A importância da troca entre ecossistemas de startups e o papel de uma multinacional como agente catalisador

Compartilhar

Por Ornella Nitardi, head de Inovação Aberta e Ecossistemas Digitais para América do Sul da BASF

Na era da inovação digital e da emergência acelerada de startups, é inegável o papel que um ecossistema de colaboração pode exercer para escalar o avanço, adesao e valor da tecnologia e a competitividade econômica de uma região. O recente relatório Catalisadores para a Mudança no Ecossistema Europeu de Startups examina como ele pode evoluir para se tornar líder global, abordando tanto desafios estruturais quanto oportunidades estratégicas que se desenham no continente.

Com um foco em sustentabilidade, integração de talentos globais e uma cultura de cooperação entre países, a Europa oferece lições valiosas, mas também enfrenta desafios significativos em termos de complexidade regulatória, que podem dificultar o avanço de iniciativas. A colaboração entre países é complexa e, por isso, seria interessante também refletir sobre como o modelo brasileiro pode inspirar a Europa.

No entanto, a responsabilidade de catalisar essas mudanças vai além dos fundadores de startups ou governos locais. As empresas multinacionais, temos papel crucial na criação de uma troca eficaz e contínua entre diferentes ecossistemas, seja ao apoiar inovação, fomentar investimentos ou construir parcerias colaborativas.

O potencial da América Latina e seus desafios e oportunidades

A América Latina está em um momento crucial para a inovação e desenvolvimento de tecnologia com impacto, com um ecossistema que inclui startups, hubs de inovação e empresas estabelecidas integrando inteligência artificial, análise de dados e sustentabilidade. Países como Brasil, México, Chile e Colômbia estão se transformando em centros emergentes de desenvolvimento tecnológico com impacto global, graças à colaboração entre grandes corporações, governos e iniciativas locais.

No atual cenário de inovação global, essa colaboração é essencial para impulsionar economias emergentes e estabelecer conexões com outros mercados. Entre janeiro e setembro de 2024, startups brasileiras captaram US$ 1,46 bilhão (R$ 8,29 bilhões), segundo a plataforma de inovação Distrito, mantendo o Brasil como o principal destino de capital na região. Em setembro, o país atraiu 68,9% dos investimentos destinados a startups latino-americanas.

Nossa região, com sua diversidade cultural e de recursos, oferece terreno fértil para a inovação. O Brasil, em particular, tem emergido como polo dinâmico de startups, impulsionado por uma população jovem e conectada, inconformada com o status quo e, ávida por soluções tecnológicas que atendam às suas necessidades específicas.

Os empreendedores enfrentam dificuldades semelhantes às descritas no cenário europeu, como a falta de investimento, a fragmentação de mercados e uma regulamentação complexa. No entanto, diferentemente da Europa, existe uma mentalidade mais orientada ao risco e ao empreendedorismo, devido a fatores econômicos e sociais que exigem resiliência e inovação constantes.

O Brasil lidera a região em número de startups e atração de investimentos internacionais, mas enfrenta o desafio de expandir suas startups para além do mercado local. Muitas delas têm potencial de escalar para mercados globais, especialmente em áreas como fintech, agronegócio e educação, onde o país é pioneiro em soluções disruptivas.

Fortalecendo o Ecossistema

Para que a América Latina realize seu potencial como polo global de inovação, é essencial que todos os agentes envolvidos – empreendedores, investidores, governos, academia e grandes empresas – se comprometam com uma visão de crescimento colaborativo. A adoção de uma mentalidade de colaboração internacional é essencial para fortalecer o ecossistema local e transformar a região em uma referência global de inovação.

Como podemos contribuir para a mudança?

Diante desse cenário, as empresas multinacionais desempenham um papel fundamental na aceleração de mudanças positivas nos ecossistemas de startups, atuando como agentes catalisadores de trocas estratégicas e parcerias colaborativas.

Para impulsionar a inovação a BASF desenvolve soluções inovadoras para desafios globais por meio do onono, seu Centro de Experiências Científicas e Digitais. Analisando as necessidades dos consumidores, identificamos startups e tecnologias promissoras, que passam por testes locais antes da integração global. Essa abordagem ágil acelera a adaptação e implementação em larga escala, maximizando o impacto no mercado internacional e demonstrando como multinacionais podem fortalecer ecossistemas de inovação em mercados emergentes.

Além disso, podemos apoiar de outras formas essenciais para impulsionar o ecossistema de startups, como:

1. Apoio aos Fundadores de Startups

Incentivar fundadores a desenvolver soluções que atendam a desafios latino-americanos pode gerar impacto em escala. Oferecer apoio financeiro, compartilhar conhecimento e estabelecer pontes com investidores e clientes globais são ações que não apenas promovem o crescimento de startups como também incentivam a criação de soluções inovadoras lem das fronteiras.

3. Parcerias com Instituições e Governos

Como catalisadores de mudanças, podemos colaborar com governos e aceleradoras para agilizar processos regulatórios, como a abertura de empresas e a atração de talentos. Além disso, parcerias público-privadas podem ser uma estratégia eficiente para apoiar o ecossistema de startups, especialmente em áreas prioritárias como sustentabilidade, saúde e inovação tecnológica.

4. Conexão entre Startups e Grandes Empresas

Conectar startups a grandes empresas gera uma troca de conhecimento valiosa e um espaço de prototipagem e escala. Como multinacional, temos a oportunidade de promover essa conexão, oferecendo plataformas para que startups e grandes empresas trabalhem juntas em soluções inovadoras, criando um fluxo contínuo de inovação. Isso também fortalece uma cultura empreendedora, essencial para que as startups brasileiras desenvolvam resiliência e se tornem líderes em seus setores.

O ecossistema brasileiro de startups tem grande potencial para se tornar referência mundial em inovação, e um exemplo de criatividade e agilidade, mas isso requer de outros habilitadores e um trabalho mais articulado, onde as multinacionais, a traves dos nossos desafios de inovação consigamos apoiar nesse desenvolvimento. O compromisso de todos os atores é fundamental para a construção desse ambiente coeso, onde startups, investidores, instituições e grandes empresas caminhem lado a lado rumo à liderança global.