Por Carlos Netto, CEO e cofundador da Matera
Produtos e serviços financeiros nunca estiveram tão presentes em nossas vidas. Abrir uma conta digital é tão fácil quanto criar um novo e-mail, realizar um pagamento pode ser mais rápido do que enviar uma mensagem de texto e até mesmo dar início à própria fintech deixou de ser algo improvável, mesmo para quem não tem muita familiaridade com o segmento.
Tudo isso caracteriza um momento muito especial no mercado financeiro brasileiro, no qual as instituições e a população estão protagonizando uma grande transformação, pautada principalmente pela inovação, competitividade, interoperabilidade e redução das barreiras de acesso. Por isso, chamar esse movimento de Banking Revolution é bastante apropriado – as mudanças estão acontecendo rapidamente, alterando de forma drástica as relações de todos os players deste grande ecossistema, que por muito tempo foi conservador.
Se antes só contávamos com os bancões tradicionais para guardar nosso dinheiro, fazer investimentos ou obter empréstimos, por exemplo, hoje o leque é bastante variado. A ascensão das fintechs na última década é um dos grandes motivos – são mais de 1000 instituições que se encaixam nesse perfil atualmente, oferecendo produtos e serviços financeiros na ponta, mas tendo a tecnologia em seu core. Os bancos digitais também deixaram a disputa pelos clientes acirrada e não é raro encontrarmos correntistas que nunca estiveram em uma agência física – são tempos que ficaram para trás, tempos cringe.
As empresas do varejo também vêm puxando essa revolução, criando suas próprias contas digitais e aproveitando para rentabilizar as milhões de transações geradas por seus clientes, colaboradores e toda cadeia de valor diariamente. Nada mais conveniente para o cliente final – você acessa o app da sua loja favorita, faz o pedido e paga pelo produto ali mesmo, com sua conta digital da própria loja e ainda ganha descontos por isso. Para as empresas, é mais controle sobre os dados e o dinheiro. Para os clientes, mais agilidade e praticidade.
Com esse modelo, tudo passou a ficar concentrado no mesmo ambiente: marketplace, pagamento e publicidade – modalidades que antes estavam segregadas. Os pagamentos não acontecem mais somente pelos bancos ou por meio de intermediários, a publicidade dos produtos não está mais restrita aos veículos tradicionais e os produtos não são encontrados exclusivamente nas lojas. Gosto de imaginar um futuro, não muito distante, no qual poderemos eventualmente colocar no mesmo carrinho de compras online uma garrafa de leite, uma peça de roupa e um CDB. Imagine só?
E essa “fintechzação” vai além, atingindo as empresas de telecomunicação, bens de consumo e serviços. Um dos grandes responsáveis por permitir que essas contas tão variadas estejam conectadas é o Pix, que viabilizou o surgimento do que venho chamando de Internet das Contas. Fazer transferências entre bancos e fintechs ou pagar contas de luz, água ou gás pelo app de qualquer fintech ou banco só é fácil hoje em dia por conta da rede de Pagamentos Instantâneos. O Pix conectou diretamente todas as contas transacionais, sem intermediários, habilitando um ambiente altamente inovador e competitivo.
O melhor de tudo foi a possibilidade de inserir a população desbancarizada no sistema financeiro com uma tecnologia acessível e de uso fácil. “Fazer um Pix” se tornou parte do nosso dia a dia. Como o Breno Lobo, um dos responsáveis pelo Pix no Banco Central, já comentou, suas possibilidades são tão vastas que o fato de ser instantâneo chega até a ser secundário.
O Banking Revolution conta ainda com diversos outros propulsores, que vêm ganhando mais atenção da mídia recentemente: temos o Open Banking, que já está dando seus primeiros passos, e a Moeda Digital (CBDC), que chegará nos próximos anos – novidades que serão complementares aos modelos citados previamente e que contribuirão ainda mais com a digitalização do sistema financeiro e com a experiência do cliente final.
Muitos me perguntam se acredito que os bancos tradicionais são os grandes prejudicados nesse novo contexto. Sempre respondo que “não”, pois acredito que terão a chance de se posicionar como verdadeiras plataformas. Além disso, gosto de reforçar a importância de uma postura que vá além da preocupação apenas com os regulatórios, mas que se dedique a identificar novas oportunidades de negócio, inclusive por meio de parcerias com fintechs.
Por fim, não podemos deixar de mencionar a liderança do Banco Central. Com a Agenda BC#, o órgão regulador vem promovendo a inovação, concorrência e inclusão, com um ritmo acelerado e de forma colaborativa com as instituições e a sociedade. Incentivando o diálogo e focando na melhoria de vida da população por meio da evolução do nosso sistema financeiro, a autarquia desempenha um papel essencial no Banking Revolution.
São muitos assuntos quentes, que seguem em plena evolução. A revolução está em curso, mas ainda longe de acabar. Os próximos anos serão intensos e de muitas novidades – utilizar e trabalhar com produtos e serviços financeiros fará cada vez mais parte das nossas rotinas. Você já percebeu como as coisas estão mudando? Então se prepare, porque estamos só no começo!
*Carlos Netto é cofundador e CEO da Matera. Possui mais de 30 anos de experiência na transformação digital do mercado financeiro, especialista em Banking, Fintechs e Pix.