Acesso a financiamento e capital é o principal desafio das startups de impacto no Brasil

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Os dados são do Startups de Impacto Report Brasil 2024, que ouviu 408 empreendedores de negócios inovadores com foco no socioambiental; 46,74% das startups se encontram no estágio de incubação/aceleração
 

Uma grande parcela dos empreendedores que se aventuram pelo mundo das startups está focada em solucionar desafios sociais e ambientais.O Startups de Impacto Report Brasil 2024, iniciativa inédita do Observatório Sebrae Startups, conversou com 408 empresas buscando compreender o ecossistema de impacto, que se preocupa em resolver ou mitigar algum problema socioambiental.
 

Um dos resultados da pesquisa, que mapeou startups em todos os estados do país, foi que mais da metade delas foca seus esforços em resolver questões do meio ambiente, como a redução de gases de efeito estufa e a gestão de resíduos. Essas startups costumam ser chamadas de greentechs, ou cleantechs. Já em relação às preocupações sociais, os objetivos são o suporte ao empreendedorismo e a inclusão de públicos excluídos e sub-representados na sociedade.

Em ordem de relevância, estão as principais problemáticas socioambientais que as startups se propõem a solucionar são:
 

  • 18,70% Reciclagem e gestão de resíduos
  • 18,33% Redução de emissão de gases efeito estufa
  • 17,59% Uso sustentável de recursos naturais
  • 12,78% Logística reversa
  • 11,48% Produção agrícola sustentável
     

Durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu uma agenda mundial de dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a serem atingidos até 2030. No Brasil, mais da metade das startups de impacto participantes deste estudo atuam em três dos ODSs. Em ordem de relevância estão:

  • ODS 12 – consumo e produção sustentáveis,
  • ODS 11 – cidades e comunidades sustentáveis
  • ODS 10 – redução de desigualdades

Perfil das startups de impacto

Cerca de 60% das startups de impacto mapeadas estão concentradas nas regiões Sudeste (41,42%) e Nordeste (21,08%). Já as regiões Sul e Norte apresentaram uma participação semelhante no número de startups de impacto, contribuindo com 15% cada܂Vale observar que apesar de uma representatividade nacional semelhante, o tamanho da população da região norte é a metade da população do sul – isto é, região Norte tem quase metade dos habitantes que a Sul, nesse sentido, a região ganha destaque em critérios de concentração. Por fim, a região Centro-Oeste, conta com 6% das startups de impacto nacionais.
 

No mapeamento, foi possível encontrar startups fundadas a partir de 2011, mas foi apenas em 2021 que correu um aumento significativo no surgimento de startups de impacto, crescimento pode ser atribuído a diversos fatores, como:

  • a crescente conscientização da população e de empreendedores sobre questões sociais e ambientais;
  • a pandemia de COVID-19, que acelerou a digitalização de muitos setores, permitindo maior acesso à informação e a recursos para solução de problemas;
  • o lançamento pelo governo brasileiro, em 2017, da Estratégia Nacional de Economia de Impacto – ENIMPACTO, articulando diversos atores objetivando a promoção de um ambiente favorável ao desenvolvimento de investimentos e negócios de impacto;
  • o fortalecimento do ecossistema de suporte para esses negócios por meio de programas estaduais e nacionais de aceleração, como o Inova Amazônia do Sebrae.

Os dados analisados apontam que Educação é a área de maior atuação das startups, com 13,53%, seguido por Agronegócio (10,88) e Saúde e Bem-Estar (10,88).


Falando de modelos de negócio, o B2B (business to business) é adotado por quase metade das startups de impacto. Neste modelo, o cliente das empresas são outras empresas, e não um consumidor pessoa física. 65% das startups possuem processos direcionados para mensuração de impacto socioambiental; 46,74% das startups de impacto encontram-se em processo de incubação/aceleração e suporte para a validação e escalabilidade de seus modelos de negócios é uma das demandas mais importantes para 28,92%.
 

Aspectos financeiros

Uma vez que 40% das startups de impacto encontram-se nos estágios de ideação e validação do produto, quase metade delas ainda não faturam – – informação condizente com este estágio de maturidade.
 

Dentre as que já possuem receita, boa parte fatura até R$ 360 mil. Das startups de impacto mapeadas no estudo, apenas 12,5% faturam até $4,8 milhões de reais anuais e apenas 1,7% apresentam faturamento superior a esse valor.
 

Desta forma, os investimentos também estão em fases iniciais. Grande parte é proveniente de amigos e familiares (ou FFF, family friends and fools, em inglês), fonte que representa quase 40% de todo investimento recebido pelas startups de impacto. Muitas, entretanto, não receberam capital externo e foram financiadas exclusivamente por seus próprios fundadores (35%). Apesar de o fomento público ser relevante para o desenvolvimento de novos produtos e incentivo à inovação, menos de 15% das startups foram beneficiadas com algum recurso público.
 

Apesar do pouco investimento levantado pelas startups de impacto, no Brasil há um cenário de crescimento de investidores institucionais de impacto. No Brasil, existem diversos fundos de investimento com foco em negócios de impacto, como a VOX Capital, a Sitawi e a Mov Investimentos.
 

Em 2021, o volume de ativos para investimento em negócios de impacto sob gestão alcançou R$ 18,7 bilhões, com um crescimento de 60% em relação aos R$ 11,5 bilhões do ano anterior.
 

Com relação aos valores já captados pelas startups pode-se destacar:

  • 40% até R$100 mil;
  • 26% entre R$100 mil e R$299 mil;

As faixas superiores, entre R$300 mil e R$10 milhões, representam proporções decrescentes, com destaque para valores acima de R$6 milhões, que compreendem apenas 2% do total. Essa análise sugere uma diversidade de capital, com a maioria das startups operando com financiamento inicial relativamente modesto, que não vem de financiadores especializados em impacto.
 

Diversidade e desafios

A participação feminina é maior entre o quadro de fundadores de startups de impacto quando comparadas às startups convencionais – informação baseada no Startups Report Brasil 2023. Se as startups convencionais contam com 9% de confundadoras mulheres, as de impacto alcançaram a marca expressiva de 41%. Ou seja, ainda que seja necessário mais esforços para ampliar a participação feminina no mundo empreendedor, as startups de impacto apresentam um número muito mais proeminente em relação à média geral das startups.
 

No que diz respeito à cor, 60% das pessoas fundadoras se autodeclaram brancas, enquanto pretas e pardas representaram 35%. Ainda existe um longo caminho a ser percorrido em direção às oportunidades de acesso semelhantes entre pessoas de diferentes cores. Apesar disso, as startups de impacto ainda apresentam uma distribuição mais igualitária no critério cor em relação ao cenário geral de startups no Brasil. O mesmo vale para a presença de pessoas fundadoras LGBTQIAPN+ (21,38%) e PDC (13,27%), que aparecem no estudo, mas reforçam o alerta para a importância de iniciativas de fomento a um cenário mais inclusivo e diverso.
 

Metodologia do estudo

Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae Nacional, diz que “fazer um diagnóstico de startups de impacto socioambiental permite ao Sebrae identificar o potencial dessas empresas para gerar transformações positivas e em escala na sociedade e no meio ambiente e assim apoiá-las de maneira mais efetiva”.
 

Para o levantamento das respostas, o Sebrae desenvolveu um formulário interno na plataforma Sebrae Startups, e uma chamada nacional para participação de startups de impacto, suportada pelos Sebraes de todas as UFs, resultando no alcance nacional da chamada. O Diagnóstico esteve aberto para respostas entre novembro e dezembro de 2023, foi aplicado em todo o território nacional e obteve 697 respostas, abrangendo todos os estados brasileiros.
 

Fábio Zanuzzi, diretor técnico do Sebrae/SC reforça que o Polo de Referência em Startups do Sebrae tem como característica marcante a sua ampla rede de parceiros estratégicos, formada por grandes empresas, investidores, aceleradoras e instituições de ensino renomadas, o que possibilita diversas conexões em todo o Brasil. Sobre o Observatório Sebrae Startups, Zanuzzi reforça que é o “primeiro Observatório Brasileiro especializado em Startups. O Observatório publica continuamente estudos que permite aos atores dos Ecossistemas de Inovação e Startups, a aquisição de conhecimento sobre o cenário nacional e regional, a partir de suas realidades e tendências”.
 

Gestores de startup e de impacto de diferentes Sebrae UFs analisaram a lista das respondentes assegurando que as respostas refletissem somente as startups que cumprem com os critérios de definição, isto é: organizações inovadoras com potencial de escala e com soluções de impacto como seu principal produto e intencionalidade na resolução de um problema social e/ou ambiental. Após essa análise, foram selecionadas 408 startups de impacto, para compor a amostra de pesquisa para esse estudo.