Indústria busca o modelo ideal do 4.0

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A principal conclusão do Summit 4.0, promovido pela Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil, em sua sede em São Paulo, é de que toda a tecnologia envolvida na transformação digital, que nos levará ao modelo da indústria 4.0, se destina a um só objetivo – tornar a vida das pessoas mais agradável e produtiva. A tecnologia a serviço do homem é um consenso. Durante o encontro, vários especialistas no assunto mostraram como a automação, a tecnologia e os novos conceitos melhoram a eficiência das empresas e, por consequência, facilitam as tarefas diárias.

Participaram do Summit 4.0 especialistas como Bruno Jorge Soares, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial; Mauricio Finotti, da Associação Brasileira de Internet das Coisas; Rafael Rapp, da HP Brasil; Nicole Augustowski, da Here Mobility; Fausto Padrão Jr., da Coca-Cola Andina; e Sergio Gama, da IBM; além de um público qualificado de mais de 100 pessoas. Entre os temas expostos, o debate começa pelo desafio que o Brasil tem pela frente, que é integrar sistemas e promover a interoperabilidade entre eles para que a indústria 4.0 esteja habilitada. Para Bruno Jorge, coordenador do programa de Indústria 4.0 da ABDI, “o país deve transpor as barreiras que uma indústria diversificada como a do Brasil ainda enfrenta como, por exemplo, alto custo de implantação, dificuldade de medir o retorno do investimento, além da mudança de toda a estrutura e da cultura das empresas”. Segundo Bruno Jorge, a agência trabalha com os planos de Agenda 4.0, Plano IoT, Pró-futuro e Brasil 2027, com a finalidade de incentivar as empresas.

Os robôs colaborativos não devem causar temor ou eliminar empregos, de acordo com a opinião de Mauricio Finotti, coordenador do Comitê de Manufatura da Abinc. “Eles vão colaborar com os profissionais em tarefas repetitivas e fazer evoluir nossa capacidade de integrar sistemas físico-digitais.” Finotti citou exemplos que já estão colaborando com a evolução das profissões como as realidades virtual e aumentada possibilitando a indústria 4.0 na medicina, na agroindústria, na manufatura e, por fim, na Internet das Coisas – o tudo conectado a tudo. Para ele, o maior desafio será a segurança na imensidão dos dados que trafegam pelos sistemas.

Se a integração é a meta da Indústria 4.0, essa é a bandeira da Here Mobility, empresa que nasceu para mudar as tendências da mobilidade urbana. “O futuro da mobilidade é integrar os meios de transporte à demanda; ou seja, quando uma pessoa precisa, o transporte já está disponível”, acredita Nicole Augustowski, responsável por desenvolvimento de negócios da Here Mobility. A empresa aposta em uma projeção da McKinsey para o mercado de mobilidade urbana, na qual calcula que até 2030 a receita da mobilidade urbana compartilhada atinja $ 1,3 trilhão de dólares. Com vistas nesse potencial, a Here Mobility investe em uma plataforma que agrega todas as opções de mobilidade para o usuário, as empresas e os prestadores desse serviço. “Se as empresas gerenciarem facilmente uma plataforma de mobilidade e incentivarem seus funcionários a compartilhar viagens e usar serviços de vans, isso vai gerar uma enorme economia e ações de sustentabilidade”, explica Nicole.

Não há modelo – Cada empresa deve projetar seus processos e a gestão para a era digital. “Cada empresa deve encontrar seu modelo de Indústria 4.0”, analisa Fausto Padrão, gerente de Engenharia da Coca-Cola Andina. Ele acredita em mudança no processo interno da indústria para se repensar a gestão. “Tudo que é digital gera dados, que devem se transformar em negócios sob os princípios da era 4.0: tempo real, descentralização, modularidade, interconectividade, orientação a serviços e cadeia de valores.” Essas mudanças dependem, segundo Fausto, da inteligência gerada a partir das informações que vão conectar as máquinas e dispositivos.

Essa opinião pode ser comparada, por exemplo, à apresentação de Sergio Gama, membro do Conselho de Tecnologia da IBM e líder da empresa na América Latina. “O consumidor tem o poder nas suas mãos e o imediatismo é seu novo hábito” é uma das frases marcantes ao explicar a capacidade que as pessoas têm ao gerar uma infinidade de dados por meio de smartphones e impelir a indústria a criar produtos e serviços para atender a uma demanda que exige inovação a cada dia. “Um mar de dados é ao mesmo tempo o combustível e o resultado da transformação digital”, explica o especialista.
A conclusão se reforça no estudo que produziu o Índice de Automação do Mercado Brasileiro, calculado pela Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil e a GfK Brasil. A partir de entrevistas realizadas com 2,7 mil consumidores em todo o país, se concluiu que a média é de 11 aplicativos instalados nos smartphones, dos quais 83% destinam-se a compras e vendas de produtos. Já no segmento de serviços, 78% são usados para mobilidade urbana; 73% para mobile banking; e 33% para pedidos de refeições. Ou seja, o consumidor quer inovação a seu serviço e é isso que define o modelo da indústria 4.0.

“O volume, variedade e velocidade dos dados está criando oportunidades sem precedentes”, mostra a apresentação de Sergio Gama. Ao estruturar os dados, a indústria pode criar aplicações inovadoras como, por exemplo, está fazendo a IBM ao apresentar o supercomputador Watson, que é hoje a máquina mais desenvolvida para interpretar os dados e transformá-los em informação inteligente – conceitos de machine learning e inteligência artificial. “A máquina não vai substituir o homem, mas vai potencializar sua capacidade de cumprir tarefas intelectuais repetitivas”, afirma Gama.

A Indústria 4.0 está ajudando até as empresas a promoverem ações de sustentabilidade. É o caso da HP Brasil, que criou o Smart Packaging Program, resultado de anos de planejamento e prática de ações que integraram tecnologias como identificação de itens na linha de produção com radiofrequência (RFID), business intelligence, Internet das Coisas e padrões GS1, entre outras, para proporcionar rastreabilidade e visibilidade de todos os processos, desde a fabricação até a distribuição de seus produtos. De acordo com Rafael Rapp, gerente de operações da HP Brasil, “além da redução de custos de processos ao se estruturar os dados gerados pela fábrica, houve melhora na experiência do cliente, preservação da marca e redução de 600 toneladas ao ano na emissão de carbono na atmosfera”. O programa criado no Brasil servirá de modelo para a HP expandir a iniciativa em outros países.