Mulheres não ocupam cargos de diretoria em 50% das empresas listadas na B3, aponta pesquisa

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Em meio à crescente conscientização sobre os impactos ambientais, sociais e de governança nas operações corporativas, boa parte das empresas brasileiras já relata de forma voluntária as práticas ligadas à agenda ESG. Segundo o Anuário “ESG Disclosure Yearbook Brasil 2024”, elaborado pela agência de classificação de risco Bells & Bayes Rating Analytics e que analisa, por meio de mais de 70 data points, o perfil de 191 companhias listadas no Novo Mercado da B3, em 50% das empresas as mulheres não estão presentes na diretoria; enquanto que no conselho de administração o índice é de 27%.
 

“A diversidade, entendida como a presença de pessoas tecnicamente habilitadas, com diferentes origens, experiências, habilidades e perspectivas na alta administração, exerce papel fundamental na criação de valor econômico e no impulsionamento da inovação e do desempenho empresarial”, destaca o relatório, que, ao mesmo tempo, identifica nas informações divulgadas por diversas empresas discursos vagos, sem posicionamentos objetivos a respeito do tema.
 

A pesquisa também detectou que 82% das companhias analisadas informaram não possuir, ou não mencionaram, objetivos específicos voltados à diversidade de participantes na alta administração. Na avaliação de Wesley Mendes, principal autor do Anuário, o cenário deve começar a mudar em breve.
 

“Ao longo dos próximos dois anos, as empresas terão de adequar a novas obrigações impostas pela B3 quanto à composição da administração, adotando critérios de diversidade ao elegerem os membros da sua alta gestão, indicando ao menos uma mulher (considerada qualquer pessoa que se identifique com o gênero feminino) e/ou um membro de comunidade assumida como sub-representada (assim entendido como qualquer pessoa que seja ‘preta’, ‘parda’ ou ‘indígena’, integrante da comunidade LGBTQIA+, ou pessoa com deficiência), para cargos de titulares do conselho de administração ou da diretoria estatutária.”
 

O levantamento da Bells & Bayes revela uma série de outros achados, entre eles, que 63% das organizações do país publicaram algum tipo de relatório de sustentabilidade em 2022. No entanto, apenas 29% tiveram os dados auditados ou assegurados externamente. “Em um contexto no qual os investidores levam cada vez mais em consideração as informações ESG para tomada de decisão na hora de alocar capital, o estudo sugere que a falta de verificação externa, capaz de inibir a propagação de relatos equivocados e a promoção do greenwashing, tende a despontar como desafio a ser superado internamente, principalmente porque, a partir de 2027, a divulgação deve torna-se obrigatória”, afirma Mendes.
 

Desde novembro do ano passado, pontua o pesquisador em inovações financeiras, vigora no Brasil a Resolução nº 59 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), voltada à uniformização do reporte de ESG por parte de empresas e fundos, iniciativa pioneira no mundo.
 

Outras conclusões do “ESG Disclosure Yearbook Brasil 2024” incluem:

● 24% das empresas informaram que consideram aspectos ESG na remuneração da alta administração;

● 70,7% (135) informaram considerar oportunidades ESG em seu plano de negócio, com destaque aos setores de petróleo e gás (90%) e utilidade pública (92%).

● 64% (132) das Companhias seguem GRI (Global Reporting Initiative) em termos de padrões e frameworks para apresentar relatórios de sustentabilidade.

● 20% das Companhias não informam exposição a riscos de ordem social, em termos de aspectos ambientais esse percentual é 17%, e 23% para aspectos climáticos. Isto é, em torno de 40 Companhias não dedicam atenção a reportar riscos nessa agenda.

● O oferecimento de dados e informações uniformizadas, regulares e consistentes ao agente regulador por parte das empresas listadas permitirá o desenvolvimento de pesquisas futuras acerca da contribuição dos fatores ESG para o desempenho das companhias, além de servir como driver às decisões de (des)investimentos.

Método e coleta de dados do ESG Disclosure YearbookBrasil 2024: foram considerados inicialmente os Formulários de Referência (FRE) de todas as 193 Companhias listadas no Novo Mercado no início de março de 2024. Para 191 dessas (99%) foi viável acessar o FRE arquivado nos sistemas da CVM, mediante consultas realizadas entre 18/mar 2024 e 08/abr 2024, acessando a última versão do FRE disponibilizada pela companhia. Predominam empresas do setor de consumo cíclico (30%).