‘Sondagem Omie das Pequenas Empresas’ revela que 51% dos empresários prevêem uma piora no mercado a curto prazo, contra 39% registados na última edição, em setembro
As pequenas e médias empresas (PMEs) estão mais pessimistas com a economia brasileira neste início de ano, revela a quarta edição da ‘Sondagem Omie das Pequenas Empresas’, realizada pela Omie, plataforma de gestão (ERP) na nuvem. Atualmente o Brasil conta com mais de 10 milhões de micro e pequenas empresas ativas, sendo cerca de 65% optantes pelo Simples Nacional. Esses segmentos desempenham um papel relevante na economia brasileira, tanto do ponto de vista da geração de PIB, quanto de vagas no mercado de trabalho.
Os dados apontam para um aumento no pessimismo das pequenas empresas quanto à evolução da economia brasileira no curto prazo, tendo em vista a alta das taxas de juros e o aumento das pressões inflacionárias no país. Entretanto, a maioria dos entrevistados segue com expectativas positivas com relação ao crescimento do faturamento e das contratações em seus próprios negócios nos próximos seis meses – cerca de 84% esperam avanço no lucro de seus negócios no período. Esse resultado, possivelmente, reflete uma perspectiva ainda favorável para a evolução do consumo doméstico, um componente essencial para o desempenho de diversas atividades do setor de pequenas empresas.
Para Felipe Beraldi, economista e gerente de Indicadores e Estudo Econômico da Omie, “o resultado positivo surpreende diante do cenário macroeconômico desafiador e das restrições de desaquecimento do mercado de PMEs, conforme indicado pelo IODE-PMEs nos últimos meses. No entanto, alguns fatores podem sustentar a visão otimista dos pequenos negócios em diversos segmentos, como a continuidade do crescimento da renda real do trabalho e o forte desempenho do comércio nos últimos meses”.
Mesmo com o otimismo para os próximos meses em seus próprios negócios, as pequenas já não sentem o mesmo sobre o ambiente econômico brasileiro. A constante elevação das taxas de juros pelo Banco Central e o aumento da inflação reforçam a percepção de uma desaceleração significativa do PIB em 2025. Como reflexo desse cenário, 51% dos empreendedores preveem uma piora na economia a curto prazo – aumento em relação aos 39% registrados na sondagem de setembro. Por outro lado, apenas 21% dos que esperam uma melhoria nos próximos meses.
Figura 1: Evolução da percepção de donos e gestores de pequenas empresas sobre o ambiente econômico doméstico Em relação à economia brasileira, qual é a sua expectativa para os próximos seis meses?
Fonte: Sondagem Omie das Pequenas Empresas.
Em relação ao mercado de trabalho, a sondagem traz expectativas positivas das pequenas empresas. O estudo revela que 43% dos entrevistados esperam abrir novas vagas nos próximos meses, percentual acima dos 37% coletados na sondagem de setembro/24. Além disso, 29% se mostraram propensos a buscar pessoas no mercado caso haja necessidade de ajustes da equipe atual e 28% não esperam realizar contratações a curto prazo – redução em comparação aos 36% do levantamento anterior.
Além das expectativas, a sondagem também busca compreender a situação atual das pequenas empresas. No que se refere ao faturamento, 52% afirmaram crescimento nos últimos meses, embora haja um equilíbrio significativo com aqueles que indicaram estagnação ou retração (48%). Esse movimento está em linha com os dados do IODE-PMEs, que registrou um crescimento modesto de 3% na comparação ano a ano no acumulado dos últimos seis meses até fevereiro de 2025. “As leituras recentes mais recentes do índice, a partir de dezembro de 2024, apontam para um desaquecimento do mercado, especialmente nos setores de Serviços e Indústria, o que reforça o elevado número de respostas no campo mais pessimista, de estagnação ou retração do prejuízo”, explica Beraldi.
Assim como no ano passado, os custos e despesas dos pequenos negócios aumentaram, segundo 80% dos participantes. A consistência das respostas entre as duas últimas edições está em linha com o cenário econômico atual, marcado por uma inflação pressionada e expectativas em alta.
Esse contexto, aliado a um mercado de trabalho aquecido e a um novo aumento real do salário mínimo neste ano, aumentou os custos com mão de obra para os pequenos empresários. Em março de 2025, o IGP-M acumulou alta de 8,6% nos últimos 12 meses, contrastando com a queda de 4,3% registrada no mesmo período de 2024.
Apesar dos desafios relacionados à pressão de custos, as pequenas empresas continuam contratando, ainda que de forma mais contida e com foco na programação de pessoas. Enquanto 54% das empresas realizaram admissões recentemente, apenas metade desse número corresponde à criação de novas vagas. Observa-se também um aumento gradual na parcela de empresas que não estão contratando, passando de 40% no primeiro semestre de 2024 para 46% nesta edição, o que pode sinalizar um cenário de maior cautela e ajustes estratégicos no setor.
Dores dos empresários
A última questão da sondagem foi direcionada para entender as principais dores dos pequenos empresários no mercado. Segundo eles, são: ‘taxas de juros elevados’ (que aumentaram de 41% dos entrevistados no ano passado para 45% em 2025), seguidas de ‘altos custos com mão de obra’ (que também cresceram de 41% para 45%) e ‘elevada competitividade no segmentos’ (42%) .
Figura 2: Quais elementos do mercado mais dificultam o crescimento da empresa?
Fonte: Sondagem Omie das Pequenas Empresas. ( Os resultados neste tópico refletem o percentual de escolha de cada opção de resposta, tendo como denominador o total de empresas respondentes da sondagem. Assim, a soma dos percentuais de respostas pode ser maior que 100%, considerando que cada respondente poderia escolher até três de resposta.)
Beraldi explica que esse resultado reforça a conjuntura econômica doméstica, marcada pelos aumentos da Selic pelo Banco Central e por um mercado de trabalho ainda resiliente (com rendimentos em reais em alta).
Por fim, o tema ‘falta de capital de giro’ ganha relevância, com alta de 30% para 36% nesta edição do estudo, enquanto a ‘fraca demanda do mercado’ diminui de 30% para 26%. “Esta perda de relevância do tema de ‘fraca demanda’ reforça a perspectiva de crescimento do lucro pelos donos e gestores de pequenas empresas no país, mas o aumento da relevância da menção de ‘falta de capital de giro’ confirma que as taxas de juros em níveis historicamente elevados e a seletividade dos bancos na concessão de crédito às pequenas empresas impactam o custo final do crédito para esses agentes”, afirma o economista.
A Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito (PTC), divulgada pelo Banco Central em fevereiro de 2025, revelou que as expectativas das instituições financeiras indicam um agravamento adicional nas condições de oferta de crédito em todos os segmentos.
A edição de quarta da ‘Sondagem Omie das Pequenas Empresas’ foi realizada com mais de 460 entrevistados do Simples Nacional, sobretudo tomadores de decisão (como CEOs, diretores, sócios e gerentes), para antecipar tendências do mercado, além de identificar as principais dores dos pequenos empresários do país. O período de coleta das respostas foi de 11/02 a 17/03 de 2025.
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