Conectividade: dos bilhões de CPUs da era mobile para as dezenas de bilhões da era da Internet das Coisas – Por Roberto Mayer

Grandes corporações globais discutiram recentemente em Belgrado, durante a semana europeia de Internet das Coisas (iot-week.eu) o conceito ‘hypercloud’ (computação em nuvem praticamente onipresente), assim como pequenas e médias empresas de quase quarenta países de todos os continentes.

Praticamente houve unanimidade, por parte dos apresentadores, em reconhecer que Internet das Coisas é a próxima ‘onda’ do mundo da tecnologia. Se o mundo ‘mobile’ permitiu ampliar o número de CPUs em uso no planeta para a casa de vários bilhões, a Internet das Coisas permitirá ampliar esse número para as dezenas de bilhões (sem que precisemos desse número de mãos para operá-las!).

Por outro lado, ninguém entende a Internet das Coisas como uma nova rede, separada da Internet atual, mas como o processo de conexão das ‘Coisas’ (sejam máquinas industriais, carros, geladeiras, portões de segurança ou quaisquer outros) com a Internet que já temos.

Assim, ficou evidente que desafio não se resume ao desenvolvimento do hardware das ‘coisas’ conectáveis, ou a adaptação dos protocolos de comunicação para falar com ‘coisas’, mas inclui a integração dessas novas ‘coisas-computadores’ no universo da computação em nuvem: as ‘coisas’ conectadas serão tanto mais úteis quanto mais pessoas puderem usufruir delas. Mas para isso, ‘coisas’ e pessoas precisam ser conectadas – e essa conexão só pode ser feita por meio de mais software disponível para as pessoas.

Em toda a história dos computadores, o desenvolvimento de software sempre veio a reboque do desenvolvimento do hardware, e com algum atraso. A integração das ‘coisas’ na Internet expõe elas a todas as dificuldades que já conhecemos na nuvem, como, por exemplo, conexões que caem e ataques de negação de serviço.

A apresentação que fiz no auditório principal, como empreendedor brasileiro, focou neste aspecto da integração: como essas dificuldades não são exclusivas de nenhuma aplicação específica da computação em nuvem ou das coisas conectadas, propomos endereçar essas questões por meio de uma ferramenta, baseada na nuvem, que nós já desenvolvemos.

Eventos como estes são também momentos de reflexão. Não posso deixar de registrar que, se o mundo caminha para a ‘hipernuvem’, o acesso a ela passa a ser crítico.

Contraponho essa constatação com a tentativa das operadoras de telecomunicações brasileiras que estão se movimentando para impor limites de tráfego ou custos adicionais aos seus consumidores e empresas clientes no nosso país. Trata-se não apenas de uma ‘transferência de renda’ unilateral (que não parece justa), mas de um risco para a continuidade das operações da ‘hipernuvem’: já pensou se o portão automatizado da sua casa não abre, porque a conexão de banda larga da sua casa esgotou a sua ‘cota’ de tráfego enquanto você passou o dia trabalhando fora de casa?

Outra observação, diante da presença de representantes de tantos países, é que o apoio à inovação do qual dispomos no nosso país é inferior a de todos os demais participantes. O jogo global da competitividade passa pela inovação. Sem políticas públicas continuadas que a fomente, nossa chance como país nesse jogo é pequena. Se, como empreendedor, conclui estar ‘surfando uma onda’ muito interessante, também fiquei triste em constatar que, como país, nosso papel no jogo global está em risco.

Roberto Carlos Mayer (rocmayer@mbi.com.br) é diretor da MBI, diretor de comunicação da Assespro Nacional (Federação das Associações das Empresas de TI) e presidente da ALETI (Federação das Entidades de TI da América Latina, Caribe, Portugal e Espanha).

Desvendando os mistérios da TI

– Por Roberto Carlos Mayer *

Setor de Tecnologia da Informação é o único setor da economia que provoca, ao mesmo tempo, mudanças na vida em sociedade (pense, p.ex. na “primavera árabe”, no tele-trabalho ou no “governo eletrônico”) e no negócio de todos os demais setores da economia: é quase lugar comum dizer que se trata de um setor estratégico. Entretanto, o nível de conhecimento a respeito do próprio setor ainda é bem inferior ao que existe para outros setores da economia.

Comparando com o setor automotivo, por exemplo, cujo peso no PIB é praticamente equivalente, muito pouco se conhece sobre a cadeia de fornecedores do setor (considerada, inclusive, parcialmente ilegal pela legislação atual). Muitos outros aspectos precisam de “luz”.

O esforço dos institutos de estatística oficiais, em todo mundo, tem procurado medir o impacto da Sociedade da Informação, sob auspício das Nações Unidas, já há quase duas décadas. Entretanto, esses indicadores dizem respeito principalmente à penetração da infraestrutura no dia-a-dia das sociedades, medindo p.ex. a quantidade de usuários de Internet ou de computadores a cada cem habitantes e/ou residências.

Outros estudos visam medir sistematicamente o grau de alfabetização digital das populações. Entretanto, não há estudos sistemáticos e profundos sobre a prória indústria de TI. Os estudos disponíveis comercialmente se focam apenas em questões relacionadas a volume de vendas, tipo de tecnologia e outras que, embora importantes a curto prazo para avaliar a performance do setor, não são suficientes para uma compreensão profunda e de longo prazo.

Diante desse quadro, ainda em 2010, a Assespro Nacional, durante o desenvolvimento de seu planejamento estratégico para o período 2011/2012, determinou como um de seus objetivos, de forma pioneira, a realização de um Censo Nacional do Setor de TI.

A realidade dura e crua, porém, fez com que fosse necessário praticamente dispender todo o ano de 2011 para determinar os temas e as perguntas que deveriam fazer parte deste Censo.

Adicionalmente, uma entidade de classe, por maior que seja, e mesmo contando com a importante cooperação das demais entidades do setor, não tem como garantir que todas as empresas participem com seus dados (isto só é possível com a participação do governo).

Assim, de um ponto de vista estatístico, o Censo é de fato uma grande e inédita pesquisa. Para viabilizar sua execução, a Assespro conta com o patrocínio da empresa MBI, especializada em pesquisas para o setor de TI e associada da entidade.

Mesmo com essas limitações práticas, esta primeira edição do Censo do Setor de TI já despertou interesse de diversos agentes envolvidos com o setor, para desenvolver análises específicas.

Já houve manifestações nesse sentido de órgãos do governo federal (principalmente no tocante aos aspectos relacionados à inovação), de outras entidades do setor (interessadas em validar teses políticas específicas e/ou cruzar os dados com suas análises), além de vários pesquisadores de universidades públicas e privadas que usarão o material coletado em suas pesquisas e teses acadêmicas.

Mesmo viabilizando toda essa interação para o uso profundo dos dados coletados, ainda resta muito trabalho a frente: o próximo passo consistirá na internacionalização deste esforço, por meio das Federações Internacionais nas quais a Assespro participa, para que os indicadores derivados deste trabalho possam ser comparados também entre países (afinal, não há setor mais globalizado do que o da própria Tecnologia da Informação).

Esperamos que esse seja o começo de uma longa jornada que permita obtermos conhecimento profundo sobre um setor tão estratégico, de forma que as decisões públicas que o impactam possam ser cada vez mais precisas. Ao mesmo tempo, esperamos que os dados levantados possam servir, ao longo do tempo, para aumentar a geração de oportunidades de negócios com clientes para as empresas, além de facilitar a criação de alianças estratégicas entre empresas do setor, tanto comerciais quanto focadas em pesquisa e desenvolvimento.

* Roberto Carlos Mayer (mailto:rocmayer@mbi.com.br) é diretor da MBI (http://www.mbi.com.br), VP de Comunicação e Marketing da Assespro São Paulo, vice-presidente de Relações Públicas da Assespro Nacional e presidente da ALETI (Federação Ibero-Americana das Entidades de TI).

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