À espreita de boas oportunidades com a crise

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Por Augusto Sales*

O Brasil passa por uma tormenta perfeita que abriga uma crise política e uma crise econômica ao mesmo tempo. O nível de aprovação do governo despenca, denúncias de corrupção inundam o noticiário todos os dias, enquanto os investidores e a população sofrem com uma série de indicadores negativos como juros altos, encolhimento do PIB, derretimento do real frente ao dólar, queda no nível de emprego, rebaixamento da nota da dívida brasileira pelas agências de risco, para listar apenas alguns. Este é um cenário bem diferente do Brasil pintado há cerca de cinco anos, quando o País estava na mira dos investidores e era considerado a bola da vez.

Em 2010, por exemplo, investidores eufóricos turbinavam o valor dos nossos ativos. Do ponto de vista de fusões e aquisições, muitas vezes nesse contexto, a oportunidade real de ganhar dinheiro era do vendedor. O valor das empresas era negociado a preços inflados em todos os setores, algumas vezes sem fundamento comercial ou operacional que sustentasse o plano de negócios. O desempenho ruim da economia e a perspectiva de recessão esfriaram o mercado e minaram a confiança dos empresários. A crise e as denúncias de corrupção pegaram de surpresa várias empresas, principalmente as que fazem parte da cadeia de fornecedores dos setores de infraestrutura e de óleo e gás.

Companhias que valiam milhões estão com a corda no pescoço, com pouca credibilidade para recorrer ao mercado de crédito e se veem forçadas a demitir funcionários e a avaliar venda de ativos. Um exemplo recente disso aconteceu com a construtora OAS, que declarou publicamente passar por dificuldades de crédito e por um processo de reestruturação interna. Seria este cenário totalmente negativo para negócios? Por mais contraditório que possa ser esse é um ambiente bem interessante para o chamado investidor profissional, aquele que é cauteloso, não se deixa levar pelo conhecido “efeito manada”, e que está sempre à espreita, escolhendo suas presas, e sabe a hora certa para fazer negócios ou investir.

Com perspicácia, busca comprar ativos na baixa, rentabilizá-los e vender na alta, se for o caso. Vários fatores indicam que este será um ano importante para os investidores profissionais. Bons ativos, tecnologias e produtos serão postos à venda para gerar caixa para a controladora cumprir obrigações ou continuar investindo no negócio principal. Empresas alavancadas em moeda estrangeira podem ter dificuldade para honrar compromissos financeiros e com o mercado de crédito mais restrito a saída pode ser a venda de participação para um investidor estratégico ou financeiro.

Para o investidor estrangeiro, a oportunidade é ainda maior. Com a mesma quantidade de dólar é possível fazer muito mais em real. Em outubro de 2010, com o dólar a R$ 1,6 para se fechar uma transação de R$ 100 milhões, o investidor estrangeiro desembolsaria um pouco mais do que US$ 60 milhões. Hoje, com o dólar a R$ 3,2, precisaria um pouco mais de R$ 30 milhões. Como efeito, é esperado um aumento no número de aquisições de empresas brasileiras por estrangeiros nos próximos meses.
Finalmente, por mais turbulento que seja o contexto atual, o País ainda é um mercado cheio de oportunidades. Temos um mercado de consumo importante, melhora histórica no poder aquisitivo da população, recursos naturais imbatíveis, uma democracia estabelecida e instituições fortes. Os investidores profissionais apostam que é uma questão de tempo para que o Brasil volte aos trilhos. Quem acertar bem o alvo e souber tirar vantagem da crise vai deitar e rolar.

* Augusto Sales é sócio do Grupo de Negócios Globais (Global Business Group – GBG) da KPMG.