Por Claudio Grando
A indústria têxtil e de confecções, uma das mais antigas do Brasil, vive uma dicotomia: o setor presencia o aumento da concorrência de produtos importados, com consequente queda das receitas. Mas, para fazer frente a essa questão, o setor precisa investir em tecnologia de forma a se tornar cada vez mais eficiente e competitivo. Tal situação fica evidente quando analisamos os recentes números divulgados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
Segundo a entidade, as expectativas trazidas pela realização da Copa do Mundo foram frustradas. Em levantamento pelo Siscomex/MDIC, comparando-se a atual Copa com o evento realizado em 2010, o volume de importação de camisetas de malha mais que dobrou nos períodos idênticos de janeiro a maio, de 1,46 mil toneladas para 3,1 mil toneladas. Informação oficial da Associação de Fabricantes e Exportadores de Artigos Têxteis de Bangladesh dá conta de que as vendas deste ano de camisetas subiram 14% em função do mundial.
Ainda de acordo com a ABIT, de janeiro a abril deste ano, ocorreu uma queda de 6,9% no segmento têxtil e crescimento de 0,8% no vestuário, na comparação com igual intervalo anterior. A questão que se impõe diante desse quadro, é de que, cada vez mais, a indústria brasileira precisa aumentar sua competitividade de forma a fazer frente aos produtos importados, cujos preços são muito mais atrativos para artigos com menor valor agregado.
Nossa indústria demonstra um perfil variado. Há desde empresas modernas e altamente competitivas em nível internacional até as mais sucateadas. Tal situação está relacionada ao histórico protecionista do governo. Por muito tempo, o mercado brasileiro foi marcado pela proibição das importações, o que levou a nosso atraso tecnológico. Somente na década de 90, é que a situação mudou e, com abertura econômica, as pequenas e médias empresas, que atuavam no mercado interno e exibiam uma tecnologia defasada, depararam-se com a concorrência externa e a competição que, desde lá, só se intensifica.
O fato é que a concorrência externa está aí e, portanto, a modernização não é mais luxo, mas sim questão de sobrevivência. O investimento na atualização do parque industrial pode parecer alto num primeiro momento, ainda mais quando o empresário se depara com queda das receitas e de suas margens. Entretanto, os que acompanham o segmento percebem que o retorno é rápido, diante da maior eficiência, melhor qualidade dos produtos e aumento de produção.
A boa notícia é que existem soluções acessíveis para empresas de qualquer tamanho. Os avanços da tecnologia tornam possível reduzir os desperdícios de tecido, aumentar a produtividade, reduzir o tempo de produção e valer-se do conceito de fast fashion, que é uma alternativa para o mercado brasileiro responder com rapidez à concorrência dos importados. É possível produzir moda com custo mais baixo e qualidade superior à que vemos no mercado atual. Para isso, não é necessário fazer uso de mão de obra escrava, mas sim aprimorar a produção por meio do uso das tecnologias hoje disponíveis no mercado.
* Claudio Grando é sócio-diretor da Audaces, empresa especializada na criação de tecnologias para a moda, e presidente do Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC).