Founders Overview 2024: ACE Ventures e Sebrae Startups lançam pesquisa para entender o perfil das startups e empreendedores do Brasil

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Dados da investidora apontam que 54% das startups utilizam o modelo B2B; 36,7% dos empreendedores notaram um crescimento no interesse de investidores em empresas que usam Inteligência Artificial

Com o objetivo de realizar uma fotografia do perfil e jornada do(a) empreendedor(a) no Brasil, considerando as estruturas das startups, maturação dos negócios, setores de atuação e analisando o mercado de investimento de risco, a investidora early stage ACE Ventures, em conjunto com o Sebrae Startups, lançam o relatório Founders Overview 2024. A pesquisa entrevistou cerca de 900 empreendedores com faturamento anual partindo de R$360 mil até receitas acima dos R$300 milhões.

Zuckerberg às avessas

Ao observar a jornada profissional desses fundadores começamos a formar um perfil que foge ao estereótipo do Vale do Silício: de um jovem que recém saiu da faculdade (ou abandonou os estudos) e começou seu empreendimento na base do idealismo.

A análise dos dados demográficos da Founders Overview 2024 destaca que a faixa etária que possui mais empreendedores respondentes é a de profissionais com idades entre 35 e 44 anos (35,3%), seguida da faixa entre 45 e 54 anos (25,9%). Ou seja, mais de 60% dos empreendedores estão em uma faixa etária mais próxima da idade dos pais de Mark Zuckerberg do que da idade do próprio quando ele fundou o Facebook, aos 19 anos. Inclusive, tal perfil (entre 18 e 24 anos) se refere a menos de 4% dos empreendedores pesquisados.

O perfil das founders de startups no Brasil é cada vez mais composto por pessoas bem qualificadas e experientes, sejam executivos do mercado corporativo ou empreendedores de segunda viagem. A maioria dos fundadores, 44,5%, resolveu apostar na jornada empreendedora após ter trabalhado no mercado corporativo, contra 17,5% de pessoas que já haviam empreendido em outro setor; 12,3% que havia atuado como profissional autônomo; 8,4% de ex-funcionários de startups; 6,3% que vieram do funcionalismo público e apenas 4,2% que não tiveram experiência profissional prévia.

“Se, antigamente, a visão corrente era de que os empreendedores eram jovens recém-formados, hoje vemos profissionais sêniores que vivenciam o mercado e decidem atacar uma oportunidade. Por muitas vezes, as startups criadas estão conectadas com alguma dor que esses founders viveram durante sua passagem por outras corporações. Além disso, nesse contexto, ainda é possível aproveitar os relacionamentos formados no mercado corporativo”, afirma Pedro Carneiro, sócio e Diretor de Investimentos da ACE Ventures.

Analisando os perfis, é possível perceber um leve aumento no número de empreendedoras mulheres, mas o cenário ainda está longe do ideal. Se a Founders Overview de 2023 apontava para 23,6% de mulheres como fundadoras de startups, o número em 2024 subiu para mais de 28%. Por outro lado, a grande maioria dos fundadores se declara como homens nos dois levantamentos — a cada 10 fundadores respondentes, 7 se declaram homens (71,4%).

Observando os motivos mais assinalados como motivação para empreender pelos respondentes, temos: o propósito de mudar o mundo de alguma forma (77,6%); a ambição por maior retorno financeiro (35,3%), a oportunidade de liderar (17,9%) e o desejo por maior flexibilidade no trabalho (15,7%).

Onde moram as startups?

Assim como em 2023, a região Sudeste segue como principal foco de startups, segundo o relatório. No entanto, no levantamento mais recente a região representa 55% das startups nacionais contra 66,7% dos respondentes no ano passado.

Em contrapartida, as regiões Sul e Nordeste demonstram crescimento. No caso do Sul, de 16,4% para 22,5% — já a região Nordeste cresceu de 10,8% para 12,5% entre as duas edições da pesquisa. Já as regiões Centro-Oeste e Norte ficam com 5,12% e 4,15%, respectivamente.

É possível notar que as startups em diferentes estados do Brasil tendem a se concentrar em setores específicos, refletindo as características econômicas e demandas regionais. A maioria das startups do Espírito Santo, por exemplo, é GreenTechs. No Rio Grande do Sul há uma abundância de EdTechs, enquanto Paraná e Bahia compartilham um número relevante de ConstruTechs/PropTechs.

Pegando como recorte a cidade que teve mais respostas de fundadores, é possível observar que São Paulo se mantém próxima da média nacional nas principais características de fundadores, como background corporativo, acesso a incentivos e aceleração, além de métricas relativas ao crescimento e tamanho das startups. Por outro lado, o estado registra uma média menor de mulheres empreendedoras, registrando 23% contra 30% no conjunto dos outros estados do país.

A área de atuação das startups: Por um mundo mais verde

As startups ouvidas pela ACE Ventures na Founders Overview de 2024 se distribuem de forma heterogênea. Os 10 setores que contam com mais startups atuando são Edtech (8,75%), Fintech (6,85%), Retailtech (5,95%), Construtech/Proptech (4,6%), Greentech (4,49%), HRtech (3,93%), Agtech (3,82%), Martech/Adtech (3,7%), Foodtech (3,48%) e Biotech (3,25%).

Chama atenção o crescimento das startups focadas em educação — um movimento que já era detectado na pesquisa do ano passado, quando as Edtechs representavam 7% das startups pesquisadas, e só tende a crescer com a necessidade de empresas e profissionais de desenvolverem habilidades novas para navegar no mundo fortemente influenciado por novas tecnologias.

As altas posições de FinTechs, RetailTechs e ConstruTechs, por sua vez, refletem a cristalização de demandas básicas do cotidiano atual: vida financeira, consumo online e a demanda por moradia. Por outro lado, uma novidade entre as startups mais observadas estão as empresas focadas em tecnologias e soluções verdes — outro reflexo das oportunidades (e preocupações) ressaltadas pela emergência climática global.

Como e para quem as startups vendem?

Em convergência com a visão de empreendedores mais maduros, que criam negócios com dores do segmento corporativo em foco, as maioria das startups entrevistada pela Founders Overview de 2024 tem o modelo SaaS como principal formato de vendas, com cerca de 40% das companhias (considerado também SaaS + Hardware). A seguir, a venda direta de produtos corresponde a 17% e o formato de marketplace responde por 10% das startups.

O foco no B2B também fica evidente ao analisar os dados das startups perfiladas na pesquisa. Mais de 54% das companhias têm outras empresas como seu público-alvo. Já o formato de B2C corresponde a cerca de 19% das startups.

(Fonte: Founders Overview 2024)

Canais de venda: Quando perguntados como vendem seus produtos, os fundadores entrevistados pela Founders Overview ressaltaram os seguintes canais: Parcerias (50%), WhatsApp (39,7%), Inside Sales (33%) e Eventos (29,2%). Chama a atenção o quanto as parcerias e eventos estão ganhando mais importância para negociações no ecossistema brasileiro. As parcerias foram citadas por cerca de metade dos entrevistados como canal relevante de vendas.

Por outro lado, o relatório permite notar que as plataformas Google Ads (23%) e Meta Ads (22%) mantiveram índices semelhantes aos da pesquisa do ano passado em que Google Ads representava (22%) e Meta Ads (18%). No entanto, esses canais eram listados entre os cinco preferidos de vendas na pesquisa de 2023, o que não acontece na edição atual.

“Quando comparamos os reports, percebemos que houve uma substituição na terceirização de canais de vendas, de Google e Meta via Ads para uso de parceiros. Isso tudo indica que o empreendedor brasileiro ainda sofre para construir uma estrutura proprietária de vendas. Quem dominar métodos de venda tem muita vantagem no nosso mercado.”, diz Carneiro.

Venture Capital: investidores buscam negócios que utilizam IA na operação

A vocação bootstrap das startups brasileiras – fato apontado na Founders Overview 23 – se confirmou na edição de 2024, com praticamente 7 em cada 10 dos fundadores indicando que não tiveram investimento externo.

Para quase metade (49,5%) dos entrevistados, não faz diferença se o capital que será injetado é de um investimento anjo, venture capital ou corporate venture capital (CVC). Para as startups entrevistadas, o principal benefício do investimento está no networking e nas mentorias (61%) trazidas pelos investidores. Esse diferencial está acima do quesito financeiro (36%). Os fundadores cujas startups receberam capital estão, principalmente, na faixa de investimentos entre R$ 300 mil e R$ 600 mil (17%).

Outro dado relevante nesse aspecto é que 36,7% das startups respondentes notaram um crescimento no interesse de investidores em empresas que usam Inteligência Artificial. Esse interesse tem um fundamento: startups que implementaram IA em suas operações reportam um crescimento e ganho de eficiência operacional em 37%. Atualmente, as empresas que usam ferramentas de IA apontam que seu foco principal no uso dessas ferramentas está na análise de dados (28%) e automação de processos (24%). Há ainda startups que relatam uso de ferramentas para otimização de marketing (18%).

Além disso, a Founder Overview aponta que 7 em cada 10 entrevistados têm o objetivo de realizar um M&A no futuro. Para 37% dos empreendedores, há um plano de venda para os próximos 5 anos, enquanto o prazo é de uma década para 21% dos founders. “O que pode ser um indicativo da visão de futuro desse perfil de fundador é que 41% das startups que mais crescem, em uma taxa de mais de 70% nos últimos 6 meses, pertencem a founders que planejam um exit nos próximos 5 anos.”, finaliza Pedro Carneiro, Diretor de Investimentos da ACE Ventures.