Por Mariana Faria
O investimento em ESG (Environmental, Social and Governance) é um requisito imperativo tanto para a atualidade quanto para o futuro. Essa é a conclusão apontada pela publicação “Fifth global institutional investor survey – How will ESG performance shape your future?”, lançada pela EY em julho deste ano, que traz as quatro principais razões para esta visão: a maior aposta nas questões ambientais, sociais e de governança, por parte dos investidores; a desconexão entre o desempenho de ESG e a necessidade de dados concretos e padronizados; o uso destas informações para determinar o valor de um negócio; e o futuro da performance em ESG com base em transparência e credibilidade.
No entanto, para atuar nestas questões, é necessário que as empresas tenham a adequada visão, gestão e o reporte de riscos de ESG aos quais estão expostas. É de suma importância que as companhias tenham ciência das ameaças associadas a estas questões, assim como seus investidores, e que consigam entender as possíveis crises às quais estarão sujeitas caso não consigam realizar uma gestão adequada dos riscos relacionados.
De acordo com o Relatório de Riscos Globais 2020, do Fórum Econômico Mundial, os riscos referentes ao meio ambiente assumiram, pela primeira vez, as cinco primeiras posições do ranking no quesito probabilidade, além de serem listados como primeiro, terceiro e quarto lugares no quesito impacto. Vale ressaltar que a falha nas ações para as mudanças climáticas assumiu as posições 1 e 2 para impacto e probabilidade, respectivamente.
Outra importante razão que resulta neste olhar voltado para ESG é o fato de que 200 das maiores empresas do mundo já estimaram que as mudanças climáticas podem custar quase US$ 1 trilhão a elas, no caso de uma inércia em relação à questão. Além disso, reconhecem que há oportunidades significativas para o negócio, ao se adotar as estratégias corretas. Tanto essas companhias quanto os bancos centrais veem as mudanças climáticas como um risco sistêmico para o mercado de capitais global e reconhecem que não fazer nenhuma ação não é uma opção.
No momento, mais de 40 bancos já estão examinando como as mudanças climáticas podem ser integradas em seus aspectos econômicos e financeiros. De acordo com o Banco da Inglaterra, por exemplo, empresas de indústrias com base em matrizes não renováveis podem ir à falência se não entenderem o risco de seus modelos de negócio se tornarem obsoletos, à medida que os investimentos seguem para alternativas de emissão líquida zero de carbono. A comunidade de investidores também está respondendo aos riscos climáticos, com o lançamento da Net-Zero Asset Owner Alliance, convocada pela ONU.
Para endereçar estes riscos é necessário trabalhar nas seguintes frentes:
• Melhorar a conexão entre dados financeiros e não financeiros, já que investidores consideram que há um abismo entre eles;
• Construir uma abordagem mais robusta para os riscos de ESG, como o TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures), visto por investidores como uma abordagem valiosa para divulgação dos riscos;
• Adquirir maior disciplina nos processos e controles dos relatórios não financeiros, baseando-se em métricas específicas valorizadas pelos investidores, dentro da lógica de análise, visando gerar credibilidade e confiança.
Diante deste cenário, é primordial que governos e empresas identifiquem e priorizem os riscos das questões ambientais, sociais e de governança, desenvolvendo métricas e estratégias para gerenciá-los. Isso se tornará essencial não só para redução das emissões, mas também para desenvolver estratégias de adaptação coerentes, incluindo infraestrutura à prova de clima, preenchendo a lacuna de proteção do seguro e aumentando financiamentos de adaptação público e privado.
Mariana Faria, Gerente Sênior de Sustentabilidade e Mudanças Climáticas, EY
Fontes:
Relatório de Riscos Globais 2020, do Fórum Econômico Mundial.
Fifth global institutional investor survey – How will ESG performance shape your future?