Por João Gabriel Chebante
O ano é 1977. Steve Jobs e Steve Wozniack estavam numa garagem do que hoje chamamos Vale do Sílcio numa noite de discursos sobre tecnologia aonde todos os presentes mostravam suas idéias e projetos para desenvolver o computador pessoa.
Depois da sua vez (e, segundo a lenda) uma aparição apática de Woz, Jobs sai do recinto e encontra uma pessoa que ficou previamente interessada no seu projeto. Mike Markulla era um profissional de longa data do mercado de tecnologia naquela região, se interessou pelos perfis dos fundadores da empresa e foi seu primeiro mentor.
Tempos depois, realizou o primeiro cheque (como investidor-anjo) e trouxe consigo o icônico fundo Sequoia momentos depois para rodadas seguintes. E foi conselheiro por toda a primeira etapa de Jobs na Apple, antes de ser demitido por John Sculley.
Para uma startup, a presença de um mentor pode ser um forte diferencial entre a vida e a morte do projeto, por tudo que uma pessoa mais experiente pode trazer: conhecimento do mercado de atuação, contatos, canal de atuação, conselhos técnicos, de gestão e de liderança. Não à toa boas startups logo constroem um conselho, com regras básicas de governança, a partir dos seus primeiros investidores ou mentores.
Mas cuidado: a startup deve estruturar estrategicamente sua rede de mentores. Quais as competências que faltam ou que precisamos buscar? Alguma pessoa experiente no nosso segmento pode agregar abrindo portas e reflexões? Como pretendo compor um grupo de pessoas que traga os pontos citados acima e catapultar o projeto somado a capacidade de execução da equipe?
A não reflexão sobre este prisma traz conseqüências diversas: pessoas que não conhecem o mercado e “palpiltam” sobre temas fora das suas competências, o que pode minar a gestão de expectativa da equipe sobre o projeto como um todo.
Acreditem: tem muito projeto bom, com equipe consistente, que desiste do projeto a partir de uma soma de feedbacks negativos vindos de gente que não são explorados dentro das suas devidas competências. E isso pode acontecer em qualquer momento: dos primeiros clientes a investidores-anjo, fundos e aceleradores.
No entanto nunca se demandou tanta a atividade de mentoria quanto nos últimos meses: se há insegurança quanto o cenário de macro e microambiente de mercado para as maiores empresas do mundo, que possuem liquidez e todos os recursos possíveis, imagina para negócios enxutos que nasceram para confrontar um momento de incerteza?
Fala-se muito das startups a partir de agora também terem um olho sobre o caixa e sua geração a partir de novos projetos e rodadas de investimento, mas também teremos como fator crítico a construção de uma consistente cultura organizacional (o branding será fundamental para sobreviver a ambientes de forte instabilidade), bem como as práticas de governança formatarão a rede de contatos estratégicos para pavimentar uma história de crescimento mais lento, porém consistente.
Geralmente o caos traz a criação de uma nova ordem. Ainda que tenhamos um mundo líquido, com taxas de juros reais negativas em boa parte do mundo (até no Brasil) e um apetite maior ao risco – o que deve gerar um forte crescimento mundial em 2021 – os fundamentos que constroem uma startups de sucesso são outros a partir de agora.
A começar de quem será a rede que vai te auxiliar a explorar este novo normal d oportunidades.
João Gabriel Chebante, fundador da Sucellos, responsável por levar inteligência aos processos de investimento, fusão e aquisição de empresas