Por Richard Goodwin, IBM Research
Perfumistas especializados unem arte e ciência para elaborar novas fragrâncias, um talento que leva dez anos ou mais para ser desenvolvido. Criar uma fragrância marcante é um dos componentes considerados mais importantes pelo consumidor ao avaliar produtos de uso diário, como sabão em pó, desodorante, purificadores de ar e, é claro, colônias ou perfumes. E se a Inteligência Artificial (IA) pudesse aprender com esses profissionais para potencializar o processo de desenvolvimento de novas fragrâncias, identificando caminhos criativos e acelerando o tempo de comercialização para a indústria? Com isso em mente, o time de IBM Research, juntamente com a Symrise, uma das maiores produtoras globais de sabores e fragrâncias, criou um sistema de IA que pode aprender sobre fórmulas, matérias-primas, dados históricos de sucesso e tendências do mercado.
Desenvolvido pelo recém-anunciado grupo IBM Research AI for Product Composition e também com base em estudos anteriores da IBM, que utiliza IA para comparar sabores e criar receitas, nasceu o Philyra. O sistema utiliza novos e avançados algoritmos de aprendizado de máquina para filtrar centenas de milhares de fórmulas e milhares de matérias-primas, auxiliando na identificação de padrões e novas combinações de aromas. Mais do que apenas servir de inspiração, o Philyra pode projetar fórmulas de fragrâncias totalmente novas, explorando todo o cenário de combinações possíveis para descobrir as lacunas no mercado global de fragrâncias.
O trabalho da IBM com a Symrise abrange três unidades de negócios dentro da sua Divisão de Fragrâncias: Fragrâncias Finas (Fine Fragrances), Cuidados com o Lar (Home Care) e Cuidados com Beleza (Beauty Care). Os primeiros resultados de pesquisa, porém, vieram com a divisão de Fragrâncias Finas. Criar uma fragrância fina não é só uma arte como também uma ciência que requer precisão, pois até mesmo a menor alteração na quantidade de um ingrediente pode ser o fator decisivo para o sucesso de um novo perfume. Assim, o time de pesquisa da IBM adotou uma abordagem baseada em dados, incluindo informações sobre centenas de milhares de fórmulas, famílias (frutado ou floral, por exemplo) e matérias-primas de fragrâncias, além de informações históricas que apontam quais foram os fatores de sucesso de fórmulas e perfumes desenvolvidos previamente.
Com essa riqueza de dados, o Philyra usa aprendizado de máquina para gerar novas combinações de formulações de fragrâncias que se ajustam a objetivos específicos de cada cliente como, por exemplo, criar uma fragrância exclusiva para o público jovem masculino no Brasil.
O sistema do IBM Research inclui algoritmos que aprendem e preveem:
complementos de matérias-primas alternativas e substitutos que poderiam ser usados em uma fórmula específica;
a dosagem apropriada para uma matéria-prima baseada em padrões de uso;
a resposta humana (quão agradável e adequada é a fragrância para diferentes públicos);
a originalidade do perfume em comparação a um grande conjunto de fragrâncias comercialmente disponíveis.
Quando se trata de novos designs de perfumes, a originalidade é um dos principais fatores levados em conta. Por isso, o Philyra aprende por meio de um modelo de proximidade capaz de identificar fragrâncias com aromas similares a outras já existentes. Quanto maior a distância entre uma fragrância e seus semelhantes, mais inovador será o perfume.
A Symrise utilizou o Philyra para desenvolver dois perfumes para O Boticário, uma das maiores empresas de beleza do mundo, ambos com lançamento programado para meados de 2019. Como parte do processo de desenvolvimento humano-máquina, as fórmulas iniciais sugeridas pelo sistema foram minimamente ajustadas por um mestre perfumista para enfatizar uma nota específica da fragrância e aprimorar o seu tempo de fixação na pele.
O conhecimento do Philyra em relação às preferências do consumidor permitiu que os perfumistas da Symrise não precisassem mais gastar tempo buscando novas combinações de fragrâncias, mas sim se concentrassem no processo de finalização dos perfumes. Essa colaboração com IBM Research e com a Symrise permitiu que O Boticário explorasse a Inteligência Artificial para criar um produto personalizado para um determinado grupo de consumo, com base em características demográficas e de personalidade.
O objetivo de longo prazo da Symrise é apresentar essa tecnologia aos seus principais perfumistas em todo o mundo e continuar a usar a solução para o design de fragrâncias para produtos de cuidados pessoais e domésticos. A Symrise também planeja introduzir o Philyra em sua Escola de Perfumaria para ajudar a treinar a próxima geração de perfumistas, integrando firmemente a IA na essência de criação de uma fragrância.
Baseado em aprendizado de máquina, o trabalho do time de IBM Research AI for Product Composition também pode ser estendido para outros tipos de aplicações, como design de sabores, cosméticos e itens de consumo – xampus, sabão em pó e outros –, até produtos industriais, como adesivos, lubrificantes ou materiais de construção. Embora isso ainda esteja em fase de pesquisa, a tecnologia tem o potencial de se tornar um serviço que pode ser disponibilizado para ajudar empresas a acelerar e dimensionar seu processo de design criativo.
Nossa pesquisa continua a ampliar fronteiras para possibilitar uma experiência humana cada vez mais amplificada por meio da IA, além de demonstrar como a inteligência artificial pode ajudar em domínios onde a criatividade é fundamental. A arte e ciência de projetar um perfume de sucesso é algo que os humanos vêm fazendo há centenas de anos. Agora, os perfumistas podem ter ao seu lado um aprendiz de IA que é capaz de analisar milhares de fórmulas e dados históricos para identificar padrões e prever novas combinações, ajudando a torná-los mais produtivos, acelerando o processo de design e guiando esses profissionais na direção de fórmulas nunca antes vistas.