Por Tania Magalhães, Head de Comunicação do PayPal para a América Latina
Em um cenário de incerteza e tão polarizado, algumas instituições passam a ser percebidas com mais confiança do que outras – principalmente quanto a temas essenciais, como responsabilidade ambiental, social, equidade e tantas outras. Há cerca de duas semanas, a Edelman tabulou uma nova pesquisa sobre o assunto, para tentar entender o que se passa na cabeça de funcionários e funcionárias de empresas em sete mercados, incluindo o Brasil. E o resultado global é, no mínimo, curioso.
Trata-se de um relatório especial, chamado “Trust Barometer: The Belief-Driven Employee”, que destaca, entre outras coisas, que as empresas são as organizações mais confiáveis para 67% dos entrevistados. E quando a pergunta se refere à empresa na qual esse entrevistado trabalha, o índice sobe para 78%. Junto das ONGs (60%), são as únicas instituições confiadas globalmente. Governos (56%) e Mídia (55%) estão no patamar de neutralidade – nem confiáveis, nem não confiáveis.
Para nós, profissionais de Comunicação Corporativa, são dados que representam um crescimento gigantesco de responsabilidade. Ao mesmo tempo em que nos fazem pensar sobre como instituições tão importantes para as pessoas, como seus governantes e sua mídia, podem estar tão abaixo nesse ranking de confiança.
Em termos profissionais, o estudo traz dois itens que valem destaque: 62% dos pesquisados (foram 7 mil ao todo, 1.000 em cada mercado) afirmaram que, durante a pandemia, elevaram seu valor aos olhos do empregador. Como? Assumindo mais responsabilidades e aceitando mais tarefas. O ponto negativo disso: 43% dizem que as empresas nas quais trabalham não vêm levando a sério os sinais de burnout entre funcionários.
Isso significa o seguinte: as empresas que entenderem mais rapidamente as novas necessidades de sua força de trabalho estarão um passo à frente da concorrência. Segundo a pesquisa da Edelman, entre os respondentes que mudaram ou estão dispostos a mudar de emprego nos próximos meses, 59% estão em busca de empresas que estejam mais alinhadas aos seus valores, ou seja, empresas em que possam aprender de forma contínua, em que se sintam mais valorizados e que sejam mais engajadas socialmente e com uma cultura mais inclusiva – e aqui vale destacar uma comparação interessante permitida pelo estudo, segundo o qual apenas 31% dos entrevistados citam “melhor compensação ou avanço na carreira” como motivo para mudar de emprego.
Faz sentido, portanto, que 61% dos respondentes nos sete países escolham, saiam ou evitem uma empresa com base em suas crenças.
Outro ponto importante desse relacionamento entre funcionários e empresas é que, quando há consonância de valores e ideais, torna-se muito mais provável que os colaboradores recomendem essas empresas a outras pessoas (79 pontos no caso de funcionários movidos por seus valores contra 64 no caso dos não-movidos por seus valores). E essa motivação extra também faz diferença quando o assunto é recomendar produtos ou serviços produzidos por essas empresas (76 pontos no caso de funcionários movidos por seus valores contra 59 no caso dos não-movidos por seus valores).
Ou seja, a confiança também reflete em mais e melhores negócios, porque os funcionários mais engajados – leia-se mais leais e comprometidos – tendem a fazer mais do que se espera deles (esse índice bate os 78 pontos na pesquisa).
A Edelman concluiu que, levando em conta o aumento da confiança dos funcionários na empresa em que trabalham, é possível dizer que:
- Esses funcionários são, agora, o stakeholder mais importante – e influente. E, por isso, é preciso trabalhar para atender suas expectativas. Mais: os empregadores que não fizerem isso correm sério risco de enfrentar o chamado ativismo disruptivo, além de maior rotatividade de sua força de trabalho.
- A capacidade de causar verdadeiro impacto social é uma grande expectativa para a maioria dos funcionários – assim como para os candidatos a emprego. As empresas devem centralizar suas estratégias de negócios e marca em torno de questões sociais críticas, como saúde, meio ambiente e a trilogia diversidade, equidade e inclusão.
Todos esses temas fundamentais e urgentes para a nossa sociedade deveriam ser endereçados com ênfase por outras instituições importantes da nossa democracia. Afinal, como vemos, os números não mentem. E mostram os novos caminhos que surgem na sociedade. É questão de fazer a coisa certa.