Por Fernanda Rodrigues, CHRO da GFT Technologies na América Latina
A reoneração da folha de pagamentos, que voltou a vigorar no Brasil em 2025, representa um novo desafio para empresas, especialmente no setor de tecnologia. Essa mudança marca o fim da desoneração que vigorou desde 2011, substituindo a contribuição previdenciária patronal de 20% sobre a folha de salários por uma taxação de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. Para o setor de tecnologia, que antes pagava a alíquota máxima de 4,5%, a retomada dessa oneração trará consequências significativas, principalmente no que diz respeito ao aumento de custos operacionais e à gestão de recursos humanos.
As companhias de tecnologia, conhecidas por seu alto índice de contratação e pela forte dependência de mão de obra qualificada, precisam se adaptar rapidamente a essa nova realidade fiscal. O impacto imediato será a elevação dos custos de produção, que pode pressionar ainda mais a margem de lucro de empresas que já enfrentam a volatilidade econômica. De acordo com a legislação, as organizações que retornaram à reoneração deverão manter o número médio de empregados igual ou superior a 75% da média do ano anterior até 2027. Caso contrário, estarão sujeitas à alíquota integral de 20%, o que representa uma ameaça adicional à sustentabilidade financeira dessas organizações.
Em resposta a essa pressão fiscal, muitas empresas do setor têm adotado estratégias de redução de custos dentro de casa, sem comprometer a qualidade de seus serviços ou demitir funcionários. Dentro da minha própria realidade, buscamos alternativas que priorizem a manutenção dos postos de trabalho, mesmo que isso signifique a reestruturação de benefícios ou outros ajustes permitidos por leis e alinhados com os respectivos sindicatos. O objetivo é preservar o “negócio feito de pessoas”, como descreve o nosso CEO, e não reduzir a força de trabalho, já que o capital humano é essencial para a operação no setor de tecnologia.
Entretanto, os efeitos da reoneração podem ser sentidos de forma mais ampla, impactando também os clientes das companhias de tecnologia. O repasse desses custos ao consumidor final é uma das alternativas consideradas pelas empresas, mas nem sempre essa opção é viável, especialmente em um mercado altamente competitivo e sensível a aumentos de preços. Portanto, a busca por eficiência interna deve ser vista como a solução preferencial para evitar repassar os custos diretamente aos clientes. Essa abordagem foca na redução de despesas operacionais e na otimização de processos, sem comprometer o bem-estar dos colaboradores ou a experiência do cliente.
A reoneração também traz consigo uma preocupação adicional com a competitividade do Brasil em relação a outros países, como o México, que tem sido alvo de políticas fiscais mais favoráveis para atrair empresas estrangeiras. A possível desvantagem tributária em comparação com outras nações pode afetar a decisão de empresas de tecnologia em manter ou expandir suas operações no Brasil, em um contexto global cada vez mais interconectado e competitivo. Para as empresas do setor, a inovação e a adaptação às novas condições fiscais serão cruciais para se manterem competitivas, tanto no mercado local quanto internacional.
Além disso, a reoneração da folha de pagamentos pode ser vista como uma oportunidade para as empresas de tecnologia repensarem seus modelos de negócios e investirem em inovação para aumentar sua produtividade. A busca por soluções mais eficientes pode, ao longo do tempo, gerar um impacto positivo na rentabilidade das organizações, especialmente aquelas que conseguirem se antecipar às mudanças fiscais e encontrar formas de adaptar sua estrutura de custos sem prejudicar o bem-estar de seus funcionários.
A experiência tem mostrado que as companhias mais resilientes serão aquelas que conseguirem equilibrar a necessidade de ajuste fiscal com a preservação de seus talentos e a qualidade de seus serviços. O momento exige criatividade, diálogo entre todos os stakeholders e, principalmente, um olhar estratégico que vá além das soluções imediatas, considerando o impacto de longo prazo das decisões tomadas hoje no futuro do setor tecnológico brasileiro. Ao priorizar a eficiência e a inovação, as companhias podem não apenas sobreviver ao impacto fiscal, mas também se posicionar de maneira mais competitiva no mercado.
O equilíbrio entre a redução de custos, a manutenção dos postos de trabalho e a preservação da qualidade dos serviços prestados será fundamental para que o setor de tecnologia continue a ser um dos maiores motores de crescimento da economia brasileira.
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