Por Francisco Perez, diretor de Novos Negócios, responsável pelo Hub de Inovação Alfa Collab e pela Área de ESG do Alfa
O amadurecimento do ecossistema de inovação exige maior diversidade de soluções financeiras e cria alternativas de funding para startups nos mais variados estágios.
Temos de encarar a realidade dos fatos: vivemos em um mundo incerto onde o capital de risco desempenha papel cada vez mais relevante. Quase todos os maiores da atualidade – Apple, Amazon, Google, Microsoft, Tesla, Nubank, e centenas de outros – têm venture capital em suas veias. Alguns desses com novos investimentos recebidos recentemente. Desde a origem desse cenário verdadeiramente espetacular em realizações empresariais, já foi percorrida uma longa jornada de evolução do financiamento para iniciativas inovadoras. Uma jornada cumprida tanto pelos fundadores das iniciativas, quanto pelos agentes financeiros que os apoiaram.
À medida em que cresceu o montante em jogo, também se sofisticaram os mecanismos financeiros: anjos, fundos de venture capital, bancos especializados, investimentos coletivos (crowdfunding), recursos estatais de incentivo ao desenvolvimento, e vários outros arranjos como os SEAL (shared-earning agreements), SPAC (special purpose acquisition company) ou a Listagem Direta (direct listing). Eles compõem um arsenal cada vez mais diverso para atender ao atrativo mercado de capital de risco. E para todos esses atores, uma pergunta se insinua: como será o porvir?
A diversidade de mecanismos encontra correspondência nas pessoas que delas participam, incluindo desde leigos, as pessoas comuns como dizemos informalmente, ou seja, aquelas não especialistas em investimentos, mas que querem arriscar um pouco em startups por meio de crowdfunding. E encontramos representantes especialistas dos grandes fundos de investimentos. Cabem todos nesse novo cenário, altamente diversificado e bastante rico em opções tradicionais e novas alternativas.
Não é raro recorrer ao mercado dos Estados Unidos quando queremos saber o que vai acontecer dentro de alguns meses (ou anos) aqui no Brasil. É claro que nem sempre essa análise no futuro resulta em boas previsões, afinal, Brasil e EUA se situam em contextos bem distintos. Mas, para não perder a viagem, não custa prestar atenção em alguns detalhes.
Quando se pensa em inovação e startups não parece sábio menosprezar a experiência dos mercados pioneiros como o norte-americano, o inglês ou o israelense. Do lado das startups, especialmente em estágios iniciais, empreendedores utilizaram historicamente capital interno, tais como a poupança pessoal, um pequeno financiamento oferecido por amigos e familiares, ou ainda dívidas pessoais. Ao longo do tempo, à medida que os negócios se tornaram mais estruturados e, do ponto de vista externo, menos opacos, a proporção de crédito e financiamento comercial no volume total da injeção de capital aumenta significativamente.
Um estudo da Pepperdine University (2017) sobre a evolução histórica do financiamento de startups nos EUA demonstra que empresas com alta atividade de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e aquelas que possuem direitos de propriedade intelectual financiam suas operações predominantemente com capital externo proveniente de anjos, fundos de venture capital, ou dívida empresarial. Neste último caso, trata-se de recurso obtido, principalmente, por meio de empréstimos bancários ou linhas de crédito.
Nada surpreendente até aqui. Startups, como quaisquer outros empreendimentos, costumam dar os seus primeiros passos com recursos próprios e à medida em que ganham musculatura e relevância, vão buscar recursos estruturados no mercado financeiro para expandir e consolidar as suas operações. No entanto, é preciso observar o lado do mercado financeiro para completar o quadro compreensivo, tanto das dinâmicas atuais, como de prováveis cenários futuros.
Diferentemente dos EUA, o Brasil deu a partida ao financiamento das startups quase que exclusivamente por meio de recursos públicos, com raras iniciativas de risco privado, particularmente no período de 1967 a 2006, quando o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e a Financiadora de Estudos de Projetos (FINEP) praticamente dominaram um cenário ainda incipiente. Somente a partir dos anos 2010 o capital de risco privado passou a desempenhar o papel de ator principal do ecossistema nacional de inovação.
Na década seguinte a este período assistimos a um crescimento vertiginoso na oferta de recursos privados em uma infinidade de fundos de venture capital. E mais recentemente, as modalidades de funding vêm se diversificando, não apenas para atender aos mais diversos estágios de maturidade dos empreendimentos inovadores, mas também em novos formatos.
Vale lembrar que, a rigor, nos EUA, a história do capital de risco começa no século XVIII e atravessa toda a evolução da economia norte-americana desde os primórdios do livre mercado até atingir o patamar de maior economia do planeta. Podemos averiguar com clareza um contexto de diversidade na oferta de capital desde o princípio, tendo alcançado um grau avançado de maturidade no início dos anos 1980. O Silicon Valley Bank, uma importante referência neste domínio, foi criado em 1983.
A resposta à questão do porvir vem sendo dada por uma grande diversidade de formas de financiamento a partir das mais diversas fontes. Um futuro que já se tornou realidade nos tempos em que ora vivemos. O que ocorreu nos EUA desde o início e agora ocorre no Brasil é uma maior variedade na ofertas de recursos à medida em que cresce o mercado de startups promissoras. Elas, por sua vez, em um ciclo virtuoso, atraem mais agentes financeiros com novas soluções que tornam este mesmo mercado cada vez mais inclusivo.