Brasil tem potencial de liderar o combate no aquecimento global com políticas de armazenamento de carbono, dizem especialistas

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Soluções tecnológicas de descarbonização incluem também está ligada à bioenergia e têm potencial para serem mais efetivas que soluções de reflorestamento

O Brasil iniciou o ano de 2023 com decretos e medidas que sinalizam novas políticas ambientais e que visam colocar o Brasil como uma figura ativa e protagonista nas discussões ambientais internacionais. Segundo Isabela Morbach e Nathália Weber, fundadoras da CCS Brasil, uma organização sem fins econômicos criada com a missão de promover a cooperação entre academia, governo, financiadores, indústria e sociedade para o desenvolvimento das atividades de Captura e Armazenamento de Carbono no Brasil para fortalecer um futuro sustentável.

Para as especialistas o ano deve ter na agenda medidas como a reativação do Fundo Amazônia e Fundo Nacional do Meio Ambiente, a criação de um Ministério dos Povos Originários, entre outras políticas públicas que retomam a preocupação do país em relação ao combate às mudanças climáticas e de proteção à biodiversidade. “O país tem potencial para liderar ações fundamentais de redução das emissões de gases de efeito estufa em escala global. Seja por meio da capacidade de fixação de CO2 em florestas e áreas de reflorestamento, pela capacidade de geração de energias limpas e sustentáveis ou por meio da implementação de soluções tecnológicas para a transição para uma economia de baixo carbono”, dizem.

Para elas, as tecnologias de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS), são, por exemplo, ferramentas capazes de captar as emissões de carbono vindas de indústrias e remover moléculas que já estão na atmosfera. Essa remoção é conhecida como uma solução de “carbono negativa” ou de “emissões líquidas negativas” (Carbon Dioxide Removal, CDR na sigla em inglês). Além da captura direta de ar, também pode estar ligado à produção de bioenergia (como bioetanol, biogás e biomassa). “As soluções tecnológicas de descarbonização, nas quais o CCS se enquadra, são de grande importância às soluções baseadas na natureza (como florestamento e reflorestamento) e podem se destacar nas estratégias que visam reduzir o aumento da temperatura na Terra nas últimas décadas”, avalia Morbach.

De acordo com um estudo da Universidade de Oxford de janeiro de 2023, as soluções baseadas em tecnologias capazes de remover carbono (em inglês, CDR) possuem papel importante para a descarbonização e para a contenção do aquecimento global e como elas podem ser alternativas importantes para acelerar o cumprimento das metas internacionais que têm se tornado cada vez mais defasadas por conta da falta de esforços de governos pelo mundo. Além disso, as projeções incluem soluções que possam reduzir, entre 2020 e 2100, entre 650 e 250 bilhões de toneladas de CO2.

“Vale ressaltar, ainda, a área de energia, onde a descarbonização também é estratégica. A Agência Internacional de Energia projeta que as operações de projetos de CCS devem se expandir de 40 milhões de toneladas de captura de CO2 por ano (capacidade avaliada em 2020) para 1,6 bilhão em 2030 e, então, para 7,6 bilhões em 2050. Desse montante, é esperado que 95% do total de CO2 seja armazenado de forma permanente em reservatórios geológicos”, ressalta Weber.

Segundo a especialista, o país tem se posicionado bem para desenvolver e implementar essas tecnologias, seja na neutralização das emissões de setores específicos, seja na remoção de carbono da atmosfera. Somado a isso, o Brasil possui grandes concentrações de concentrações de fontes de emissões de CO2 a serem capturadas, o que facilita a construção de clusters e hubs de CCS, reduzindo custos e otimizando a logística. “Para que haja a regulamentação da exploração dessas atividades no país, também está tramitando no Senado Federal o Projeto de Lei nº 1425/2022. O projeto ainda aguarda relatório da Comissão de Infraestrutura. Uma audiência pública realizada sobre o assunto também trouxe avanços para o debate sobre o setor”, complementa Morbach.

Para as fundadoras da CCS Brasil, não se pode deixar de lembrar que a experiência da indústria de óleo e gás brasileira que pode ser uma aliada importante em relação ao aproveitamento do subsolo para as atividades de armazenamento permanente de CO2, dada a sua expertise na exploração de reservatórios geológicos. Além disso, no agronegócio também há possibilidades muito interessantes como no processo de produção do etanol (conhecido como BECCS), no aproveitamento da biomassa para geração de energia termoelétrica, a expansão do uso do biogás e a produção de bioetanol.

“É preciso divulgar oportunidades, promover integrações, expandir conhecimentos, fomentar a cooperação e captar investimentos para esse mercado, além de buscar a regulamentação do setor. Essa é uma janela importante para a sustentabilidade, mas também para o desenvolvimento econômico do país e que não pode ser desperdiçada”, finalizam.