M&As no Brasil movimentam US$ 28 bilhões em 2022 e voltam ao patamar pré-pandemia

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Levantamento da Bain & Company aponta que, apesar da queda de 43% no volume de fusões e aquisições em comparação com o ano recorde de 2021, 2022 esteve em linha com a média do período pré-pandemia

O cenário macroeconômico global tem se mostrado cheio de incertezas e no Brasil os sinais de alerta não são diferentes. Com a entrada de um novo governo no Palácio do Planalto, os executivos sabem que mudanças políticas substanciais podem ser implementadas no país. Dado o momento de volatilidade, a melhor opção é sistematicamente traçar planos para os diversos cenários que podem ocorrer. Seja o crescimento de investimentos externos ou a alta na inflação causada por um aumento na dívida do governo, há uma extensa gama de perspectivas para a economia brasileira, prevê a Bain & Company.

Como muitos outros países, o Brasil vivenciou o amplo crescimento de fusões e aquisições em 2021, quando o país alcançou um valor recorde de US$ 49 bilhões negociados. Já em 2022, o setor vivenciou uma queda de quase 43%, com um total de US$ 28 bilhões, segundo levantamento da Bain. Mesmo com a desaceleração e uma redução no número de grandes aquisições (negócios avaliados acima de US$ 5 bilhões), os valores gerais de M&A permaneceram em linha com os níveis pré-pandemia.. 

Em relação ao perfil das transações, 79% dos negócios foram acordos de escala, enquanto 21% representaram os acordos de escopo. Um crescimento significativo, uma vez que, em 2019, os acordos de escopo representaram apenas 5% do total. Ainda é menos que a média global, onde transações de escopo são cerca de 50% das fusões e aquisições, mas é um sinal de que as empresas brasileiras estão descobrindo os benefícios desses negócios. 

Dois tipos de negócios foram particularmente populares em 2022: aqueles em que uma empresa comprou um fornecedor, cliente ou parceiro para controlar melhor a cadeia de valor; e acordos para recursos digitais. Um exemplo foi a maior aquisição de 2022, um acordo de escopo no qual a Rede D’or comprou a seguradora SulAmérica por cerca de US$ 3 bilhões, unindo a maior rede hospitalar brasileira a uma das principais seguradoras independentes do país. 

Em 2022, dois setores representaram 66% do valor das fusões e aquisições no Brasil: energia e recursos naturais e manufatura e serviços. Em 2021, o destaque foram os negócios de saúde e varejo, numa mudança que reflete as preocupações do mercado sobre a ambiguidade econômica do país. Agora, enquanto empresas se preparam para um futuro incerto, é provável que a maior parte dos negócios ocorra em setores mais dependentes de exportações (como energia e recursos naturais) do que do consumo doméstico.

O investimento estrangeiro é outro grande fator nas perspectivas de M&A no Brasil. Em 2019, na pré-pandemia, 67% dos negócios do país foram alimentados por capital externo. Essa parcela agora é de 25%, indicando falta de confiança internacional no futuro econômico do Brasil – apesar de ter subido, pois alcançava apenas 17% em 2021. 

Por outro lado, alguns negociadores estão otimistas com o retorno do investimento estrangeiro. Um dos fatores é o Brasil ter controlado a inflação mais rapidamente do que muitas outras grandes economias, em grande parte porque possui ampla experiência no combate às pressões inflacionárias com um banco central relativamente ágil. Além disso, alguns investidores americanos e europeus podem ver o Brasil como uma alternativa geopoliticamente mais estável para investir do que muitos países da Ásia em desenvolvimento. Por fim, uma potencial agenda ecologicamente correta do novo governo pode tornar o país mais atrativo, com um aumento adicional nos investimentos externos.

Diante das diversas incertezas sobre as perspectivas do mercado brasileiro, os profissionais de M&A devem fazer negócios com mais cuidado do que nunca e as avaliações baseadas em sinergias de receita estarão sob maior escrutínio. Isso torna ainda mais importante realizar uma extensa diligência do mercado e do negócio que será adquirido, considerando vários cenários.

As empresas mais preparadas vão usar o planejamento para, primeiro, ajudá-las a entender as situações em que devem comprar, manter ou vender. Em segundo lugar, se a resposta for comprar, deve ser realizada uma diligência que considere diferentes cenários, permitindo aos potenciais compradores ajustar suas avaliações de acordo com sua visão de futuro – o que também vai ajudá-los a se posicionar melhor nas negociações.