Robótica como aliada na retomada da indústria brasileira

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Por Rodrigo Bueno, Diretor da área de Robótica da ABB no Brasil

Após o forte impacto sofrido no início da pandemia, a indústria brasileira entrou em trajetória de recuperação já no ano passado, mas ainda está longe do patamar do cenário pré-pandemia, quando apresentava índices de produção quase 3% acima do índice atual, como aponta pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O desempenho negativo reflete ainda os impactos da pandemia da Covid-19 na economia, afetando o processo de produção. Agora, além de incertezas geradas pelo coronavírus e redução da demanda, a indústria sente os efeitos da escassez e da alta do preço dos insumos – uma combinação que provocou desarranjos de toda a cadeia produtiva.

Um dos grandes desafios da indústria, portanto, será elevar a produtividade, fator imprescindível para um crescimento sustentável. Em outras palavras, as empresas precisarão investir em inovação, gestão e capacitação.

Diante de tal cenário, a robótica pode dar o grande impulso necessário na produtividade, minimizando impactos da atual desorganização da cadeia produtiva, que provoca atrasos na atividade industrial. As soluções de automação permitem, por exemplo, que linhas de produção sejam rapidamente adaptadas para atender a demandas específicas do momento, como a fabricação em massa de produtos customizados ou o aumento de produção de embalagens devido ao crescimento do comércio eletrônico e delivery com a pandemia.

E a boa notícia é que hoje o mercado oferece tecnologia para automação capaz de suprir as necessidades de empresas de diversas atividades industriais, seja de grande, médio ou pequeno porte. Além da cadeia automotiva, pioneira no uso de robôs nas linhas de produção, setores como a Alimentos e Bebidas, Logística, Saúde e Construção, entre outros, vêm intensificado, com soluções customizadas, a automação de suas fábricas, em busca de maior produtividade, redução de custos, segurança dos colaboradores e sustentabilidade.

Um bom exemplo a ser citado é a Nestlé do Brasil, uma das grandes empresas que estão apostando em tecnologias inovadoras de automação há algum tempo. Desde 2018, a fabricante de chocolates usa células robóticas colaborativas inéditas para a área de paletização, que permitiu que grandes robôs industriais trabalhem ao lado de pessoas com segurança, sem a necessidade de separação total. Para isso, um software utiliza scanners de área para diminuir a velocidade do robô até sua parada total caso alguém se aproxime, voltando a trabalhar na velocidade total assim que a pessoa se afasta a uma distância segura. A solução foi capaz de melhorar a produtividade do processo de paletização em 53%, reduzir os custos de manutenção e contribuir para uma operação mais ágil e eficiente.

Os chamados cobots – robôs colaborativos – são, aliás, uma tendência global. Mais de 22.000 novos robôs colaborativos foram implantados no mundo em 2019, uma expansão de 19% em relação ao ano anterior. As projeções apontam ainda para uma taxa composta de crescimento anual de 17% entre 2020 e 2025, na análise do Interact The Collaborative Robot Market 3rd Edition.

Entre os beneficiados pela onda de cobots estão as pequenas e médias empresas, que passaram a contar com alternativas de automação de menor custo e facilmente adaptáveis ao tamanho e atividade de cada negócio.

Há modelos de robôs colaborativos projetados para que os usuários não precisem de especialistas em programação próprios para instalação. O robô pode entrar em operação logo após sair da caixa, sem a necessidade de treinamentos especializados.

Em ambientes pequenos e ao lado de seres humanos, essas máquinas são utilizadas em tarefas mais repetitivas ou indesejadas de um processo produtivo. Uma das vantagens é a sua versatilidade e flexibilidade, com mudança rápida da célula e da sua aplicação quando necessário.

Além de soluções mais acessíveis, os fornecedores da área de robótica estão desenvolvendo novos modelos de negócios para que a automação alcance mais empresas. É possível fazer o aluguel ou leasing de células robóticas, dispensando recursos de investimento (CAPEX). A empresa, simplesmente, destina verbas menores mensais e viabiliza rapidamente a operação. O modelo ajuda ainda a afastar o risco de obsolescência, porque pode haver a troca, retirada ou manutenção da célula após um período estabelecido em contrato.

Os recursos tecnológicos e os modelos de negócios oferecidos atualmente pela robótica podem contribuir para que a indústria brasileira supere as atuais adversidades. Com investimentos em inovação, o setor será capaz de retomar com mais força as atividades e consolidar as bases para um crescimento sustentável.