Em 2023 já foram realizadas 24 transações de M&A envolvendo empresas de geração de energia limpa; bom desempenho do setor e regulamentação interna dos ativos ambientais devem impulsionar atração de financiamentos sustentáveis ao país
O potencial brasileiro para a geração de energia limpa e a regulamentação dos ativos ambientais no mercado interno devem atrair mais investimentos verdes ao Brasil e impulsionar atividades de fusões e aquisições (M&A) no setor de energias renováveis, que já vem crescendo nos últimos anos. Em 2022, o volume de M&A envolvendo empresas do segmento cresceu 58%, chegando a 49 operações. Para 2023, a tendência é seguir neste ritmo, uma vez que foram concluídas 24 transações até meados de agosto, segundo um levantamento da Redirection International, consultoria especializada em assessoria de M&A e desenvolvimento corporativo.
“A busca por soluções mais sustentáveis para resolver as questões climáticas está acelerando a transição para uma economia verde em todo o mundo e, aqui no Brasil, as corporações estão dando mais atenção à agenda ESG, incorporando as boas práticas de sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e de governança às suas atividades”, destaca o economista e sócio da Redirection International, Adam Patterson.
Ele alerta que, do ponto de vista das fusões e aquisições, as indústrias e as empresas que apresentam as melhores métricas ESG, em geral, atraem mais a atenção dos investidores. “A corrida global por produtos mais sustentáveis e energia de baixo carbono abre um universo de possibilidades para as empresas e, como sempre, as transações de M&A são um caminho interessante para explorar, tanto para aquisições de ESG, quanto como forma adicional de se pensar as fusões e aquisições, como alvos, avaliação, due diligence e integração, por exemplo”, afirma Patterson.
E não é somente no mundo corporativo que a agenda ambiental tem ganhado mais espaço no Brasil. O poder público também corre contra o tempo para criar mecanismos de regulação interna dos ativos ambientais. Uma das iniciativas, em discussão no Congresso Nacional, é a regulamentação do mercado de crédito de carbono, que estabelece limites para a emissão de gases pelas empresas e cria novas regras para compra e venda dos créditos. Além disso, o Comitê Soberano de Finanças Sustentáveis, criado pelo governo federal em maio deste ano, deve fazer ainda em setembro a primeira emissão de títulos públicos verdes no mercado internacional.
De acordo com uma projeção da Global Market Insights, a economia sustentável deve crescer 22,4% nos próximos dez anos e chegar a US$ 30,9 trilhões em 2032. “É um mercado que está em plena expansão e deve crescer muito nos próximos anos. Governos de todo o mundo, incluindo o Brasil, estão criando regulamentações e políticas próprias para incentivar as práticas sustentáveis e isso é muito positivo para desenvolver um ambiente de negócios favorável para as atividades de M&A, trazendo mais segurança jurídica aos investidores”, destaca Patterson.
Protagonismo brasileiro
Além do segmento de energias renováveis, outros setores ligados à economia verde que devem continuar ativos para as atividades de M&A no Brasil são da agricultura, de saneamento básico e gestão de resíduos, de serviços financeiros, de tecnologia da cadeia de abastecimento, da saúde e da educação. “O Brasil apresenta um potencial enorme de atração de investimentos externos para projetos sustentáveis, devido principalmente à grande biodiversidade e à matriz energética limpa e renovável. Segundo um levantamento de 2021 do Programa de Investimentos Verdes no Brasil (BGFP), a demanda para obras de infraestrutura neste segmento é de R$ 3,6 trilhões para os próximos 20 anos”, destaca Adam Patterson.
Outros fatores que colocam o Brasil no radar dos investidores internacionais são os recursos naturais, a abundância da agricultura e silvicultura, as oportunidades do mercado de carbono, o crescimento da bioeconomia e economia circular, a adoção de uma política de uso sustentável da terra na Amazônia, a criação de programas de investimentos e fundos verdes para projetos de sustentabilidade e o compromisso do país com as questões climáticas internacionais.
Para debater o protagonismo do país na transição para uma economia verde, o associado da Redirection International no Reino Unido, Simon Davies, realiza no próximo dia 26 um evento em parceria com a Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha. “Estamos atuando em várias frentes para ampliar a visibilidade do mercado brasileiro e apresentar aos investidores internacionais as oportunidades de financiamentos sustentáveis. Ao mesmo tempo em que participamos de eventos no exterior, atuamos de forma bastante próxima à indústria nacional em feiras e congressos aqui no Brasil, para identificar as possibilidades de M&A com empresas estrangeiras”, destaca o diretor da Redirection International, João Caetano Magalhães.