O Brasil vem apresentando um desequilíbrio econômico e político há cerca de um ano e meio, o que provocou incertezas em todos os segmentos de mercado. A crise gerada culminou no afastamento da presidente Dilma Rousseff e na posse interina do vice Michel Temer, até que o caso seja julgado pelo Senado.
O cenário desolador que assolou nosso país foi algo inédito, no qual importantes políticos e empresários foram citados em denúncias de corrupção, indiciados e presos. A situação pegou muitos consumidores de surpresa, que colocaram em cheque a confiabilidade do nosso mercado e paralisaram a injeção de recursos.
Convicções políticas à parte, o fato é que o mercado de produtos e serviços de Tecnologia da Informação tem nos clientes corporativos uma importante parcela da sua clientela. As multinacionais estão diretamente ligadas ao consumo de softwares e hardwares e, por consequência, à implementação de complexos projetos de infraestrutura em suas unidades. Conservadores, esse grandes conglomerados desaceleraram em 2015 os investimentos por tempo indeterminado, impactando fortemente na queda de 8% na receita dos produtos de TI em 2015.
A crise chegou a impulsionar as vendas em alguns nichos dentro do mercado de TI, como o de componentes, especialmente processadores, placas de memória e de vídeo, unidades de armazenamento SSD (Solid State Drive), além de itens de segurança. Entretanto, pesou mais o achatamento na renda do consumidor geral, e o abismo econômico gerou o grande sentimento de insatisfação.
Cabe ao novo governo, interino ou definitivo, anunciar medidas que tragam de volta confiança suficiente para a injeção de ânimo e de dinheiro por parte das grandes empresas e indústrias, que devem voltar a oferecer postos de trabalho, e também dos bancos, com a retomada da concessão de crédito. As peças do dominó precisam ser levantadas de trás para frente, e, nesse momento, combater o desemprego e injetar dinheiro novo no mercado são os primeiros passos para movimentar a economia.
Outra medida importante é a reaproximação comercial com os Estados Unidos e os países da Europa. A relação com a China gerou uma dependência ao país, que poderia render um colapso econômico fatal, diante de um eventual desacordo. Já ações como a “MP do Bem”, que retirou tributos e melhorou o preço dos eletrônicos na ponta do consumidor seriam bem-vindas, porém difíceis, diante da necessidade de arrecadação do Governo para superar o enorme déficit orçamentário.
Ainda deve demorar alguns meses para que os primeiros resultados apareçam, 2016 não deve apresentar números muito animadores. Mas fica a esperança de que o diálogo e as intervenções sejam suficientemente acertadas a ponto de recolocar a economia do Brasil nos trilhos, para, quem sabe, colhermos bons frutos já em 2017.
Mariano Gordinho é diretor executivo da Associação Brasileira dos Distribuidores de Tecnologia da Informação (Abradisti).