Como empresas com estratégias e equipes flexíveis acabam por inovar mais

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Por Ana Julia Ghirello, fundadora da AbeLLha

Eu não sou uma pessoa que toma novas direções, produz ou age depois de análises profundas, pesquisas acadêmicas ou estudos. Geralmente conecto pontos por associações empíricas, uso o gut feeling, presto atenção à momentos “ahá!” e planejo (hoje, muito mais do que antes). Existe, claro, um lado ruim com esse approach às vezes dava pra ter errado um pouco menos em determinadas situações mas acho que ganho muito, também, na agilidade e flexibilidade de deixar meus negócios fluírem de forma mais orgânica e inovadora.

Foi assim há 2 anos com a criação da abeLLha – incubadora de negócios de impacto social focada pra quem tem negócios em estágio inicial. Na época eu estava ajudando no desenvolvimento de duas empreendedoras e comecei a perceber que poderia expandir a metodologia para um número muito maior de pessoas. A abeLLha nasceu em 2016 a partir desta experiência, ainda tentando entender “quem éramos” à medida que operávamos. Só começamos a perceber onde nos encaixávamos no mercado de impacto, as complementaridades e posicionamento, depois de mais um menos 18 meses. Não ter isso fixo desde o começo foi essencial para encontrar nosso nicho dentro do que fazemos bem e do que o mercado busca.

O ex-McKinsey, Frederic Laloux, autor do aclamado Reinventing Organizations (Reinventando Organizações, quase traduzido no Brasil), vem estudando o caminho evolutivo das organizações (olhando para como nos organizamos há mais de 10 mil anos). Um dos pontos que ele menciona é a capacidade de novas empresas terem uma fluidez maior: o Propósito Evolutivo.

Propósito Evolutivo é, na visão do Laloux, entender que a organização em si é, também, um organismo vivo em constante mudança. Ficar atento a caminhos e evoluções fora do planejamento (a nossa famosa tentativa de controle, né?!) pode trazer mais inovação, melhores resultados e novos negócios.

Deixar isso acontecer não é fácil, pois vai um pouco na contramão do que estamos acostumados: um planejamento detalhado, controlado e pronto para execução. Criar uma cultura onde todos (e não só gerente e diretores) se sentem confortáveis e existe processo para questionar uma estratégia ou projeto atual é, também, determinante.

Hoje, refletindo sobre a teoria, penso que se a gente não tivesse começado a abeLLha de forma totalmente aberta, e por vezes caótica, a gente nunca teria aberto espaço para a criação do Honeycombâ??—â??que é uma ferramenta de gestão estratégica baseada nos OKRs (Objectives and Key Results), um sistema para definir metas relevantes e que cascateiam para a organização) com alguns componentes de gestão horizontal (baseados na Holocracia) a que nasceu pra ser a nossa metodologia de gestão interna e hoje virou uma empresa separada.

Como ter uma organização fluida e que abre muito mais espaço para a inovação?

Resumindo: planejar sem estar casado com o planejamento e dar abertura real para todos questionarem a sua estratégia!

Acho importantíssimo um direcionamento claro, definir metas e olhar de perto a eficácia da execução. Porém, não insistir no que não vinga e abrir os olhos para o que acontece, muitas vezes, pela tangente é tão importante quanto.

Alguns pontos que considero essenciais:

Propósito: essa palavra está gasta, mas se todo mundo dentro da sua equipe compra de verdade o sonho da empresa, pensar constantemente em como evoluir é uma tarefa infinitamente mais simples. O trabalho de tentar ser melhor, buscar novos experimentos e hipóteses virá muito mais naturalmente quando se acredita no que se faz. A gente, por exemplo, contrata por propósito e valores compartilhados primeiro, habilidades vem depois.

Mindset experimental: criar uma cultura que celebra autonomia para a geração de hipóteses a serem validadas com experimentos é a melhor maneira de gerar um ambiente propenso a inovar. Deixar opiniões pessoais de lado e focar em respostas baseadas em dados é essencial. Tirar de campo o ego e se deixar ser questionado por todos é difícil mas enriquecedor.

Estrutura e disciplina: uma vez que se enxerga, a partir de experimentos, um novo projeto, nova ideia ou novo braço de negócio, é muito importante focar na continuidade da execução para que uma faísca se torne algo tangível. Muita gente deixar morrer uma nova ideia ou projeto em potencial por falta de foco, planejamento e disciplina.

Exercitar o desapego: saber entender que certos projetos, metas e tarefas talvez não estejam retornando resultados relevantes e cortá-los é importantíssimo. Mais importante ainda é ter uma cultura que permita esse desafio independente de cargo. Os seus “nãos” são a maior reafirmação dos seus “sins”.

Ana Julia é apaixonada por criar empresas e produtos voltados para potencializar o desenvolvimento humano, onde o foco é no propósito do negócio e como ele toca as vidas de quem o utiliza. Fundou a AbeLLha em agosto de 2015, uma incubadora que tem como objetivo trabalhar com startups que contribuam para um mundo mais horizontal, onde se prioriza pessoas e um ambiente sustentável, antes do lucro.