O setor de franquias apresentou recuperação no 2º trimestre deste ano, mantendo assim sua trajetória rumo a níveis pré-pandemia, indica a Pesquisa Trimestral de Desempenho realizada pela ABF – Associação Brasileira de Franchising. Segundo o estudo, feito em parceria com a empresa de pesquisas AGP, o faturamento no 2º tri de 2019 foi de R﹩ 43,122 bilhões, passou a R﹩ 27,720 bilhões no ano passado e chegou a R﹩ 41,140 bilhões de abril a junho deste ano. A variação foi de -35,7% de 2019 para 2020 e de +48,4% para 2021. A receita do franchising mostra, portanto, recuperação significativa no trimestre pesquisado, quando comparado ao ápice dos efeitos da pandemia (em 2020).
O avanço da imunização da população e a consequente diminuição das medidas de distanciamento social que possibilita o funcionamento dos serviços não essenciais em horário mais amplo, somado à melhora da economia de forma geral foram os principais impulsionadores da recuperação. Além disso, outros fatores, como a digitalização dos canais de venda e a alta dos índices de confiança empresarial e do consumidor também refletiram no desempenho positivo das franquias.
FATURAMENTO 2°TRI DE 2021
Já no acumulado dos últimos 12 meses, a pesquisa mostra que o setor de franquias apresentou uma variação positiva de 4,4% em sua receita, com um avanço de R﹩ 171,426 bilhões para R﹩ 178,950 bilhões.
FATURAMENTO 12 MESES ACUMULADO
“Essa nova pesquisa corrobora dois movimentos importantes: com a abertura mais ampla do comércio, principalmente dos shoppings, o consumidor vem paulatinamente retomando seus hábitos, alavancando o desempenho das franquias. Por outro lado, as iniciativas de ajuste e digitalização tomadas pelas redes por causa do pico da pandemia continuam a se mostrar efetivas, visto o caso do delivery que mantém níveis elevados. É importante levar em consideração também que em alguns segmentos, como Turismo e Alimentação Fora do Lar, há muita demanda reprimida e mudanças na sazonalidade, de forma que vamos acompanhar de perto o comportamento do setor nos próximos trimestres para ter um quadro mais amplo. Até o momento, mantemos a perspectiva de uma recuperação robusta e uma expansão de cerca de 8% ao final de 2021”, afirma André Friedheim, presidente da ABF.
De acordo com a pesquisa, o setor totalizou 1.292.034 trabalhadores diretos nos meses de abril, maio e junho, ante 1.302.338 no primeiro trimestre, números estatisticamente muito próximos que indicam mais uma estabilidade do que uma redução significativa. Além disso, é impotante notar que o volume do 2º tri de 2021 continua superior ao registrado ao final de 2020. “O franchising tem lutado para manter os empregos, mas diante do cenário ainda desafiador e com incertezas, é preciso que haja avanços na reforma tributária, que inclua a desoneração da folha de pagamento para que o setor também avance na geração de emprego e renda”, ressalta o presidente da ABF.
Quanto ao movimento de abertura e fechamento de unidades, a pesquisa da ABF também traz dados positivos. O levantamento apontou que foram abertas 3,9% unidades nesse 2º tri frente a 1,2% no mesmo período de 2020; fechadas 1,7% contra 4,4% operações, resultando num saldo de +2,2%. O repasse de unidades foi de 0,4% para 0,8% no período, revelando que essa estratégia de manutenção dos pontos comerciais por parte das redes está voltando também a patamares pré-pandemia.
As vendas por canal entre as redes pesquisadas tiveram um incremento nos aplicativos de delivery, subindo de 2,1% para 6,4%. Já via e-commerce e WhatsApp, decresceram, de 2,9% para 1,8%, e de 1,7% para 0,7%, respectivamente. Quanto às vendas pelas unidades franqueadas o salto foi de 73,6% para 78,6% no período.
O estudo indica também alta da adoção do e-commerce como canal de venda pelas franquias, utilizado por 69,7% delas no ano passado e por 72,2% neste, enquanto que a participação dos franqueados nas vendas por este canal teve uma pequena oscilação para baixo, passando de 91,6% para 90,4% no mesmo período.
“Na nossa avaliação, esses dados já refletem uma retomada das vendas presenciais, por isso a menor participação das lojas próprias e alguns canais digitais, com exceção do Delivery. O aprendizado, porém, fica, sendo mais um canal e ser desenvolvido na grande maioria das redes”, afirma Silvana Buzzi, diretora executiva da ABF.
É interesse notar também que a pesquisa detectou um “descasamento” de percepção em relação à necessidade de medidas de apoio neste momento. A necessidade de retomar as vendas e treinar a equipe continuam na frente de forma geral, mas os franqueados passaram a apontar mais as demandas por crédito, melhores condições de locação e carência para pagamento de empréstimos, como mostra o gráfico.
“Com a quase eliminação das restrições e a recuperação das vendas, a prioridade passou a incluir também ‘arrumar a casa’, acertando as finanças e renegociando contratos, especialmente o de aluguel, que continua a ser um custo muito importante, principalmente nos shoppings. Nesse sentido, a ABF atuou fortemente, orientando seus associados em negociações e contratos e defendendo que o IGP-M não é o índice mais adequado para reajustar essas relações comerciais”, disse André Friedheim.
Desempenho dos segmentos
Os mais impactados pela pandemia, Entretenimento e Lazer e Hotelaria e Turismo começaram sua recuperação nos meses pesquisados, com variações positivas superiores a 800% e 400%, respectivamente.. Ambos foram beneficiados por medidas como a reabertura das atividades econômicas não essenciais e o avanço da vacinação, além de forte demanda reprimida. É importante ressaltar, porém, que esse resultado foi conseguido em relação a uma base muito deprimida no 2º tri de 2020. Moda, outro segmento também entre os mais impactados pelas medidas restritivas, foi o terceiro com melhor desempenho, com alta de 178,2%. Além dos fatores já mencionados, o maior funcionamento e movimento nos shoppings, bem como a retomada da vida social, concorreram para este desempenho. Alimentação – Comércio e Distribuição, com 71,3%, e Food Service, com 47,8% – também se destacaram. Limpeza e Conservação, com 61,9% e Casa e Construção, com 41,8%, vêm na sequência.
Para Friedheim, “cabe aqui destacar o caso do segmento de Casa e Construção que já havia apresentado ótimos desempenhos em 2020 e no primeiro trimestre de 2021, ainda alavancado por investimentos no lar e hábitos mais caseiros dos consumidores. Essas redes de fato vêm apresentando um crescimento expressivo, mostrando um mercado de grande oportunidade e resiliência para o nosso setor. Já Limpeza e Conservação representa bem a recuperação de serviços – também detectada em indicadores macroeconômicos – e que também chegou a segmentos como o de Serviços Automotivos. Essas redes costumam ser uma alternativa importante de renda e ocupação, além de gerar empregos na ponta”.
Na comparação 2º tri 2021 versus 2º tri 2019, já aparecem também com sinais positivos os segmentos de Serviços e Outros Negócios, Serviços Automotivos e Comunicação, Informática e Eletrônicos.
Observando-se o desempenho dos segmentos nos 12 últimos meses, Casa e Construção, com crescimento de 33,0%, e Saúde, Beleza e Bem-Estar, 11,8%, são os principais destaques.
FATURAMENTO POR SEGMENTO ÚLTIMOS 12 MESES
Neste levantamento, a ABF apurou dados inéditos a respeito da adoção do modelo de Dark kitchens (unidades que operam só com delivery) pelas redes do segmento de Alimentação. Enquanto 42,6% das marcas pesquisadas não têm interesse nesse formato, 24,6% planejam adotá-lo. Dentre as redes que atualmente operam com Dark Kitchens, essas unidades representam 7,2% do faturamento. As franqueadoras projetam que essa participação pode chegar a 13,5% da receita no horizonte de seis meses.
“As redes de franquias estão, com muito esforço, profissionalismo e ganhos de eficiência, superando esse período desafiador. O ecossistema de franquias certamente sairá dele mais forte e mais bem preparado para os novos desafios que virão”, conclui o presidente da ABF.
Metodologia
A Pesquisa de Desempenho Trimestral referente ao período de abril a junho de 2021 envolveu uma base amostral com 280 redes respondentes que representam cerca 29,9% das unidades e 36,6% do faturamento do setor. Abrangendo o mercado como um todo, inclusive não associados, os números do desempenho do setor de franchising são apurados em pesquisa por amostragem, cruzados com levantamentos feitos por entidades representantes de setores correlatos ao sistema de franquias, órgãos de governo, instituições parceiras e de ensino. Auditados por empresa independente, os dados divulgados pela ABF são referência para órgãos governamentais de diversas esferas, entidades internacionais do franchising, como World Franchise Council (WFC), Federação Ibero-americana de Franquias (FIAF) e instituições financeiras.