Por Paula Paschoal, diretora geral do PayPal Brasil
No caso do PayPal, bastou que nosso CEO, Dan Schulman, resolvesse acabar com a diferença salarial entre eles e elas. Corria o ano de 2016. Numa reunião com o board as coisas simplesmente aconteceram. “Done”. Este é um tema particularmente caro para nós, porque, desde 2015, quando nos tornamos uma empresa independente, isso nos permitiu criar uma estrutura de interesses coletivos e políticas internas.
E um dos itens dessa estrutura era que homens e mulheres que ocupam cargos similares deveriam receber o mesmo salário. Simples assim!
Em minhas palestras pelo Brasil, sempre que tenho oportunidade (e também quando não tenho), gosto de falar sobre o tema. Porque precisamos investir mais tempo e dedicação a essa questão, que não poderia – ainda – ser polêmica. O estágio da desigualdade salarial em muitas empresas nacionais e globais, nas quais homens recebem até 30% a mais do que mulheres na mesma posição hierárquica, é inexplicável e indefensável.
É questão, pura e simples, de se fazer justiça. Levando-se em consideração que as mulheres são maioria em cursos de graduação, mestrado e doutorado desde o começo desta década (de acordo com dados recentes do Capes), creio que podemos cobrar, já na próxima década, no mínimo a equidade.
As mulheres estão cada vez mais preparadas, intelectual e emocionalmente, para alcançar o sucesso pessoal e profissional – trata-se de um fato. Então, por que continuam a receber menos?
Nem vou citar a capacidade multifuncional das mulheres ou a sensibilidade feminina, o que não significa que estou negando as duas qualidades, muito pelo contrário. Só não acho que é preciso enaltecer características inatas para provar que merecemos tratamento igual em qualquer lugar e em qualquer ocasião.
Não somos melhores do que ninguém e não deve ser esse o objeto da discussão. O que queremos é, apenas, respeito pela verdade dos fatos, pela verdade que estamos escrevendo há décadas.
Sei bem o quanto nos custa, como mulheres, cada conquista. E também o quanto ainda temos para conquistar, apenas para nos equipararmos em direitos aos homens. De nossa parte, o que precisamos mudar (aliás, isso já deveria ter acontecido) é a consciência da própria mulher, consciência de que pode ser o que quiser, escolher o próprio caminho, ser feliz consigo mesma. Esse talvez seja o maior desafio, porque estamos lidando com a autoestima, tão minada através dos séculos.
Esse é mais um motivo pelo qual me dedico, diariamente, à causa. Porque, ao analisar minha experiência pessoal, notei a falta de incentivo às mulheres interessadas em seguir carreira executiva por causa do mito do inalcançável equilíbrio entre vida pessoal feliz e trajetória profissional de sucesso. E, infelizmente, ainda faltam exemplos de casos bem-sucedidos mostrando o chamado “caminho das pedras” para elas.
O atual cenário me comove também por um outro motivo: empresas com mulheres em cargos de liderança têm resultados melhores, inclusive na rentabilidade. Essa é a conclusão de um relatório chamado Women in Business and Management: The Business Case for Change, divulgado no ano passado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão da ONU. De acordo com a pesquisa, quanto maior o número de mulheres, sobretudo em posições de chefia, melhores são os resultados de uma organização.
Para chegar a essa conclusão, o relatório analisou mais de 70 mil empresas em 13 países. Entrevistados relataram ganhos em produtividade, rentabilidade, criatividade e inovação em equipes com maior diversidade de gênero. Além disso, 57% dos pesquisados disseram perceber melhorias na reputação, ou seja, na imagem pública da empresa.
A lição que se pode tirar de tudo isso? Invistam nas mulheres. É um autêntico ganha-ganha para todos.
Um feliz Mês da Mulher!