Por Luis Frade
A forma como fazemos negócios está se transformando a cada dia e os modelos são reinventados por alguma empresa, a toda hora. No jargão das startups, as “dores” que as empresas precisam resolver mudam de abordagem a cada momento.
Quando falamos em inovação em modelo de negócios, sempre alguém cita que o Airbnb não possui nenhum quarto, que a Amazon não possui estoque, que a Uber não possui carros e que o Nubank não tem agências. Esses são alguns dos modelos de negócios mais emblemáticos dos últimos anos, mas não os únicos.
Pouco antes de começar a escrever este texto, estava lendo uma entrevista com Jay Samit sobre seu livro Disrupt You! (Seja Disruptivo!), onde, entre outras coisas, ele cita uma startup que loca um apartamento do Airbnb e o subloca para o cliente final. Sua função é entregar as chaves, cuidar da faxina e dos outros serviços que, normalmente, o dono do imóvel não quer se preocupar. No final das contas, todos saem ganhando. Isso nada mais é do que inovar a inovação.
No final de 2018, a convite do LinkedIn, escrevi um artigo (O que esperar para 2019) sobre as previsões para 2019. Como em todas as previsões, algumas errei e outras acertei, como o declínio do Facebook, por questões de credibilidade em relação ao uso de dados dos usuários. Como o leitor certamente se lembra, houve um vazamento de 82 milhões de dados, em 2018. O próprio Mark Zuckerberg comentou que “Quando penso no futuro da internet, acho que uma plataforma de comunicação focada na privacidade se tornará ainda mais importante do que as plataformas abertas de hoje. Acredito que o futuro da comunicação se tornará cada vez mais privado, com serviços de criptografia que garantam a liberdade e a segurança das conversas dos usuários”. Em outras palavras, o modelo de negócios do Facebook vai mudar. Do contrário, minha previsão se concretizará. Quem aí se recorda do Orkut?
É importante lembrar que muitas reformulações de modelo de negócios são baseadas em tecnologia, porém, é claro que existem outros catalisadores. Lembro que, no início da década de 1990, quando o telefone celular foi popularizado aqui no Brasil pela Motorola (o famoso “tijolão”), ele era utilizado apenas para ligações sem fio, o que já era o máximo. Quando apareceu o primeiro celular que enviava mensagens, foi o maior sucesso. Depois vieram os smartphones e suas novidades. A partir disso, surgiram novos negócios – milhões de brasileiros ganham dinheiro com aplicativos para celular, por exemplo.
Temos 220 milhões de smartphones no Brasil e cerca de 45 milhões de pessoas já utilizaram aplicativos para obter renda. Se pensarmos que o desemprego está patinando na casa de 13 milhões, é razoável concluir que muitos desses ditos “desempregados” estão ganhando alguma renda por meio de um aplicativo. O interessante é que essa tendência veio para ficar, ou seja, as pessoas que até recentemente estavam fora do mercado formal hoje podem fazer parte de uma nova geração de empreendedores.
Até agora, falamos em startups, porém, a necessidade de inovar afeta a todos. Como coordenador do Comitê de Fomento da ANPEI, visitei a Bosch, em 2018, em Campinas. Algo me chamou muito a atenção na apresentação institucional da empresa: o CEO global da Bosch, avaliando os cenários derivados da Inovação 4.0, composto por Internet das Coisas (ioT), mobilidade autônoma, impressão 3D, comunicação 5G, computação na nuvem e outras inovações, decidiu que era hora de reinventar a empresa.
O gerente de inovação comentou que, durante muito tempo, a companhia foi conservadora, desenvolvendo internamente ferramentas, componentes e soluções para os clientes. Agora, promove a inovação inside e outside ao mesmo tempo. Estimula empreendedores internos a desenvolver soluções que possam ser comercializadas e, paralelamente, estimula empreendedores externos a criarem produtos e serviços a partir de demandas (ou dores) dos clientes da companhia.
Em suma, a empresa ajustou o seu modelo de negócios, adequando-se aos novos tempos e às atuais demandas dos consumidores. Independentemente do porte, o que se espera dos negócios hoje é que eles sejam capazes de reconhecer quando é preciso mudar – antes que seja tarde.
Luís Cláudio Silva Frade, Assistente do Diretor de Gestão Corporativa da Eletronorte, Coordenador do Comitê de Fomento à Inovação da ANPEI e membro do Comitê Técnico da Conferência ANPEI 2019