A Bossanova Investimentos, venture capital mais ativa da América Latina, compra a plataforma de equity crowdfunding Platta. O anúncio acontece após nova regulamentação do modelo de investimento — que permite que empresas de pequeno porte realizem ofertas públicas de captação. Entre 56 empresas, a Platta foi a 9ª plataforma com maior volume de captação em 2021, com mais de R$2.3 milhões e 170 investidores. A aquisição foi feita no início de setembro e o valor não foi divulgado.
Com a aquisição, o mercado ganha um crowdfunding cujas ofertas já vêm com o selo Bossanova. A gestora vai investir nas startups ofertadas independentemente do desempenho na plataforma — o que dará oportunidade do investidor menor, que tenha a partir de R$1 mil de aplicação, a participar junto com a Bossanova daquela rodada de investimento. “Estamos separando uma parcela do nosso cheque para as pessoas se beneficiarem desse modelo”, explica João Kepler, CEO e fundador da Bossanova.
O equity crowdfunding funciona como um mini IPO, que diferente do Initial Public Offering (Oferta Pública Inicial, em português), que costuma atrair investidores qualificados e profissionais a investirem em empresas grandes e bem estruturadas, permite ao público geral investir em pequenos negócios — as startups. Ao invés de ter seu capital aberto através da Bolsa de Valores, no mini IPO a oferta é feita pública por uma plataforma de crowdfunding, como a Platta.
O movimento conversa com o principal objetivo da gestora: criar um ecossistema em que o principal objetivo é fomentar o empreendedorismo e o investimento em tecnologia, democratizando o investimento em startups no Brasil. Com o modelo, será possível oferecer um contato direto maior com o investidor, que conseguirá fazer suas escolhas de investimento diretamente, avaliando os números do negócio escolhido com maior facilidade. “Esse formato educa e engaja. Nossos principais stakeholders (startups e co-investidores) precisam ter acesso a diferentes modelos que permitam que eles se conectem e gerem mudanças significativas no país. Compramos a Platta por acreditar que o crowdfunding, principalmente após a nova regulamentação, é uma ferramenta incrível de conexão entre eles. Acrescenta uma camada de educação que os investidores brasileiros ainda precisam para terem mais segurança e conhecimentos ao fazerem suas decisões”, conta Kepler.
O plano da Bossanova é dar aos investidores acesso a sua expertise e curadoria de investimento, concentrando em um único canal todo o recurso que a startup precisa. “Hoje, co-investimos muitas vezes junto a outros fundos e VCs, porque a startup precisa completar o cheque da rodada. Com o formato de mini IPO, encurtaremos esse caminho de captação”, complementa.
Em 2017, quando a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) regulamentou o equity crowdfunding, existiam apenas cinco plataformas ativas no mercado. O volume de captação de recursos pelo modelo cresceu 1.366% em quatro anos, segundo dados da CVM. No primeiro ano, o montante total de captação correspondia a R$ 12,8 milhões. Em 2021, esse volume saltou para R$ 188 milhões — valor 22x superior aos R$ 8 milhões captados em 2016, antes da regulamentação. O número de investidores também acompanhou esse crescimento. Durante o mesmo período, a quantidade de pessoas que investiram nas empresas por meio dessa modalidade aumentou 702%.
Entre a equipe da Platta, esteve o co-fundador da corretora Rico, Ricardo Moraes Filho, que assumiu a gestão da empresa como CEO e principal acionista no segundo trimestre de 2021. De acordo com ele, as conversas entre as duas empresas começaram em maio deste ano, em razão da complexidade de operação que seria exigida com a nova regulamentação (Resolução 88), que triplicou a captação máxima por oferta, passando o valor para R$15 milhões. O limite de receita bruta, que define o conceito de sociedade empresária de pequeno porte, também foi ampliado de R$10 milhões para R$40 milhões, abrindo novas janelas de liquidez aos investidores e ampliando o universo de empresas que podem utilizar da modalidade.
Agora, a Platta contará com todo apoio do ecossistema Bossanova, assim como os já investidores das ofertas da plataforma — que terão acesso aos eventos e iniciativas da gestora, como o BossaPlay, um aplicativo de conteúdo em educação, e o BossaAcademy, de cursos profissionalizantes. Além de dois executivos diretamente envolvidos no dia a dia da plataforma, todos os mais de 60 colaboradores diretos da gestora e também o Centro de Serviços Compartilhados do Grupo BMG passam a apoiar a iniciativa.
Com isso, será possível construir uma área educacional para desenvolver o mercado, recente no Brasil; aumentar a rede de investidores; consolidar um canal de relacionamento e apoio mais amplo para as startups, envolvendo mentorias e parcerias estratégicas com outros fornecedores, além de construir uma área de marketing digital e de conteúdo atuante. Com maior investimento em tecnologia, serão implementadas novas funcionalidades para a plataforma e desenvolvido novos canais de distribuição.
“A mudança da CVM destravou amarras para o crescimento do setor, mas vimos que, assim como surgia um cenário de maiores oportunidades, também haveria maiores desafios. Isso exigiria um maior investimento no negócio e a dedicação integral por parte dos sócios para a construção de um ecossistema próprio, em um curto espaço de tempo”, conta Moraes Filho.
Segundo ele, para realização de ofertas de crowdfunding, são necessários três pilares distintos: seleção rigorosa de empresas para investir, a aquisição de muitos investidores com perfil adequado ao tipo de risco e investir em uma plataforma com inovações tecnológicas e robusto grau de compliance. “Após as captações, é necessário ter uma estrutura de acompanhamento para que estas empresas continuem crescendo e entregando a sua proposta de valor, mas entendemos ao longo do tempo que a nossa aptidão era em se relacionar com os investidores, até por causa do nosso longo histórico na área, e não com a gestão”, explica Moraes, que, além da Rico, dedicou 30 anos ao mercado financeiro como fundador, sócio e executivo das corretoras de valores Spirit, Banco Fator e Link Investimentos.O momento coincidiu com a procura ativa da venture capital em fazer parte deste mercado. “Vimos que a venda da Platta significaria passar nosso legado, de empresas investidas e de investidores, para crescer dentro do ecossistema completo que a Bossanova construiu nos últimos anos — e isso fazia todo o sentido para nós”, completa. Com o movimento, Moraes, que faz parte da rede de investidores da Bossanova desde 2017, passará a atuar como Conselheiro Consultivo do crowdfunding.