CEO da Alura explica que a carreira “dev” está sendo ampliada pelo avanço de tecnologias, como IA, dados e automação do mercado de trabalho
O avanço tecnológico tem promovido mudanças significativas em diversas carreiras e gerado novas demandas no mercado de trabalho. Um exemplo marcante dessa evolução é a área de Tecnologia da Informação (TI), que expandiu nos últimos anos para além de um setor técnico e nichado.
Paulo Silveira, CEO e cofundador da Alura, maior ecossistema de educação em tecnologia do país, reforça essa tendência com base na projeção da Sequoia Capital, empresa de capital de risco, de que caminhamos para um cenário onde teremos um bilhão de desenvolvedores em todo o mundo, em um futuro próximo. Essa previsão, impulsionada pela ascensão da Inteligência Artificial (IA) e pela automação de tarefas, tem redefinido o perfil desses e de outros profissionais, e aberto portas para carreiras em diversos setores. “A perspectiva de crescimento dos desenvolvedores se materializa com a inclusão de cada vez mais profissionais denominados ‘devs’”, comenta.
O executivo explica que esse número impressionante pode ser justificado, principalmente, pelo aumento natural de dois tipos de desenvolvedores: os “tradicionais” e os “emergentes”. O primeiro refere-se ao profissional que já conhecemos, experiente e focado em desenvolver códigos cada vez mais complexos. Aquele que trabalha com linguagens de programação, back-end, front-end e infraestrutura.
O segundo grupo é formado por profissionais da área que estão democratizando a criação de software com ferramentas de desenvolvimento intuitivas, seja por automações de dashboards e de relatórios ou por meio de plataformas low-code e no-code, além da inteligência artificial. Esses indivíduos utilizam soluções acessíveis para resolver problemas específicos, sem precisar de um conhecimento específico de programação: vão utilizar o pensamento computacional aplicado a um conhecimento técnico de ferramentas.
“O mercado sempre teve muitas oportunidades para os desenvolvedores: inclusive houve uma expansão com a chegada dos smartphones, da necessidade de interfaces com usuário, profissionais de UX, de front-end e mais recentemente de análise de dados”, explica Silveira. Com essa nova tendência, acredito que teremos ainda mais vagas de emprego surgindo, em carreiras que ainda não conhecemos”, complementa.
Segundo o executivo, isso impactará não apenas no desenvolvimento de software em si, mas especialmente em funções que exigem habilidades híbridas — combinando conhecimento de domínio com habilidades técnicas básicas. “Essas pessoas não necessariamente serão chamadas de DEVs”, explica.
O GitHub, a maior plataforma de hospedagem de código-fonte do mundo, que hoje é da Microsoft, confirma essa expansão exponencial da comunidade de desenvolvedores, ao alcançar mais de 100 milhões de usuários em 2023. Thomas Dohmke, CEO da empresa, mencionou em uma de suas palestras que, graças à IA, as barreiras de entrada para a codificação estão diminuindo rapidamente — tornando o ato de criar software mais simples (e talvez divertido?) quanto construir com LEGO.
Novas tecnologias, novas carreiras
As evoluções tecnológicas fizeram com que a carreira de desenvolvedor se diversificasse em várias especializações: desenvolvimento web, mobile, ciência de dados e inteligência artificial (IA). Dentro deste último campo, por exemplo, a Universidade de Oxford e o portal Indeed já indicam que aqueles que possuem competências nesta tecnologia podem aumentar seu salário em até 40%.
Olhando para essa tendência, Silveira ressalta que o setor sempre foi conhecido por sua constante adaptação aos novos cenários. “Em uma linha do tempo, vejo o avanço do mercado desde o surgimento de linguagens de programação, como Java e C#. Depois, a transição de ensinar linguagens específicas para as mais populares, como a passagem de Scheme para Python dentro do principal curso de computação do MIT. Em seguida, o aparecimento de frameworks que atuam de ponta a ponta, como Rails e Spring, que trouxe outro salto de produtividade e um mercado maior para devs”, analisa.
“Por fim, a nuvem (cloud) facilitou a entrada de novas pessoas na programação, assim como o mercado de aplicativos para smartphones, onde o low-code e o no-code se destacaram. Essa evolução reflete uma renovação cíclica”, acrescenta.
“Citizien Developer”
Apesar do crescimento significativo nas áreas de TI, o CEO da Alura acredita que o número de 1 bilhão de desenvolvedores projetado pela Sequoia também inclui profissionais de setores não técnicos. “Esses indivíduos, que atuam em áreas como marketing, recursos humanos e finanças, estão adotando tecnologias para automatizar processos e aumentar a eficiência em suas funções. Essa nova categoria de profissionais amplia o conceito de “desenvolvimento de software”, sendo reconhecida pela Gartner como Citizen Developer”, explica.
Silveira destaca ainda que se enquadram nesse conceito os profissionais que utilizam ferramentas e linguagens de programação para consultas a bancos de dados, geração de relatórios em SQL ou pequenas automações com soluções digitais, como Zapier, Dropbox, Slack e Teams.
“A busca por profissionais multifacetados, capazes de transitar entre diferentes áreas do conhecimento e da tecnologia, é uma realidade em todos os setores. É o tal do profissional em T, onde aqueles que atuam no Financeiro passam a usar SQL, no RH dados e dashboards e em Vendas disparos automáticos com fluxos do CRM. Essas são algumas realidades em diferentes empresas”, afirma o executivo. Essa demanda crescente abre portas para quem busca uma mudança de carreira, impulsionada pelo desejo de transição profissional manifestado por 53% dos entrevistados em uma pesquisa da consultoria da RH EDC Group.
Para o desenvolvedor e executivo da Alura, essa realidade e a mudança de paradigma no setor de TI reforçam a importância da formação e do aprendizado contínuo, permitindo que os profissionais se mantenham relevantes em um ambiente em constante transformação. “Com a evolução digital, o papel dos desenvolvedores vai além da codificação; agora eles atuam na criação, manutenção e aprimoramento da inovação, ‘pilotando’ a tecnologia de acordo com as suas necessidades. E os “emergentes” chegam para complementar e expandir esse movimento”, conclui.
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