Por Rodolfo Fücher, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software
Diversos estudos e pesquisas apontam uma forte tendência para o amadurecimento do empreendedorismo no Brasil, acelerada pelo movimento de transformação digital e que trouxe como bagagem a “febre global das startups”. E, mais recentemente, exponencializada pela pandemia, levando a uma corrida desesperada por inovação, como forma de assegurar a sobrevivência do negócio. O título deste artigo talvez dê uma dica para a resposta de uma simples pergunta: qual é o caminho mais curto e rápido nesta corrida em busca de inovação, com menor risco? E se você não for rápido, talvez seu concorrente seja.
Duas pesquisas do GEM (Global Entrepreneurship Monitor) realizadas com apoio do IBQP e Sebrae, uma de 2001 e outra de 2019, demonstram o processo de evolução do empreendedorismo no Brasil, que saiu de uma taxa de 14,2%, onde de cada 100 brasileiros, 14 eram empreendedores em 2001, para a taxa de 38,7% da população adulta – aumento de mais de 270%. Outro estudo que deixa claro o momento propício ao empreendedorismo, mas especificamente às startups, são os dados apresentados em relação aos investimentos em startups no Brasil, pela Distrito Dataminer, apontando um crescimento de 17% em relação a 2019, atingindo a cifra de US﹩ 3.5 bilhões em 2020.
Esse crescimento significativo do mercado de empreendedorismo acaba gerando um imenso mercado de fusões e aquisições, que movimentou US﹩ 52,1 bilhões no primeiro semestre de 2021, superando os US﹩ 45,9 bilhões gerados durante todo o ano de 2020, segundo a Dealogic, que coleta dados do mercado financeiro. Um estudo global da consultoria EY sobre o desinvestimento corporativo, aponta que 95% dos negócios que foram alvo de aquisições admitem que deveriam ter vendido o negócio antes.
Estes dados fortalecem ainda mais a tendência de M&A no mercado, até como uma opção de exit para investidores. Diante do crescente volume de investimentos em startups, M&A passa a ser uma saída mais rápida para o investidor, ao invés de esperar 10 anos, em média, por um IPO.
Essa tendência é confirmada por uma recente pesquisa publicada pela ABES em parceria com a BR Angels e a Solstic Advisor, referente a percepções sobre fusões e aquisições no atual cenário do mercado brasileiro. Ela apontou que 86% dos empreendedores entrevistados veem fusão ou aquisição como forma para o crescimento do negócio, e 50% pretendem realizar alguma transação neste sentido nos próximos 12 meses.
O mesmo estudo também revelou a necessidade do mercado de adequar seus negócios à nova realidade, diante dos desafios da pandemia, fortalecendo o cenário para fusões e aquisições, especialmente no setor de TI, o qual mostrou que 50% aumentaram os investimentos neste setor. Destes, 85% investiram em softwares, como SaaS e Cloud, 40% em hardware e equipamentos e 39% em serviços, como manutenção e instalação.
O setor de tecnologia deve continuar a ter destaque, ainda segundo o estudo da ABES em parceria com a BR Angels e a Solstic Advisor, devendo ser responsável por 66%, e-commerce 5,7% e logística 5,7%. O estudo apontou ainda: que 36% dos entrevistados pretendem investir entre R﹩ 1 milhão e R﹩ 5 milhões em aquisições; 17% planejam aplicar entre R﹩ 5 milhões e R﹩ 15 milhões e 9% consideram valores entre R﹩ 30 milhões e R﹩ 50 milhões. Cerca de 4% afirmaram que devem aportar mais de R﹩ 50 milhões.
Outra conclusão é que os esforços voltados a fusões e aquisições devem ganhar destaque ao longo dos próximos dois anos. 24% pretendem implementar um programa de Corporate Venture para investir ou adquirir negócios externos iniciantes. Porém, 75% ainda não tem uma área de M&A estruturada na empresa.
Na hora de realizar uma transação de M&A, cerca de 64% avaliam o modelo de negócio da empresa a ser investida ou adquirida. Além disso, os executivos também dão importância a escalabilidade, inovação, saúde financeira, equipe e liderança, como principais pontos a serem analisados no processo.
Interessante analisar as razões que a pesquisa apontou como principais motivadores para considerarem uma operação de fusão ou aquisição: em primeiro lugar, aparece a possibilidade de aumentar o market share com cerca de 43%, seguido pela necessidade de incorporar tecnologias com 36%, a aceleração da transformação digital e inclusão de talentos com 21%.
Diante de um mercado cujo a dinâmica da transformação digital foi potencializada devido a pandemia, a busca por soluções inovadoras e disruptivas, considerada um fator competitivo, tornou-se uma questão de sobrevivência. As startups passaram a ser principal fonte destas soluções, como também a necessidade de unir forças para enfrentar os desafios deste ambiente. Por outro lado, a ânsia dos investidores em agilizarem o retorno de seus investimentos (exit) tornam as operações de fusões, M&A, o caminho mais seguro e rápido, para não serem defenestrados do mercado por um concorrente mais ágil e ávido em ocupar um espaço.