Especialista de RH comenta sobre desalinhamento em salários, flexibilidade e cultura organizacional, e o impacto disso na retenção e atração de talentos
O mercado de trabalho no Brasil está vivenciando um crescente desalinhamento entre as expectativas dos profissionais e as práticas das empresas. Essa divergência, apontada no estudo Talent Trends Brasil 2024, destaca que questões como remuneração, flexibilidade e cultura organizacional estão no centro do descompasso, gerando impactos significativos na retenção e atração de talentos.
Para Hosana Azevedo, Head de Recursos Humanos do Infojobs, “a desconexão entre o que os colaboradores desejam e o que as empresas conseguem oferecer é um sinal claro de que precisamos repensar modelos tradicionais de gestão para alcançar um equilíbrio que beneficie ambas as partes”.
Insatisfação e principais pontos de tensão no mercado de trabalho
O salário segue como o fator mais relevante na decisão por uma nova oportunidade: 84,5% dos brasileiros consideram a remuneração um dos principais critérios ao aceitar uma vaga. No entanto, mais da metade dos profissionais (52%) está insatisfeita com seus pagamentos atuais, um aumento expressivo em relação ao ano anterior, quando o índice era de 39%. Essa insatisfação impulsiona a busca por novos cargos, especialmente em um cenário no qual 45% dos entrevistados afirmam que os aumentos recebidos nos últimos 12 meses não superaram a inflação.
Para as empresas, o desafio é equilibrar essas expectativas em meio a um cenário de custos crescentes e margens pressionadas. “As organizações reconhecem a importância de salários competitivos, mas precisam alinhar essa demanda com a sustentabilidade do negócio”, explica Hosana. “O ajuste constante de políticas de remuneração, somado a benefícios alinhados às necessidades dos colaboradores, pode minimizar essa insatisfação.”
Outro ponto de conflito está nos modelos de trabalho. O híbrido, que abrange 42% dos trabalhadores brasileiros, tem gerado insatisfações quando aplicado de forma rígida. Segundo o estudo, 72% dos profissionais que retornaram ao escritório devido a mudanças nas políticas corporativas relatam insatisfação com seus empregos, reforçando a importância de oferecer autonomia no gerenciamento das rotinas de trabalho.
“As políticas de flexibilidade devem ser planejadas com a participação ativa dos profissionais, pois esse alinhamento fortalece o vínculo e aumenta a satisfação no trabalho”, avalia Hosana. Além disso, 76% dos brasileiros afirmam priorizar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional acima de outros fatores, evidenciando a necessidade de uma abordagem mais adaptativa por parte das organizações.
Diversidade, equidade e inclusão (DE&I) também figuram como um ponto de desalinhamento entre intenção e impacto. Apenas 32% dos profissionais consideram seus ambientes de trabalho inclusivos, e 42% sentem que podem ser autênticos em suas funções. Para Hosana, “as iniciativas de DE&I precisam ir além de metas formais e investir em mudanças estruturais, promovendo um ambiente onde as pessoas se sintam seguras e valorizadas”.
Como superar as divergências
Alinhar expectativas é um desafio estratégico que exige ação em múltiplas frentes. Ajustar salários à inflação, implementar modelos de trabalho mais flexíveis e investir em lideranças inclusivas são caminhos apontados pelo relatório. No entanto, Hosana ressalta a importância de um elemento central: “Mais do que atender demandas específicas, as empresas precisam criar uma cultura organizacional que valorize o diálogo e a transparência, estabelecendo um equilíbrio entre o que os profissionais esperam e o que é possível oferecer.”
Com um mercado cada vez mais competitivo e em transformação, superar as divergências de expectativas pode ser o fator decisivo para atrair e reter talentos. Além disso, como destaca o estudo, colocar as pessoas no centro das decisões organizacionais é o primeiro passo para construir um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e alinhado aos desafios do futuro.
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