Empresas se comprometem a comprar 36,7 gigawatts de energia limpa por meio de contratos de longo prazo, com forte crescimento nas Américas e Ásia-Pacífico: BloombergNEF
Em um cenário de crise energética mundial, gargalos da cadeia de fornecimento e altas taxas de juros, empresas privadas e instituições públicas assinaram contratos para garantir um recorde de 36,7 gigawatts (GW) de energia renovável para alimentar suas operações em 2022, um aumento de 18% em relação a 2021.
O relatório 1H 2023Corporate Energy Market Outlook da BloombergNEF destaca 167 empresas — entre elas, a Amazon, a Ford e o McDonald’s — que anunciaram contratos de compra de energia (PPA, na sigla em inglês) em 36 mercados mundiais. No total, as empresas assinaram PPAs para 148GW de energia limpa desde 2008 — mais do que a capacidade total de geração de energia da França.
“A compra de energia limpa pelas empresas tem sido uma constante inabalável, mesmo quando outros aspectos de investimento em ESG estão sob escrutínio”, disse Kyle Harrison, head de pesquisa de sustentabilidade da BloombergNEF. “As empresas podem acessar energia limpa em grande escala na maior parte dos grandes países, a economia faz sentido e, em meio à turbulência nos mercados de energia, os PPAs se tornaram ferramentas úteis de mitigação de riscos para CFOs”.
Figura 1: Volumes mundiais de PPAs corporativos, por região
Fonte: BloombergNEF. Obs.: Os PPAs locais foram excluídos. O volume da região APAC é uma estimativa. Os PPAs pré-reforma no México e os PPAs de manga na Austrália foram excluídos. Capacidade em MW DC.
As atividades foram aceleradas em duas das três principais regiões. Os contratos assinados (medidos em gigawatts) nas Américas totalizaram o recorde de 24,1GW, um aumento de 18% em relação ao ano anterior, com crescimento nos EUA e na América Latina. Nos EUA, as empresas adotaram o modelo de PPA virtual sob o qual um projeto de energia limpa é vendido diretamente no mercado atacadista para obter o preço spot, em vez de literalmente entregar seus elétrons direto ao cliente. Esses contratos são relativamente fáceis de serem assinados pelos compradores e permitem uma cobertura contra os aumentos de preços de energia elétrica. As mineradoras que buscam energia limpa para alimentar suas operações em áreas remotas do Chile e do Brasil impulsionaram a atividade de PPAs na América Latina.
Na região Ásia-Pacífico a atividade de PPAs corporativos mais do que dobrou para 4,6GW, liderada pela Índia e pela Austrália. Agora, o modelo PPA está amplamente disponível nos principais mercados da região do Japão, China e Coreia do Sul — o que não era o caso até um ano atrás. Espera-se que as atividades em toda a região APAC continue a crescer significativamente à medida que mais e mais empresas estabeleçam metas de energia 100% renovável.
Em 2022, na região da Europa, Oriente Médio e África (EMEA), a atividade caiu para 8,1GW, uma queda de 7% em relação ao ano anterior, principalmente devido à crise energética da região. Alguns desenvolvedores pediram que os PPAs mais ricos refletissem o aumento dos preços gerais de energia na Europa. Outros dispensaram completamente os PPAs e venderam diretamente nos mercados atacadistas. No entanto, a atividade de PPA na região EMEA pode se recuperar em 2023 em razão da baixa nos preços do gás natural e das reformas no mercado de energia elétrica propostas pela Comissão Europeia.
Entre as empresas que assinaram acordos de energia limpa, a Amazon ficou em primeiro lugar com 10,9GW de PPAs assinados em 2022, seguida pela Meta (2,6GW), Google (1,6GW) e Microsoft (1,3GW), ilustrando o domínio contínuo das grandes empresas de tecnologia no mercado. No total, a Amazon anunciou 24,8GW de contratos de compra de energia até o momento, dando-lhe o sétimo maior portfólio de energia limpa do mundo, incluindo serviços públicos. As empresas de tecnologia, em particular, precisarão continuar a comprar energia limpa para atender sua demanda de eletricidade em rápido crescimento.
Figura 2: Principais empresas compradoras de energia limpa em 2022
Fonte: BloombergNEF. Obs.: Os PPAs locais foram excluídos. Os dados são baseados em informações divulgadas publicamente e estão representados na capacidade de corrente direta (DC, na sigla em inglês), não de corrente alternada (AC, na sigla em inglês).
As empresas que assinaram contratos para receber energia limpa em 2022 fizeram parcerias com pelo menos 135 desenvolvedores de projetos de energia elétrica diferentes. A AES Corporation, sediada na Virgínia, encabeçou a lista de vendedores em 2022 com 2,8GW de novos PPAs assinados este ano. Seguida pela Engie (1,6GW) e Acciona (1,1GW). Todas essas empresas ofereceram contratos personalizados para atender aos perfis de demanda de capacidade energética dos clientes.
A lista de empresas comprometidas em alimentar suas operações com energia limpa continua a crescer. Em 2022, 56 novas empresas aderiram à iniciativa global RE100, prometendo atingir 100% do consumo de energia limpa em uma data futura. Em suma, os 397 membros da RE100 adquiriram um total estimado de 249TWh de energia limpa até o momento, mas precisarão de mais 290TWh até 2030 para cumprir suas metas, de acordo com as projeções da BNEF. Para empresas como a Google e a Microsoft, que se comprometeram a atender suas necessidades de eletricidade com energia livre de carbono em todos os momentos do dia, a demanda será ainda maior.
“Estamos vendo uma evolução nas compras corporativas de energia, com empresas caminhando em direção a metas de energia livre de carbono por hora e outras assinando contratos de energia limpa por razões de confiabilidade”, disse Harrison. “Os desenvolvedores que podem fornecer serviços ininterruptos de balanço de energia e frequência (firming and balancing) têm acesso a um manancial de demanda de energia limpa corporativa e estão prontos para se tornar os maiores vencedores deste mercado”.
A BNEF atualiza mensalmente seus dados sobre compras corporativas e publica semestralmente uma perspectiva de mercado sobre a estratégia corporativa relativa à energia.