Por Fabio Cossini, Líder de Soluções para Bancos, Capgemini Brasil
Em um cenário acelerado de inovação digital em todas as áreas, o sistema financeiro brasileiro já está se movimentando – de forma bastante acelerada – rumo ao futuro do relacionamento entre as instituições e os clientes, por meio de um profundo processo de transformação com o Open Finance, ou Sistema Financeiro Aberto.
Essa conversa já não é mais novidade, mas está muito aquecida: no último dia 13 de agosto, o Banco Central (BC) colocou em prática a segunda fase do Open Banking, onde os clientes das instituições financeiras já podem compartilhar seus dados cadastrais e transacionais, caso tenham interesse.
De olho no Open Finance, uma união entre o Open Banking e o Open Insurance – sistema semelhante ao bancário, desenvolvido no mercado de Seguros – os objetivos, anseios e benefícios dessas mudanças são claros e impactarão principalmente um elemento fundamental nessa jogada: o consumidor.
Mas as mudanças serão tão simples assim?
O sistema bancário – foco desse artigo, vem passando nos últimos anos por transformações significativas, principalmente associadas ao uso de aplicativos, entrada de empresas que não fazem parte do mundo bancário para a oferta de serviços financeiros – como as Big Techs e varejistas – e, mais recentemente, com o lançamento do Pix.
Com a expectativa pela implementação total do Open Banking, a privacidade e a segurança dos dados de clientes e instituições passou a ser discutida pelo mercado. Mas não só isso: questões como resolver problemas de governança e legados defasados, ter velocidade para adaptação e olhar estratégico para identificar oportunidades de inovação com base nos insights dos dados, devem estar em pauta. Será que as instituições estão preparadas para esse novo modelo?
Na prática, o consumidor poderá conectar sua conta bancária a um ecossistema compartilhado de dados que poderá analisar sua vida financeira e por meio de cruzamento de dados vai receber recomendações de produtos e serviços de acordo com a sua necessidade.
Do outro lado da bancada, a concorrência entre os bancos deve aumentar e, consequentemente, os serviços oferecidos ao consumidor devem melhorar. Por exemplo, ao comprar um item em uma loja onde o cliente pague com dinheiro em espécie, o caixa poderá oferecer o troco com o uso do Pix. Isso pode melhorar o relacionamento entre loja e clientes pela comodidade do serviço, atraindo mais público e aumentando as vendas.
De acordo com o World Retail Banking Report 2021 , 81% dos clientes pesquisados afirmam que a facilidade de acesso e a flexibilidade dos serviços podem motivá-los a substituir seu banco tradicional por um provedor financeiro de nova geração.
A mesma pesquisa aponta que muitos bancos ainda têm dúvidas sobre como orquestrar ecossistemas e articular totalmente sua organização em torno dos dados. No entanto, o estudo identificou que esse ponto é crucial nesse novo modelo de negócios bancários.
A recomendação é que os bancos realizem uma transformação digital e criem plataformas com o foco em Banking-as-a-Service (BaaS), baseadas na nuvem, que utilizam APIs para integrar o banco no dia a dia dos seus clientes, tornando-o assim mais acessível e mais inclusivo. Já estamos acompanhando grandes empresas do setor financeiro investindo nessa solução!
Vantagens só para correntista? É isso mesmo?
Já sabemos que com o Open Banking todo o histórico de relacionamento que o cliente construiu ao longo dos anos com uma instituição financeira ficará disponível para seus concorrentes, desde que ele autorize a divulgação dessas informações.
Mas, por que devo ceder meus dados? A resposta é simples: hiperpersonalização, conveniência e melhores práticas de experiência do consumidor! Com o compartilhamento, as empresas, sejam elas um fornecedor atual, ou futuros prospects, já saberão como é a “saúde financeira”, como são feitas as movimentações, saídas, entradas, etc. Não será necessário, por exemplo, construir um relacionamento do zero ao iniciar uma conta em uma nova instituição. Com o consentimento do cliente, basta acessar o banco de dados e pronto, todas as opções já estarão disponíveis.
Além disso, o relacionamento com as empresas financeiras será melhorado com ajuda da tecnologia, uma ponte integradora com os consumidores finais, que terão acesso facilitado para resolver problemas e aprimorar seu contato com as organizações. Cada cliente será único, com acesso a serviços personalizados e que atenderão suas necessidades reais, sem fazer parte de um pacote genérico de soluções.
Como fica a segurança dos dados? Até que ponto devo me preocupar?
Com a LGPD já em vigor, o BC implementando uma regulação específica para o Open Banking, também tendo em mente os recentes vazamentos de dados de instituições relevantes em diversos mercados, é de suma importância garantir um ambiente seguro para alcançar um sistema Open Banking protegido e eficaz. As instituições financeiras já estão investindo em tecnologia para garantir esse ponto, mas vale ressaltar que nunca é demais!
Será cada vez mais comum se deparar com certificados digitais que determinem padrões de criptografia, com chaves públicas e privadas. Também é importante que as ferramentas de segurança sejam integradas por meio de APIs (Aplication Programming Interface) que têm uma área compartilhada para interagir com outros sistemas.
O mercado já trabalha com APIs. Sites e redes sociais têm formas rápidas de cadastro, em que o usuário faz login e inclui suas informações, se assim concordar. O Open Banking propõe que o mercado financeiro também tenha APIs abertas.
O cliente também deve assumir o papel de observar para onde dará permissões de uso de dados, tomando o cuidado de verificar se a instituição seja reconhecida e possua certificados de segurança reconhecidos no mercado. De todo o modo, será preciso investimentos do setor financeiro em educação digital dos consumidores, salientando a importância do não compartilhamento de senhas e dispositivos móveis, dentre outras recomendações de segurança.
Mais novidades a caminho
Já no final de agosto, os clientes passarão a ter acesso a formas de pagamento fora do ambiente do banco via Pix – terceira fase do Open Banking. Serviços como pagamentos e propostas de crédito poderão ser realizados por um aplicativo de mensagens, por exemplo. A implantação do Open Finance continuará ao longo de 2022 e 2023, com as demais iniciativas de serviços bancários adicionadas às das seguradoras.
Quando todo o processo estiver finalizado, outras funcionalidades estarão disponíveis, como: TED; compartilhamento do envio de propostas de operações de crédito a clientes que aderirem ao Open Banking e compartilhamento de dados de clientes sobre demais operações financeiras, como câmbio, investimentos, previdência e seguros, dentre outros inúmeros serviços.