Política industrial do Paraguai deve servir de modelo para o Brasil, dizem empresários

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Empresários paranaenses que nesta semana participaram da Missão Empresarial Brasil-Paraguai deixaram o país vizinho com uma certeza: o modelo de política de desenvolvimento industrial adotado pelo governo paraguaio deve servir de exemplo para medidas efetivas que recuperem a competitividade da indústria brasileira. Entre terça e quinta-feira (18 a 20), um grupo compostos por 178 empresários ou representantes de empresas e entidades brasileiras esteve em Assunção, capital do país, para conhecer de perto os incentivos oferecidos para investimentos estrangeiros e casos de empreendedores que já estão instalados no país. A missão foi organizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Rede Brasileira de Centros Internacionais de Negócios (Rede CIN), e liderada pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).

“O que vimos aqui nos mostrou que se o Brasil não reagir para resolver seus problemas, vai ficar para trás”, avalia o empresário Rommel Barion, vice-presidente da Fiep e coordenador do Conselho Temático de Negócios Internacionais da entidade. “O que mais preocupa os empresários brasileiros hoje é a falta de competitividade da nossa indústria. No Paraguai, onde os custos de produção são em média 35% que os do Brasil, vimos que é possível criar um ambiente mais favorável”, completa.

Valter Orsi, também vice-presidente da Fiep e presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Londrina (Sindimetal-Londrina), acrescenta que, apesar de abrir novas perspectivas de negócios, a missão também mostrou que o empresariado precisa se mobilizar cada vez mais para conseguir mudanças que criem um cenário competitivo também no Brasil. “Senti que no Paraguai existe um ambiente de negócios dentro das expectativas dos empresários. Seria muito fácil mudarmos e investir em outro país, mas temos que mostrar que queremos fazer isso em nossa própria nação. Por isso, o empresário precisa de posicionar junto ao governo brasileiro”, afirma Orsi.

A opinião é compartilhada também por empresários paranaenses que já investem no Paraguai. É o caso de Roberto Pecoits, diretor-presidente da Gralha Azul Avícola. A empresa, que tem sede em Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná, abriu há 15 anos, junto com um sócio paraguaio, uma unidade encubatória de frangos em Assunção. “O Paraguai tem uma economia estável, um sistema tributário simples, com uma carga tributária muito menor que a do Brasil, e uma legislação trabalhista também simples – o que não significa que o trabalhador não tenha direitos. É um país bom para se investir, que respeita as leis e possui bons marcos regulatórios”, enumera o empresário. “O modelo daqui certamente pode servir de exemplo para o Brasil”, declara.

Durante a missão empresarial, além de receberem informações de autoridades e técnicos do governo paraguaio sobre os incentivos oferecidos para investimentos no país, os empresários também visitaram indústrias já instaladas em território paraguaio.

Dificuldades no Brasil fazem empresários paranaenses levar investimentos ao Paraguai

Alguns dos integrantes da missão que visitou Assunção esta semana já têm planos concretos de instalação no país ou vislumbram boas oportunidades de negócios

O cenário favorável para investimentos estrangeiros no Paraguai vem despertando o interesse de empresários paranaenses. Diversos dos industriais do Estado que integraram a Missão Empresarial Brasil-Paraguai, que nesta semana visitou a região de Assunção, capital do país, já têm planos de expandir seus negócios para além da fronteira. Segundo eles, os relatos ouvidos durante a missão, especialmente de empresários já instalados em território paraguaio, reforçaram a impressão de que as empresas encontram boas condições para se desenvolver no país.

Uma das companhias já com projetos concretos no Paraguai é o Grupo Hübner, do setor metalmecânico. O grupo possui oito unidades no Brasil e, ainda em 2014, em parceria com um sócio paraguaio, deve colocar em operação no país vizinho uma fábrica de componentes automotivos. Além disso, no próximo ano a intenção é implantar uma fundição. “Estamos vindo ao Paraguai por uma questão de sobrevivência, não é por lucro”, declara o diretor do grupo, Nelson Hübner, que é também vice-presidente da Fiep, referindo-se aos inúmeros obstáculos encontrados pelos empreendedores para se investir no Brasil. “A indústria enfrenta muitas dificuldades no Brasil, perdendo competitividade, e é obrigada a buscar alternativas”, completa.

Na opinião de Hübner, o Paraguai tem demonstrado um maior respeito pelo industrial não apenas em relação ao Brasil, mas também aos outros países do Mercosul. O empresário afirma que já tinha essa percepção desde quando começou a prospectar negócios no país, há cerca de quatro anos. “Esta missão serviu para confirmar essa boa impressão e mostrar que o Paraguai é um exemplo para o Mercosul”, afirma o empresário.

A possibilidade de driblar as dificuldades encontradas no Brasil e aproveitar melhores condições para produção chamou a atenção também de Cláudio Luiz Palharin, da Commanders Uniformes Profissionais. Ele participou da missão para prospectar a viabilidade de implantação no Paraguai de um novo projeto da empresa – que atualmente conta com duas unidades no Brasil, em Apucarana e Nova Andradina (MS).

A intenção é passar a produzir roupas para bombeiros, produto que depende de matéria-prima importada. Segundo Palharin, os tributos elevados cobrados no Brasil para a importação do material inviabilizam a implantação do negócio em território nacional. “Uma matéria-prima que eu pagaria US$ 15 (cerca de R$ 35) chega ao Brasil com um custo de R$ 60. No Paraguai, essa matéria-prima chegaria pelos mesmos US$ 15”, explica. Isso é possível graças ao chamado Regime de Maquila, estabelecido por lei, que isenta matérias-primas de impostos de importação. Além disso, no momento de exportar o produto final, a empresa paga um imposto único de 1% sobre o valor agregado.

“Fazer esse tipo de operação no Brasil hoje é impossível”, afirma Palharin, enumerando ainda outras vantagens oferecidas pelo Paraguai, como energia elétrica mais barata e, principalmente, disponibilidade de mão de obra. “Estamos muito preocupados também com a mão de obra brasileira, não apenas pela dificuldade para encontrar pessoal capacitado, mas pelos inúmeros problemas que enfrentamos de relações trabalhistas”, relata.

O empresário acrescenta que, após a missão, a empresa deve voltar ao Paraguai em breve e passar a buscar um sócio paraguaio para analisar a viabilidade do negócio. “A participação em missões como esta sempre abre novas perspectivas e a oportunidades de buscarmos alternativas para nossos negócios”, diz Palharin.

Quem também saiu da missão com a impressão de que o momento é oportuno para investir no Paraguai foi o empresário Waldemir Küerten, do Grupo Küerten, que atua na construção de residências industrializadas e de alvenaria. “Nosso grupo com certeza vai colocar um pé aqui no Paraguai, até por uma questão de equilíbrio para nossos negócios, já que o empresário no Brasil acaba sendo minado por uma série de dificuldades”, declara o empresário. “A questão tributária brasileira, a legislação trabalhista e o excesso de burocracia, aliados à má gestão pública, acabam nos desanimando”, acrescenta.

De acordo com Küerten, a intenção do grupo inicialmente é explorar oportunidades no setor de construção civil convencional. A estimativa do governo paraguaio é que nos próximos cinco anos sejam investidos cerca de US$ 5,4 bilhões em obras de infraestrutura urbana no país. “O Paraguai está no caminho certo, depois de quase 50 anos praticamente parado. Esse trabalho de industrialização vai levantar o país em um curto espaço de tempo e é um modelo que certamente vai dar certo. O momento para investir aqui é agora”, finaliza o empresário.

Fonte: Federação das Indústrias do Paraná