O desafio da interoperabilidade para o mercado de pagamentos móveis

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Por Felipe Regis Lessa*

Não é a primeira vez que o setor de pagamentos ou mesmo de telecomunicações discute o desafio da interoperabilidade. Primeiramente, foi a integração das maquininhas (POS). Com o fim da exclusividade das operações de cartões entre bandeiras e credenciadoras, o consumidor passou a poder pagar suas compras com cartão de débito ou crédito em qualquer estabelecimento que possuísse uma máquina POS, independente da bandeira. No setor de telecomunicações, a primeira integração de sistemas se deu com as mensagens SMS. Sim, já existiu uma época em que era impossível enviar mensagens de texto para números de operadoras diferentes! No pagamentos móveis, o desafio agora é encontrar a melhor forma de integrar as soluções desenvolvidas por operadoras de telecomunicações, empresas de processamento de cartões e bancos de modo que o cliente consiga realizar transações interbancárias e concretizar compras em diferentes aplicativos e carteiras digitais.

Apesar de ser uma das metas da Lei 12.865 que regulamenta os pagamentos eletrônicos no Brasil, a interoperabilidade dos sistemas de pagamentos móveis ainda deve demorar algum tempo para se tornar realidade, apesar de não haver dúvidas sobre os benefícios para toda a cadeia de pagamentos móveis e, principalmente, para o consumidor. Nesse primeiro momento, um dos grandes entraves dessa integração é justamente a competição por mercado e espaço dentro do segmento móvel. As operadoras de telefonia celular, os bancos e as bandeiras de cartão de crédito ainda estão lutando para conquistar e demarcar seu território nesse mercado que engatinha, mas que tem projeções significativas para os próximos anos. A consultoria americana Frost & Sullivan, por exemplo, estima que o total de usuários cadastrados para acessar os serviços de pagamentos móveis no Brasil deva chegar a 80 milhões até 2018.

Contudo, uma peculiaridade do mercado brasileiro, e que pode atenuar essa falta de conversa de sistemas, é o fenômeno dos aparelhos multiSIMcard. Da mesma forma que existem pessoas com duas ou mais linhas pré-pagas diferentes no mesmo aparelho, poderá, em um breve período de tempo, haver pessoas com duas ou mais carteiras móveis no mesmo telefone, usando SIMcards de diferentes operadoras. Importante destacar que a participação de aparelhos multiSIMcard chega a 18%, entre smartphones e featurephones.

Além de benéfico para toda a cadeia de pagamentos móveis, a interoperabilidade poderá também ajudar as instituições financeiras a se aproximarem dos cerca de 55 milhões de brasileiros desbancarizados, permitindo que, por meio de um celular ou smartphone, as pessoas possam pagar contas, transferir dinheiro, realizar compras online, entre outros.
Não restam dúvidas que os pagamento móveis são uma forte tendência e que vieram para ficar, porém o mercado precisa buscar soluções que conversem entre si e que agreguem mais que comodidade a seus clientes, mas um serviço útil e que se tornará indispensável nos próximos anos.

*Felipe Regis Lessa é diretor de produtos e marketing da Pagtel, uma das primeiras empresas de pagamentos móveis do país.