Mais empáticas e assertivas: especialista aponta vantagens competitivas da presença feminina no setor de tecnologia

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As mulheres ainda são minoria no segmento, principalmente em posições de liderança

Rafaela de Campos, CEO da Academia do SaaS

Levantamento da Ipsos, empresa independente de pesquisa de mercado, mostrou que três a cada 10 pessoas não se sentem confortáveis em ter uma mulher como chefe no Brasil. Não é à toa que elas ocupam apenas 37% das cadeiras de liderança em todo o mundo, segundo estudo do Fórum Econômico Mundial. E em alguns setores, como o de tecnologia, essa diferença é ainda maior. No Brasil, apenas 0,07% do total de profissionais nesse segmento são mulheres, apontam dados do Serasa Experian. Apesar da desigualdade, de acordo com a ONU, empresas conduzidas pela liderança feminina têm resultados até 20% melhores.
“Mesmo com a desigualdade que ainda se apresenta, somos mulheres fortes e conquistamos nosso espaço. Não é coincidência que, cada vez mais, estamos ocupando cargos de destaque como CEOs, promovendo um ambiente mais colaborativo e inovador”, afirma Rafaela de Campos, CEO da Academia do SaaS – escola focada em liderança, gestão e estratégia para empresários e negócios de software como serviço e serviço como software.

Para a especialista, as vantagens da presença das mulheres na área de tecnologia são muitas. “Nossas características específicas nos tornam altamente competitivas. A empatia, por exemplo, é essencial para desenvolver produtos e softwares que atendam melhor ao usuário. A sensibilidade feminina permite compreender as necessidades do outro, algo decisivo na criação de projetos completos, mais acolhedores e adequados ao contato humano. Além disso, possuímos um entendimento profundo das pessoas e tomamos decisões estratégicas assertivas, gerando resultados expressivos, especialmente em áreas como marketing e vendas”, enfatiza.
E a disparidade entre homens e mulheres se torna ainda maior quando chega a maternidade, como confirma a pesquisa realizada pela London School of Economics and Political Science (LSE) em parceria com a Universidade Princeton. O estudo comparou a condição de trabalhadores de perfil similar em 134 países, com e sem filhos, e constatou que a chegada do bebê impacta diretamente na trajetória das mães: 24% deixam o emprego no primeiro ano e 15% permanecem afastadas depois de uma década. No Brasil, é ainda pior, 42% das novas mães deixam suas ocupações e 35% continuam sem trabalho.
“A maior barreira que impacta o trabalho das mulheres em qualquer setor é a maternidade. Além de exigir fisicamente e mentalmente, o tempo dedicado aos filhos ainda é visto como redução da produtividade. Por mais que eu não concorde com essa percepção, essa é a realidade que o mercado enxerga”, pontua Rafaela. Durante a carreira, a administradora e empresária ocupou posições de destaque como Conselheira Municipal de Inovação de Maringá, Presidente da Câmara Técnica de TI do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá (CODEM) e Diretora Regional da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação do Paraná (Assespro-PR) e há três meses tornou-se mãe.

Para ela, o setor de tecnologia, apesar de ser desafiador, proporciona algumas comodidades para as mães. “Uma maior flexibilidade de horários e de formato de trabalho como home-office, por exemplo, que acaba colaborando nessa fase e permitindo estar próxima dos filhos são algumas”, explica Rafaela.

Inclusive, Rafaela afirma que o setor abraça muito mais as profissionais nesse período. “As barreiras sempre vão existir. Afinal, são as mulheres que têm os bebês, amamentam e passam por esse turbilhão de emoções e transformações que acontecem com a maternidade. Mas é importante destacar que, apesar da área ser majoritariamente ocupada por homens, elas são acolhidas neste momento em que precisam dar mais atenção à família e a carreira acaba ficando em segundo plano. Além disso, é um trabalho intelectual que pode ser realizado à distância, sem impedimentos, e o olhar e a competência feminina devem ser valorizados”, ressalta.

Mesmo com as dificuldades que possam surgir, a especialista encoraja: “a maternidade, a vida profissional e o empreendedorismo podem coexistir, só é preciso estratégia. Acredito que não devemos desistir pois, a cada desistência, perdemos espaço e corroboramos as estatísticas”, finaliza.