sabemos que são muitos os detalhes a serem observados e, por isso, o uso da tecnologia deve ser sempre considerado. Pensando na realidade de cada empresa, companhias como a Thomson Reuters desenvolvem soluções que combinam tecnologia, conteúdo e expertise humana, que resultam em ferramentas adequadas para demandas dos diferentes setores de atividade e tamanhos de companhia. São softwares intuitivos e extensos bancos de dados trabalhando dia e noite para que nenhuma informação importante fuja do controle daqueles que precisam tomar as decisões.
Uma vez o conceito do compliance estabelecido, a palavra-chave é a coerência. O que você faz deve ter um sentido claro e apresentável. Como em um bom conselho de mãe, se estiver pensando em fazer algo que terá dificuldade em explicar depois, não faça. Os profissionais que atuam provendo o compliance da empresa precisam ainda contar com apoio das lideranças, independência e autonomia para observar processos, apontar desvios e indicar caminhos.
A busca é sempre pelo 100%, ainda que inalcançável. Os meios de se cometer irregularidades vão se refinando e evoluindo com o tempo. Conforme os meios de comunicação se modernizam, fica cada vez mais difícil identificar potenciais relacionamentos perigosos entre elementos de dentro e fora de uma empresa. O que exige do compliance o constante trabalho de estudo e análise das situações. Contudo, estudos comprovam que o grau de satisfação das pessoas e rendimento do trabalho é maior dentro de organizações com forte cultura ética. A difusão de boas práticas de governança corporativa amplia a coesão do público interno, gerando uma melhoria de produtividade contínua.
O esforço voltado ao compliance compensa. Reforça-se a marca perante ao mercado, previne-se problemas e arranhões à marca e ainda se promove um ambiente de confiança entre líderes e funcionários, que por sua vez impacta em resultados e metas alcançadas. Quando se fala em gestão de risco, estabelecer um padrão é o que irá diferenciar uma marca perante às que não se atentam ao tema ainda.