Criar um empreendimento do zero é um grande desafio. No entanto, saber reconhecer quando o negócio não está alcançando os resultados esperados e conseguir recalcular a rota é ainda mais desafiador. No decorrer do percurso, o empreendedor deve ter o feeling para identificar as falhas em sua estratégia e poder reajustar o planejamento. É preciso parar, olhar novamente e avaliar as variáveis fundamentais para o desenvolvimento do negócio, porém com rapidez e agilidade. A essa mudança de rota o mercado dá o nome de pivotagem.
O termo é derivado do inglês “to pivot”, que significa mudar ou girar, e também tem referência no esporte, mais comum no futebol de salão e no basquete, onde o jogador que consegue a posse da bola é capaz de girar sobre o próprio eixo e encontrar uma nova oportunidade de jogada, ampliando suas chances de obter resultados positivos na partida. A técnica da pivotagem foi importada para o mundo dos negócios e passou a ser uma estratégia adotada principalmente por donos de startups.
Nesse universo da tecnologia, o termo significa, na prática, manter a base do negócio criado inicialmente, porém buscar alternativas que possibilitem resultados diferentes e mais eficientes. Segundo o norte-americano Eric Ries, empreendedor que incorporou o termo no mercado de startups, a técnica trata de saber medir o potencial do seu negócio e aprender a torna-lo mais eficiente aproveitando sua experiência e recursos já adquiridos. A pivotagem pode ser fundamental para transformar uma iniciativa interessante, porém malsucedida, em um negócio de relevância. É olhar para o mercado, avaliar concorrentes e clientes, sendo capaz de detectar novas oportunidades de crescimento e coloca-las em prática.
A pivotagem da Wappa
A Wappa, empresa que lidero desde sua fundação, em 2001, é um exemplo de sucesso da pivotagem. Ela nasceu com a proposta de oferecer a empresas o pagamento de vale-refeição de funcionários via SMS ou WAP (antigo navegador para celulares, que caiu em desuso após o surgimento dos smartphones). A ideia foi muito bem recebida pelos potenciais clientes que tínhamos naquela época, mas surgiu um problema: nossa tecnologia estava bem à frente da realidade do mercado, e quando percebemos que não conseguiríamos escalar o negócio a ponto de contar com a parceria de mais de dois milhões de restaurantes espalhados pelo país, resolvemos aplicá-la em outro segmento, o de corridas de táxi corporativo. Até então, o pagamento desse serviço era feito à base de papel e gerava enorme prejuízo às empresas simplesmente porque era muito difícil de ser gerenciado e controlado. Esse foi o nosso pulo do gato. Criamos uma plataforma que possibilita o gerenciamento desses custos de forma prática e digitalizada e hoje somos líderes no segmento corporativo com esse tipo de serviço e estamos evoluindo nosso posicionamento no sentido de nos tornarmos os maiores parceiros das corporações em gestão de custos e despesas.
Outros exemplos famosos de pivotagem que se tornaram conhecidos mundialmente são os casos do Youtube, que surgiu inicialmente como um site de relacionamentos por vídeo; o Flickr, que antes de ser uma plataforma para troca de fotos tinha o objetivo de abrigar interações online para RPG, e o PayPal, que de uma empresa de troca de dinheiro virtual – restrita a dispositivos handheld (como o antigo PalmTop) – tornou-se a maior ferramenta de pagamentos pela Internet em todo o mundo.
Assim, é importante que os empreendedores saibam que há uma alternativa quando o negócio pensado e planejado inicialmente não estiver dando certo. Não é preciso desistir de tudo e recomeçar do zero. Um replanejamento e uma mudança de rota são não só possíveis, como uma realidade frequente em um universo cada vez mais dominado pelas startups. Às vezes, você só precisa olhar melhor ao redor para fazer a melhor jogada.
Por Armindo Mota Júnior, CEO e fundador da Wappa, empresa nacional de Gestão de Custos e Despesas para o mercado corporativo