O que aprendi colocando a agenda ESG em prática

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Por Juliano Tubino, vice-presidente de estratégia e Novos Negócios da TOTVS*

A ampliação do debate sobre a agenda ESG (Environmental, Social and Governance) é muito positiva para o mercado e, é claro, para a sociedade como um todo. Esta agenda, como não poderia deixar de ser, também foi acelerada pela pandemia, assim como a transformação digital das empresas. Para se ter uma ideia, os fundos ligados à pauta ESG cresceram 32% em ativos em 2020, somando R﹩ 8,8 trilhões, segundo levantamento da Bloomberg. Número recorde – e que tende a crescer.

No fim do dia, a ideia é gerar impacto para todos, sem deixar de olhar para a sustentabilidade de forma ampla – dos negócios ao Planeta. No entanto, acontece com este tema o que, muitas vezes, ocorre com tudo que se torna pauta do dia para a noite. Há uma tendência de que o debate se disperse e se esvazie, correndo o risco de tornar “ESG” uma expressão tão comum quanto inconsistente.

Para evitar que isso aconteça, penso que um dos principais caminhos é realmente aprender com quem faz. Erros e acertos podem e devem ser discutidos em benchmarks com negócios que tenham saído da teoria e entrado de fato na prática. Para garantir que este trajeto seja bem-sucedido, não podemos perder o foco em olhar para cada um dos pilares de forma genuína, contando com o apoio da liderança na execução de uma estratégia consistente e relevante.

A TOTVS tem sido uma escola incrível, como uma empresa de capital aberto, com um conselho independente e como empresa de tecnologia estarmos de certa forma conectada a todos os segmentos da economia brasileira, o dia a dia na governança e liderança da empresa tem sido uma demonstração prática dos benefícios e da prática ESG na condução dos negócios. A experiência da TOTVS tem me mostrado, na prática, caminhos para isso. Selecionei sete passos que têm se mostrado efetivos nesta trajetória de aprendizado constante:

Amplie o olhar: ESG não é só sobre sustentabilidade do meio-ambiente. É, também, sobre sustentabilidade do negócio e relações com investidores. A S&P Global Ratings prevê que a emissão de títulos sustentáveis e ESG deve alcançar captação de 700 bilhões de dólares em 2021. E a perspectiva é que o número siga crescendo, à medida que a discussão sobre a pauta também é ampliada. Por isso, é importante que a empresa fique atenta aos seus indicadores e garanta que o mercado tenha visibilidade dos movimentos por um negócio mais sustentável. A relação entre valor presente e valor futuro das empresas de capital aberto tem evoluído bastante onde o último, tem sido cada vez mais beneficiado quando a empresa consegue provar a sua relevância no mercado em que atua. E relevância é um atributo que tem seu valor multiplicado, quando associado a longo-prazo e sustentabilidade. Na TOTVS esse olhar é praticado em todos os momentos. Seja na nossa atuação em mais de 11 segmentos da indústria (trazendo colaboração entre eles e não sendo dependente de nenhum em específico em momentos difíceis da economia), seja na expansão dos nossos negócios para novas dimensões como serviços financeiros e business performance, onde se tornar cada vez mais relevante para nossos clientes, mercado e interlocutores e a força motriz dessa estratégia.

Assuma responsabilidade: a atenção ao papel social das empresas torna-se cada vez mais relevante. O estudo Edelman Trust Barometer 2021 mostra que 61% dos brasileiros consideram as empresas de instituições confiáveis, competentes e éticas. Os números são inferiores quando se trata das ONGs (56%), da imprensa (48%) e do governo (39%). Fica claro que a responsabilidade das empresas em oferecer caminhos para o desenvolvimento social, como por meio de parcerias ou mesmo de projetos próprios – como na área de educação e formação técnica, por exemplo, é cada vez maior. Na TOTVS, o exemplo mais latente é o IOS (Instituto de Oportunidade Social), que apoia e capacita de forma consistente e escalonável milhares de jovens para o mercado de trabalho de tecnologia. Fazemos isso há mais de uma década, aprimorando, com consistência, o impacto social que podemos trazer. Garanta que sua empresa se aproprie desta responsabilidade.

Use a tecnologia para reduzir o impacto ambiental: a produtividade das empresas de todos os portes está cada vez mais relacionada ao uso da tecnologia. Isso significa que adotar sistemas pode ajudar as companhias a terem uma visão mais completa da realidade de todo o processo, só assim é possível ser mais eficiente, reduzindo inclusive alguns impactos ambientais. Rever processos deve ser uma constante e, neste caso, o apoio de parceiros confiáveis e experientes pode fazer toda a diferença.

Torne seu Conselho de Administração diverso: para que a agenda ESG seja realmente colocada em prática, a liderança precisa estar engajada, incentivando o engajamento de todas as camadas da empresa e do ecossistema. Para garantir isso, a diversidade precisa permear todos os níveis, incluindo os conselheiros. Aqui estamos falando de organizar conselhos mais diversos, inclusivos e independentes para garantir um maior impacto na governança. Nosso conselho tem um equilíbrio muito bacana entre os 7 conselheiros da companhia (6 independentes), entre gênero, idade, experiência profissional e modelos mentais. E isso faz toda diferença! As agendas são mais dinâmicas, requerem um rigor maior e são mais ricas.

Crie um modelo de negócios sustentável: a forma como os negócios são conduzidos do pontos de vista de métricas e resultados diz muito sobre o impacto que geram. Recorrência e previsibilidade na receita, por exemplo, ajudam a construir uma trajetória de contribuição sólida para o mercado e para a sociedade. Para isso, não basta caminhar sozinho. Estratégias de parcerias e M&A, por exemplo, são uma realidade na TOTVS, e impulsionam uma cadeia maior que gera, é claro, resultados mais efetivos para todos.

Fique atento à resposta do mercado: prêmios e reconhecimentos nunca devem ser o objetivo de uma empresa, principalmente quando se trata da agenda ESG. Mas, com o mercado cada vez mais atento ao tema, receber respostas positivas pode ser um sinal de que se está no caminho certo. Mais do que isso, buscar fazer parte de rankings, anuários e ser benchmark é uma forma de expandir a agenda para o máximo de esforço possível. Os frutos colhidos com certeza serão relevantes.

Ouça seus clientes: ao longo das últimas décadas e, mais recentemente, com a discussão mais ampliada sobre a agenda ESG, os consumidores de diferentes indústrias também se tornaram mais atentos ao tema. Além disso, as redes sociais amplificaram exponencialmente esta discussão. E isso é bom. Poder ouvir as diversas vozes do mercado – com um olhar atento às respostas dos clientes – garante que a estratégia siga sempre o rumo correto, e que as mudanças de rota possam ser feitas com agilidade sempre que necessário.

Não existe uma fórmula secreta ou um “abracadabra” para colocar em prática uma agenda ESG nas empresas. Deixo aqui minha provocação. Será que estamos realmente sendo consistentes quando falamos desse tema? Aqui na TOTVS, por exemplo, temos um GT (grupo de trabalho) composto por profissionais de diversas áreas, formações e pontos de vista. O tema não fica só no board da empresa. As ações são consistentes, genuínas e acompanhadas dia após dia por esse grupo. Essa pode ser uma ação viável para sua empresa também. Seguimos na torcida por esse tema e acompanhando de perto o movimento do mercado.