Digitalização da economia tem o potencial de injetar até R$ 1,12 trilhão no PIB brasileiro

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Luana Ozemela, Chico Bulhões, Jorge Gerdau e Glaucio Neves.
Foto: Tiago Mendes

Estimativa é apresentada no estudo sobre a influência da transformação digital na economia
brasileira, do MBC em parceria com a FGV, e destaca como o avanço tecnológico econômico
como um todo gera ganhos em diversas frentes

08 de dezembro de 2022 — Aumento de ganho de produtividade, melhores ofertas salariais, e crescimento econômico a curto, médio e longo prazos são algumas das principais vantagens asseguradas pelo processo de transformação digital em todos os setores da economia.

A série de benefícios consta na pesquisa “Transformação digital, produtividade e crescimento econômico”, desenvolvida pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC) em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV). O estudo é baseado na metodologia do Office for National Statistics (2015), do Reino Unido.

O levantamento apresenta em detalhes os impactos positivos agregados ao alto potencial da transformação digital, driver para a produtividade e crescimento econômico, e propõe a elaboração de uma agenda nacional estratégica para criar condições que potencializem a digitalização em diversos segmentos empresariais e econômicos.
 


Ainda de acordo com o balanço, nos últimos 5 anos, a oferta digital brasileira cresceu em média 5,7%, enquanto o gigante mercado americano cresceu 7,1%. A partir da ampliação da oferta digital nos patamares da economia americana, a maior digitalização dos setores seria capaz de gerar um aumento de 422,7 bilhões de reais na economia brasileira. Traçando uma meta mais desafiadora, caso a oferta digital brasileira alcançasse o patamar atual de representatividade da economia americana, calculado em 10,2% em 2020, o Brasil teria um incremento de 1,12 trilhão de reais na economia.

Outro dado positivo apresentado é que, enquanto os empregos formais perdem espaço no Brasil, com uma tendência à precarização do mercado de trabalho, observa-se um movimento oposto sob a ótica dos empregos digitais que, nos últimos cinco anos, apresentaram um crescimento de 4,9% em comparação às demais ocupações. A ascensão demonstra sua capacidade de resiliência frente a mudanças socioeconômicas e crises. Além disso, o estudo mostrou que as ocupações digitais têm remuneração acima da média e sua produtividade de trabalho é superior em relação às demais atividades.

“A pesquisa não apenas lança luz ao impacto econômico da expansão da oferta digital, mas também detalha em números a importância dessa transformação. É um estudo que contribui significativamente com as organizações públicas e corporações privadas e que ajuda a nortear investimentos nesta agenda para assegurar ganhos competitivos nos mais diversos setores, ajudando o Brasil a dar importantes passos para ser um mercado mais competitivo globalmente”, detalha Tatiana Ribeiro, diretora executiva do Movimento Brasil Competitivo.

O estudo mostra também que o setor produtivo e governo já entendem a importância da transformação e seus impactos para a economia e destaca a mão de obra qualificada como um gargalo para avançar nas estratégias em favor da transformação digital no país que resultará em maior competitividade.

“Também por meio do levantamento, chegamos a outros resultados importantes como a aproximação entre os setores público e privado na construção da regulação de novas tecnologias e ratificamos a infraestrutura e segurança digital como eixos que possibilitam o desenvolvimento de novos modelos de negócio e novas tecnologias. A segurança jurídica também foi destaque no contexto da pesquisa e mostramos que é fundamental um ambiente de negócios que garanta isso para atrair novos investimentos digitais”, complementa a executiva.

Eixos importantes para a transformação digital

O diagnóstico realizado apontou questões fundamentais para o avanço da transformação digital no país. O estudo apresenta uma agenda de propostas para acelerar a digitalização da economia no Brasil e capturar o crescimento potencial mapeado. A agenda foi organizada em sete eixos estruturantes. Infraestrutura, educação e qualificação profissional, geração de conhecimento, acesso a bens e serviços que fomentem a digitalização, transformação do ambiente de negócios e confiança, e segurança cibernética compõem a lista dos seis eixos estruturantes verticais que contarão com indicadores e estratégias para medir seus desempenhos. Já a governança é o eixo transversal que permeia todos os demais.

O retrato da digitalização nos setores da economia

De acordo com um levantamento da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), apenas 20% das empresas do sistema produtivo do país querem ampliar os investimentos em digitalização. Quando avaliado este índice entre as Micro e Pequenas empresas, o percentual diminui para 13%, reforçando que ainda há muito para avançar no que diz respeito à processos digitais.

A indústria se destaca como o setor que mais investe em soluções digitais, como Cloud Computing, Data Analytics, Cibersegurança, Automação de Processos, Sistemas de Gestão Integrada sendo que, para este último, 61,2% das empresas afirmam já ter implementado a ferramenta. Outros setores como o de serviços e comércio apresentam resultados semelhantes com uma média de 36,2% das estratégias digitais implantadas. Já a construção civil se mostra o setor que menos amadureceu nas estratégias de digitalização.

O levantamento da ABDI traz ainda, um retrato sobre o processo de digitalização em áreas internas das empresas como produção, vendas, marketing, pós-venda, serviço ao cliente e finanças e cobrança. A indústria e o comércio são os únicos que superam o patamar de 50% de estratégias digitais implementadas – na indústria, o marketing é o setor que se destaca em digitalização para 54,1% e no comércio, vendas ocupa o maior espaço em digitalização para 50,4% das empresas. No setor de serviços e construção civil, a área com maior maturidade digital é finanças e cobrança, atingindo cerca de 48% e 42% das companhias, respectivamente.

Crescimento digital propõe investimento em educação e qualificação de mão de obra

Investir na qualificação da mão de obra também está associada às estratégias que elevam a geração de valor e inovação e fomentam a cultura digital no Brasil. “Por isso, é fundamental apostar no chamado letramento digital amplo, na educação e na qualificação profissional para as exigências trazidas pela oferta digital que cresce continuamente, além de reduzir a exclusão digital de segundo nível. Todo esse processo passa por acesso a serviços, oportunidades e garante cidadania digital”, reforça Ribeiro.

O balanço feito pelo MBC mostrou ainda que investir em transformação digital demanda educação básica e inclusiva em favor do estímulo às ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) e enfatiza o potencial do Brasil como referência em formação e qualificação para a transformação digital voltada à sustentabilidade, pelos programas de larga escala que geram valor e inovação, indo além do desenvolvimento e produção de bens, serviços e conteúdos digitais transformadores.

“É preciso pensar em iniciativas fortes e alternativas direcionadas para a formação destes profissionais e apoiar parcerias afim de ampliar a oferta de cursos de atualização, capacitação e qualificação profissional, aperfeiçoando e escalando iniciativas com bons resultados”, destaca a diretora executiva.

As evidências apresentadas no estudo mostram que a transformação digital do país é o caminho a percorrer para o “aumento da produtividade do trabalho, um imperativo para o crescimento da economia brasileira no mundo atual. Ela pode ser driver de produtividade e crescimento, uma vez que é transversal a todos os setores: sociedade, governo e setor privado”, ratifica.