ACE Ventures lança pesquisa exclusiva sobre o mercado de venture capital no Brasil

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2º edição da Master Guide destaca, entre outras coisas, que 80% dos VCs acreditam que a popularização da Inteligência Artificial Generativa terá um impacto transformador para as startups


Após o mercado de venture capital passar por um momento de ajustes entre 2022 e 2023, a ACE Ventures produziu a edição 2024 do Venture Capital – Master Guide, levantamento anual com 19 dos principais fundos do país, com o intuito de identificar as métricas e boas práticas mais observadas pelos VCs após o investimento e quais são as tendências que esses investidores estão observando.


Cultura de startup

A pesquisa destaca o reconhecimento do papel central da cultura organizacional para o sucesso de startups. Para 78% dos entrevistados, fatores como a contratação de talentos, a comunicação assertiva e a promoção de um ambiente diversificado são cruciais na fase de tração das empresas. O time de fundadores também é visto como peça chave para consolidar essa cultura, com 28% dos VCs mencionando a importância de sua atuação, enquanto 22% destacaram a necessidade de uma comunicação transparente.


“Se os fundadores têm um papel fundamental na consolidação da cultura, os investidores, por sua vez, têm uma presença muito importante na evolução desses empreendedores. Por isso, após a captação, é imprescindível que exista um contato constante e transparente entre ambas as partes”, diz Pedro Carneiro, sócio e Diretor de Investimentos da ACE Ventures.

Para 60% dos entrevistados, a transparência nas comunicações é o fator primordial na relação entre VC e empreendedores. O formato de relatórios mensais foi citado por cerca de 50% dos investidores como principal forma de acompanhamento de informações gerais das companhias — a comunicação constante (33,5%) por outros canais, como WhatsApp e e-mail, também foi mencionada como diferencial no contato.


Além da cultura, os investidores estão focados principalmente na eficiência operacional das startups, mencionada por 60% dos entrevistados; seguido por receitas recorrentes (50%), crescimento de receita (50%), cash burn (45%) e o Lifetime Value (LTV) com 38%, como os indicadores mais mencionados pelos VCs.


Inteligência Artificial Generativa: Oportunidades e Desafios

A pesquisa também revelou que 80% dos VCs acreditam que a popularização da Inteligência Artificial Generativa terá um impacto transformador para as startups no Brasil, citando oportunidades para criação de negócios inovadores (40%) e ganhos de eficiência (35%).


No entanto, um em cada quatro executivos expressaram preocupações sobre o uso excessivo da tecnologia sem diferenciação clara ou que se torne apenas uma ferramenta de marketing. Outro aspecto mencionado foi a preocupação de que as companhias brasileiras se tornem apenas consumidoras de produtos que são desenvolvidos e controlados pelas grandes companhias de tecnologia, como Microsoft (OpenAI), Google, Meta, entre outros.


“Ao buscar investidores para sua startup, o empreendedor deve considerar as particularidades do ecossistema brasileiro. Isso pode parecer óbvio para muitos, mas a realidade é que, na tentativa de replicar o sucesso dos modelos americanos, corre-se o risco de adotar métodos que não têm a mesma eficiência em nosso mercado. No Brasil, os investidores têm prioridades e objetivos distintos, moldados por um contexto econômico e cultural diferente do dos EUA — de onde chegam boa parte das referências em startups, metodologias e estratégias.”, completa Carneiro.


Segundo o executivo, a boa notícia nisso é que o mercado brasileiro está construindo sua própria identidade, com uma abordagem que valoriza e atende as necessidades locais.


Sustentabilidade em Foco

As queimadas que poluem o ar em quase todas as capitais do Brasil recentemente não deixam dúvidas de que vivemos uma emergência climática. Do lado das gestoras, há um foco crescente em sustentabilidade, com investimentos em startups que oferecem soluções para desafios ambientais.
 

Cerca de 55% dos fundos afirmaram que estão buscando ativamente investir em startups focadas em ESG, tecnologias climáticas e sustentabilidade. A pesquisa também mostrou que 35% dos fundos já estabeleceram controles de ESG em suas organizações e que o tema pode se tornar um diferencial competitivo nos próximos anos.


Desafios e Oportunidades no Cenário de IPOs e M&A

Quando o assunto é abertura de capital, a maioria dos investidores (70%) se mostra cética sobre a reabertura da janela de IPOs no Brasil. “Além do cenário macroeconômico pouco favorável, os gestores têm diversos exemplos recentes de IPOs na América Latina que não foram bem sucedidos e que hoje possuem um valor de ação menor do que na abertura, casos de GetNinjas, Mosaico e Clearsale, por exemplo.”, enfatiza Pedro Carneiro.


Nesse cenário, fusões e aquisições (M&A) são vistas como uma alternativa mais viável por 22% dos entrevistados. No entanto, 30% dos VCs ainda acreditam que, apesar do cenário desafiador, startups em estágio avançado devem se preparar para eventuais oportunidades de IPO no futuro.
 

Foco em investimento de estágio avançado e dívida de venture

A dívida de venture ou empréstimo via venture debt tem ganhado espaço como uma alternativa para empresas que buscam levantar capital sem diluir o controle dos fundadores, especialmente em estágios mais avançados de crescimento.


De acordo com 38% dos fundos entrevistados, essa opção pode se tornar atraente, em especial, no late stage. Uma ressalva que é feita é que esse movimento deve ser considerado uma ferramenta e não investimento. Em especial, como possibilidade de obter liquidez e estender o runway das companhias. Por outro lado, 27% dos entrevistados acreditam que o ideal é que as empresas não atraiam esse tipo de dívida, pois ela pode:

1) comprometer o desenvolvimento da empresa no longo prazo;

2) aumentar os riscos do negócio;

3) porque, no Brasil, esse capital costuma custar muito caro, na opinião dos fundos.


Levantar capital por meio de equity pode ser mais vantajoso em situações onde a empresa busca mais do que recursos financeiros, como parceiros estratégicos que tragam expertise e conexões de mercado. Essa opção foi mencionada em 22% das conversas com gestores de VC.


Considerações regulatórias e econômicas

A atenção das gestoras com questões regulatórias para setores como fintechs, cibersegurança e compliance devem abrir as portas para oportunidades de inovação — e viabilizar novos modelos de negócio na opinião de 55% dos entrevistados. Nesse escopo, o Banco Central do Brasil é visto como um ator importante, por conta de iniciativas como o desenvolvimento do Pix, Open Banking e o futuro Drex.


A questão dos jogos online e marcos relacionados à energia também são observadas como futuras oportunidades. Além disso, 25% dos VCs entrevistados também afirmam estarem acompanhando mudanças como a reforma tributária, que pode impactar startups e investidores de forma indireta, afetando questões como stock options e gerando insegurança jurídica. Embora fatores macroeconômicos como taxas de juros e inflação impactem as estratégias de venture capital e sejam monitorados pelos VCs, eles não costumam ser decisivos para as tomadas de decisão de, pelo menos, 30% dos VCs entrevistados.


“Estude os investidores. Compreenda sua tese de investimentos. Conheça o portfólio. Busque feedbacks com empreendedores que já são investidos para saber como está sendo a sua experiência. Em resumo, monte um plano e não caia de paraquedas no fundraising. Assim fica mais fácil de conseguir um possível investidor e entender como ele poderá agregar valor além do aporte financeiro”, aconselha o Diretor de Investimentos da ACE Ventures, Pedro Carneiro.