Por Mateus Baumer, Sócio da Bluelab
São Paulo, 07 de janeiro de 2019 – O surgimento de ferramentas e soluções criadas para facilitar e melhorar a vida das pessoas, principalmente aquelas cujos impactos são realmente significativos no dia a dia de todos nós, sempre trouxe, junto consigo, as consequências do mau uso dessas inovações.
O avião, por exemplo, criado com a finalidade de reduzir o tempo de trajetos e viagens longas ou, até então, impossíveis de serem realizadas, também vieram (e vêm) a ser uma das armas mais poderosas e destruidoras utilizadas nas guerras.
Isso acontece também com duas das invenções mais transformadoras da vida em sociedade dos últimos anos: a Internet e as redes sociais. São tantas e tão obvias as vantagens da internet em nossas vidas que não vale a pena elencar.
As transformações surgiram em uma velocidade sem precedentes na história da humanidade. Mas, muitas vezes em velocidade maior, cresceu o mau uso dessas inovações por pessoas que se aproveitam das mesmas facilidades para praticar roubos ou outras infrações que costumavam realizar antes do advento da vida virtual.
Nessa nova realidade, há alguns anos, as moedas digitais como Bitcoins chegaram como uma revolução descentralizada do dinheiro, mas ainda pouco usada no cotidiano das pessoas. Mesmo assim, as criptomoedas já foram usadas de maneira prejudicial à sociedade, como pagamento de sequestros, sendo apontadas como um problema.
Acontece que todos nós sabemos que sequestros existem há milhares anos, e sequestradores exigiam bens para libertarem suas vítimas. Não foi a tecnologia que “criou” esse mecanismo na sociedade. O que aconteceu foi que o sequestrador, em um passado não muito distante, substituiu o ouro e itens de valor por dinheiro estatal e, agora em alguns casos, por bitcoins.
Da mesma forma, as redes sociais e os aplicativos de mensagens – que modificaram de maneira profunda o modo como as pessoas se comunicam e se informam – têm sido catalizadores das tão famosas Fake News e, portanto, são crucificados como responsáveis por possibilitar sua disseminação.
O assunto ganhou muito destaque após os resultados das eleições presidenciais norte-americanas, onde muito se especulou sobre a influência das redes sociais na vitória do presidente eleito, Donald Trump. E voltou com tudo agora no Brasil, no pleito que elegeu o candidato Jair Bolsonaro como presidente do país.
Não há como negar que essas ferramentas aumentam de maneira muito significativa a divulgação de notícias falsas. Mas, com a Internet, todo tipo de informação e conhecimento circulam muito mais rapidamente, e de modo infinitamente mais abrangente, do que acontecia há cerca de 15 ou 20 anos.
Podemos ir ainda mais longe. Nos séculos 15, 16 e 17 houve, na Europa, a famosa “caça às bruxas”, perseguição que acontecia devido à crença de que era necessário punir e queimar pessoas que “supostamente” praticavam rituais. Agora, voltemos para 2018. Em agosto, quatro pessoas foram queimadas vivas no México por causa de boatos espalhados por celular sobre supostos roubos de crianças. Épocas totalmente diferentes em que esse tipo de barbárie não pôde ser contido. E ainda querem colocar a culpa na Internet, redes sociais e aplicativos de mensagens?
O que seria, sem dúvidas, desastroso acontecer em relação a qualquer uma dessas inovações é a fiscalização ostensiva pelo Estado sobre a circulação de informações e até mesmo censura. Isso porque, dessa maneira, estaríamos ferindo a liberdade de expressão da grande maioria em razão do mau uso dessas ferramentas por grupos restritos de pessoas que agem de má fé. Seria o mesmo que abrir mão de todos os benefícios trazidos, punindo todos os usuários pelo erro de alguns.
Então não haveria alternativas para minimizar os impactos das fake news? Sim, e elas já existem! E vêm do mercado! Neste caso específico, temos o exemplo de alguns veículos de imprensa que criaram, durante as eleições presidenciais, canais de checagem de informações que circularam de maneiras diversas a respeito dos candidatos e de suas propostas.
E como saber qual a melhor alternativa? Seguramente uma que seja única e obrigatória por força de lei não será, que é como o Estado age. Quando aparece um problema, o processo de mercado via empreendedores surge com diversas soluções, as pessoas adotam aquelas que acham melhores e elas competem entre si. Além disso, com o passar do tempo, outras iniciativas podem surgir, de acordo com as transformações pelas quais a tecnologia e a sociedade passam e com as naturais mudanças de opiniões de cada indivíduo.
Portanto, soluções que venham do mercado são, ainda, o único caminho ético e o melhor para que qualquer tipo de inovação cumpra seu papel de melhorar a vida dos indivíduos e para a evolução da sociedade.