Por Alfredo Castro*
Claro que já sabemos que há quatro gerações trabalhando juntas… que cada geração possui características distintas em relação às outras… que a nossa sociedade vem mudando muito rapidamente…e por aí vamos!
Mas, você já ouviu falar do conceito de “storytelling” aplicado no ambiente empresarial?
Esta técnica está em alta exatamente por conta dos novos desafios no local de trabalho, gerados pela transformação que a tecnologia nos trouxe (é a nova tendência para os próximos anos, para os quais devemos nos preparar).
Quanto mais utilizarmos mídias sociais, mais necessitaremos incorporar técnicas de “storytelling” para motivar, liderar e trabalhar com as novas gerações. Então vamos ver, de forma bem resumida, como podemos entender esta nova tendência no mundo corporativo.
Vamos começar pelo termo “Storytelling”, que significa, numa tradução bem livre, a capacidade de contar histórias. Esta “contação” de histórias deve ser feita de uma tal forma que consiga envolver o interlocutor no assunto que estamos abordando. Ela é aplicada, de forma natural, desde que fomos socializados, lá na nossa infância. A diferença é que não nos damos conta de que, se estudarmos o “storytelling” de uma forma mais estruturada, conseguimos obter maiores resultados quando tivermos que conversar, convencer ou compartilhar algo com outra pessoa. “Storytelling”, portanto, significa a capacidade de uma pessoa, ou de um grupo, em transmitir eventos em narrativa na forma de sons, palavras, imagens, com o objetivo de compartilhar, consolidar ou ensina r elementos importantes de sua cultura. É uma das competências mais antigas da humanidade, presente em todos os grupos de seres humanos, desde as cavernas até o “clip” com o qual aprendemos o que significa, por exemplo, facebook. Um filme, uma propaganda, uma reunião de trabalho possuem uma narrativa estruturada e conseguem envolver o público participante como mecanismo de educação, entretenimento, preservação da cultura e como meio para incutir valores morais. Cada história possui elementos obrigatórios: contexto (cenário), enredo e personagens, bem como o ponto de vista narrativo. Numa história geralmente encontramos pelo menos um desafio (uma tarefa difícil de ser realizada) que é enfrentado por um personagem extraordinário, num determinado contexto. Este personagem envolve o interlocutor porque demonstra comportamentos marcantes (emocionantes) que o farão lembrar desta “história” por muito tempo.
Por exemplo, no ambiente de trabalho, você já vivenciou alguma situação na qual passou ao colega uma “lista” do que deveria ser feito… mas ele não conseguiu realizar o trabalho de forma adequada? O que aconteceu é que o “storytelling” não foi aplicado, isto é, a falta de uma “narrativa” não gerou o engajamento do seu colega, e neste caso ele terá menos chance de lembrar-se e, provavelmente, não conseguirá se “envolver” nem repetir comportamentos adequados para a realização daquele trabalho. Conclusão: compartilhar uma lista do que deve ser feito não é suficiente!
Por outro lado, quando contamos fatos para um colega de tal forma a explicar um procedimento e damos como exemplo uma situação que aconteceu, digamos, semana passada, estamos nos valendo do “storytelling” para enriquecer e consolidar tal fato. Isto é “storytelling”!
O colega lembrará dos comportamentos que contamos, se envolverá com a “história” e conseguirá repetir os comportamentos “aprendidos” porque eles vieram juntos com a emoção na narrativa, possibilitando um resultado satisfatório. Se conseguimos criar um marco emocional na outra pessoa de tal forma que ela consiga vivenciar e memorizar, através do exemplo, o procedimento que deve ser adotado no trabalho, então fizemos uso positivo do “storytelling”.
De forma prática, estamos falando de uma poderosa ferramenta para compartilhar conhecimento, que vem sendo utilizada pelo ser humano muito antes do que qualquer mídia social. Mas, em tempos de conectividade, sai na frente quem melhor engajar seu interlocutor – então você e eu necessitamos conhecer mais – usando tais técnicas. Por isso o líder moderno necessita incluir no seu processo de desenvolvimento as técnicas de “storytelling” – tenho feito isto na maioria dos programas de treinamento que realizo.
Um bom líder que consiga envolver e explicar ao seu liderado como deve ser feito um determinado procedimento, ou como deve agir diante de determinadas situações, e, ao invés de usar uma lista de ações que devem ser feitas, ele usa um exemplo (uma história) na qual aqueles procedimentos foram aplicados, conseguirá maior eficácia porque engaja o outro através da história.
Como a maioria da bibliografia sobre “storytelling” está publicada no idioma inglês, vou explicar um detalhe para que não haja confusão: existem duas palavras – “history” e “story” – com significados diferentes. A primeira está relacionado com fatos históricos e descreve fatos passados (como o descobrimento do Brasil, ou, na empresa, o lançamento de produtos no ano passado). Entretanto, a segunda palavra (“story”) é a que significa uma estrutura narrativa, geralmente ligada à ficção (mas não necessariamente), e que pode retratar algo que ainda vai acontecer quanto algo que já aconteceu. Em português, depois da reforma ortográfica, o correto é escrever “história” para ambos os casos.
O mais importante aqui é entender que no ambiente corporativo quando usamos uma narrativa, tanto poderemos estar contando algo do passado, para que ele sirva de modelo para o futuro, quanto poderemos estar contando histórias para criar um novo futuro. No ambiente empresarial as histórias devem ser bem coerentes e bem contadas – senão passa a valer o dito popular “quem conta um conto aumenta um ponto”.
Numa empresa a cultura é passada de funcionário a funcionário através das histórias, que se modificam, adaptam, ganham força e constróem a percepção de realidade, dando forma às culturas empresariais. Minhas dicas sobre “Storytelling” no ambiente corporativo:
– Histórias são tão fortes (e lembradas) que passam a ser repetidas e orientam o dia a dia empresarial: por isso o líder precisa saber e cuidar das histórias que passam de pessoa em pessoa;
– Se contar uma história é encadear eventos de maneira lógica, é importante criar espaços de troca e compartilhamento entre as pessoas, para que elas contribuam com o conhecimento coletivo de forma positiva;
– Uma boa história no ambiente de trabalho, que deve ser repetida, precisa ser coerente, retratar “personagens” que possuam características do grupo e geralmente está relacionada a um processo de mudança, uma quebra de rotina bem sucedida.
– Um bom líder valoriza as histórias da sua equipe, estimulando o compartilhamento, mas valoriza aquelas que refletem eventos extraordinários e resultados satisfatórios. É melhor repetir poucas histórias de sucesso, do que ficar dizendo ao grupo para evitar as histórias de fracasso (elas poderão ser mais lembradas do que as positivas…);
– Cuidado para não exagerar, e contar apenas histórias nas quais os protagonistas não têm nada que ver com os membros da equipe – parecerá impossível obter os resultados extraordinários descritos nestas histórias, já que os personagens não serão reconhecidos pelo grupo;
– Valorize as histórias da própria empresa. Cuidado com a citação da concorrência (ou de antagonista que pode ser visto como um super vilão, estereotipado), porque o grupo poderá memorizar o que “não fazer”, ao invés de vivenciar o que deve ser feito;
– Uma história no ambiente profissional deve conter elementos que estão presentes também nas histórias da ficção, isto é, eventos com começo, meio e fim, passando por pelo menos um “clímax”, que gera expectativa e emoção. Uma das grandes diferenças, no entanto, é que a história corporativa pode contar com o “personagem corporativo”, que não é um ser humano, mas possui valores e uma missão a buscar. No mais, o componente emocional deve existir, pois é isto que gera envolvimento e comprometimento das pessoas que ouvem a história e aplicam seus ensinamentos no dia a dia corporativo.
Portanto, é hora de começar a conviver com o “Era uma vez” no seu ambiente de trabalho de forma mais consciente, estruturada e profissional. Com as redes virtuais cheias de histórias, games e aventuras, será impossível trabalhar sem se tornar um bom contador de histórias. Você está pronto?
*Sobre Alfredo Castro
Um especialista em desenvolver equipes. Assim pode ser definido Alfredo Castro, profissional com formação em Engenharia e pós-graduação em Finanças. É Lead Assessor da ISO 9000 e possui especialização em Qualidade, Psicologia e Eficiência Organizacional pela DDI, American Supplier Institute e Euroquest (EUA). Atua também como professor de cursos de MBA da FIA/USP, palestrante e escritor, além de prestar consultoria pela MOT – Treinamento e Desenvolvimento Gerencial, da qual é diretor-sócio.
Castro é membro do Advisory Committee da ASTD (American Society for Training and Development) em Washington e preside o Conselho da entidade no Brasil. É também diretor técnico da ABTD – Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento –, membro de comissões do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – e membro do Conselho de Administração de algumas organizações no Brasil e no exterior.