Brexit: entenda como a mudança pode afetar a economia global

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A palavra Brexit, formada pelos termos Britain (Grã-Bretanha) e exit (saída), provavelmente foi uma das mais faladas nos últimos dias. A questão vinha dividindo a população, como mostravam as pesquisas de intenção de votos antes do referendo. A pesquisa mais relevante, da YouGov, mostra uma disputa acirrada em que 44% estavam a favor de continuar na União Europeia e 43% eram contra.

De um lado estavam os pró-saída, ancorados, principalmente, pelo partido nacionalista, sob a liderança de Nigel Farage, defendendo maior soberania da Reino Unido. Do outro, havia os defensores pela continuidade no bloco, a favor de manter a aliança entre as nações, bem como a manutenção dos acordos bilaterais estreitados.

O mercado financeiro demorou para se atentar à complexidade do evento. Entretanto, com uma sequência de quatro quedas consecutivas das principais bolsas europeias, bem como seu impacto nos índices acionários e nas moedas globais, os investidores passaram a analisar cautelosamente os desdobramentos do Brexit .

Principais preocupações antes da votação

Um dos principais afetados pelo Brexit seria o mercado financeiro. O aumento das incertezas juntamente com maior volatilidade dos mercados ocasionariam grandes pressões e choques financeiros impactando e retraindo a demanda europeia, que por sua vez impactaria a economia de outros países.

Segundo os analistas do HSBC, a saída do Reino Unido da União Europeia causaria uma desvalorização de 15% na libra esterlina em relação ao dólar. Além disso, diversos outros tipos de ativos também seriam impactados. As principais preocupações do HSBC eram o aumento descontrolado da inflação e dos custos de trabalho, combinados com uma desvalorização de aproximadamente 20% da libra em relação ao euro.

O banco também temia um abrandamento econômico que poderia reduzir para metade o crescimento do Reino Unido previsto para 2017. As potenciais dificuldades econômicas e financeiras pressupostas pelo HSBC abrangiam a manutenção das taxas de juros nos atuais mínimos históricos.

Os analistas do Credit Suisse viam os desdobramentos do Brexit atingindo negativamente o PIB, ocasionando uma recessão de 1% a 2% no segundo semestre de 2016. Os fatores que explicariam essa queda são: a incerteza que assolaria a confiança dos consumidores e do empresariado, bem como o aumento da inflação decorrente do processo de depreciação da libra esterlina. Os analistas também acreditavam que o Brexit poderia dar forças aos movimentos pró-nacionalistas, principalmente no sul da Europa, causando grande volatilidade à União Europeia.

Os EUA também foi um dos países cotados para sofrer possíveis danos. Diante de uma queda de capital alocado em terras britânicas, a crença é de que haveria um recuo nos preços das ações e valorização do dólar. Isso poderia alterar as perspectivas de crescimento e inflação nos EUA por causa da fuga de capital para o mercado norte-americano. O que também influenciaria o retardamento mais uma vez do aumento da taxa de juros por parte do FED (Federal Reserve), o banco central do país.

As reações do mercado logo após a votação

O encerramento da votação aconteceu na noite da última quinta-feira, 23 de junho. Como os investidores temiam, o Brexit ganhou por maioria. A votação ficou em 51,9% para os que defendiam a ruptura com a União Europeia, e 48,1% para os que era a favor da manutenção do Reino Unido no bloco econômico. A vantagem dos pró-Brexit foi de pouco mais de 1 milhão de votos, significando um resultado bem apertado.

Logo após a confirmação da saída, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron renunciou ao cargo. Em comunicado, o líder disse manter-se na cadeira até outubro, quando acontecerá a reunião de seu partido. Cameron, que era contra o Brexit, disse acreditar que um novo rosto deveria conduzir os britânicos nessa era de mudanças.

O resultado da votação causou um alvoroço no mercado financeiro. As principais bolsas ao redor do mundo apresentaram quedas severas. O primeiro pregão após a validação do Brexit demonstrou uma onda vendedora significativa referente aos ativos de países europeus.

A Bolsa de Londres caiu quase 6%, sendo que grande parte desse percentual está relacionada a ações de bancos e grandes instituições, como Barclays e Royal Bank of Scotland. O índice FTSE 100, um dos principais da bolsa londrina, apresentou uma perda de 120 bilhões de libras esterlinas (cerca de 550 bilhões de reais) já nos primeiros minutos do pregão.

A concordância da maioria dos britânicos em romper com a União Europeia afetou bastante os mercados globais. A cotação da moeda do Reino Unido chegou ao menor patamar dos últimos 30 anos: a libra esterlina esteve cotada US$ 1,3483. O iene, por sua vez, operou em alta se comparado ao dólar. Isso porque a moeda japonesa é bastante conceituada no mercado de câmbio por ser bastante segura e costuma ganhar mais destaque em cenários de instabilidade.

O preço do petróleo também sofreu com a notícia de mudança. O valor da commodity teve queda significativa devido ao receio de que haja desaceleração econômica na Europa e, consequentemente, ocorra redução da demanda.

No mercado interno, a BM&F Bovespa também sofreu implicações relativas à movimentação intensa. Com a abertura do mercado, o Índice Bovespa chegou ao patamar de 3% e o dólar chegou a atingir R$ 3,45, mas consolidou-se em R$ 3,38.

Fonte: Toro Radar