Empresas de TI buscam soluções diferenciadas para a falta de mão de obra

É crítico o déficit de mão de obra na área de TI. A expansão acelerada do segmento – hoje, em 10% ao ano podendo chegar a 12% em 2015 – contrasta com a falta de profissionais capacitados, o que pode travar o setor no Brasil. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontam que, aproximadamente, 78,5 mil vagas de TI serão criadas em 2014, ao passo que apenas 33,6 mil pessoas serão formadas para ocupá-las. A estimativa é de que o número de vagas a serem preenchidas em 2015 chegue a 117 mil. Em 2020, apontam estimativas de especialistas em RH, haverá um déficit de mão de obra na ordem de mais de 400.000 profissionais de TI.

“Algumas empresas já estão terceirizando projetos de sistemas na Índia, pois a mão de obra qualificada custa um terço do valor pago no Brasil, considerando hora trabalhada, diz a CEO da HSD”, Susana Falchi. As empresas têm lançado mão de outras soluções, como terceirizar projetos, “importar” mão de obra, ou até mesmo criar uma universidade própria.

Uma das soluções encontradas pelas empresas de softwares foi promover treinamentos para capacitar e manter os funcionários. “Na era do conhecimento, os executivos entendem cada vez mais a necessidade do desenvolvimento contínuo e permanente das competências de seus colaboradores”, afirma Susana.

Apesar do crescimento do número de cursos voltados para TI e das inscrições, os dados são preocupantes. Um estudo da Brasscom mostra que mais de 80% dos alunos não conclui o curso. “O cenário é agravado pela rápida evolução tecnológica, pois existe uma caducidade das tecnologias entre dois e três anos”, afirma Susana. Ela defende a necessidade de educação continuada ou formação complementar anualmente. “Esse papel deveria ser realizado pelas empresas com apoio do governo, pois o segmento educacional não tem essa velocidade para adequação de conteúdos”, diz.

Qualificação in company
O impasse torna-se ainda maior, pois as empresas têm necessidades de tecnologias específicas e as universidades formam estudantes com visão abrangente, o que limita a atuação do profissional. Para fazer frente a essa dicotomia, a Audaces, empresa líder no mercado de vendas de CAD/CAM na América Latina que atua no desenvolvimento de softwares e máquinas para automação dos processos produtivos das confecções, criou a Universidade Audaces. “Buscamos desenvolver tecnicamente os profissionais da empresa e também levar conhecimento ao mercado em que atuamos”, conta Vera Lucia Brasil Nunes, diretora de Capital Intelectual da Audaces.

A Universidade Audaces atua na disseminação do conhecimento existente na empresa para todas as áreas, capacitando os colaboradores para atuação nas rotinas diárias e possibilitando o crescimento com o desenvolvimento de novas competências. “A inovação é estimulada a partir do momento que não limitamos o desenvolvimento ao seu cotidiano. Mentes abertas criam mais, inovam mais. Nesse processo de capacitação, são utilizados não só treinamentos presenciais, com equipe interna, instrutores Audaces ou ainda instituições externas, mas também EAD”, diz Vera. Em 2013, a empresa realizou mais de 20 mil horas de treinamentos EAD e mais de 40 mil horas de treinamento presencial ministradas a clientes e colaboradores, tanto internamente como em outras instituições.

Segundo Vera, a preocupação da Audaces vai além da capacitação dos seus colaboradores, pois a área de Capital Intelectual, que engloba além da Universidade, o RH e Desenvolvimento Organizacional, busca atrair, captar e reter profissionais alinhados aos valores e cultura da empresa para que todo o investimento na formação e desenvolvimento das pessoas reverta no crescimento da própria organização de forma sustentável.

Salários
Um dos sintomas típicos do déficit de profissionais qualificados é a distorção dos salários. Profissionais mais jovens e qualificados passam a receber salários equivalentes a posições sêniores, com mais tempo de atuação. “O crescimento da massa salarial nos últimos anos vem acompanhado pela queda de produtividade e da dificuldade de as empresas conseguirem mão de obra qualificada e reter talentos”, destaca Susana. Ela lembra que o salário médio pago para profissionais de nível técnico está em torno de R$ 3.000,00. Em linhas gerais, um Administrador de banco de dados, conhecido como DBA, ganha atualmente R$ 12.000,00.

Outra questão que interfere é a postura desses profissionais. Eles são jovens e preferem trabalhar por projeto, o que impacta na relação de trabalho. “É comum esses profissionais terem empresas abertas para emissão de nota fiscal, pois preferem o trabalho autônomo ao vínculo empregatício, cumprindo jornada de trabalho e limitando a participação em outros projetos”, diz Susana.

Estadão: Déficit de profissionais de tecnologia se aprofunda no País

Nayara Fraga, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO – As vagas de emprego para profissionais de tecnologia da informação e comunicação (área conhecida pela sigla TIC) estarão sobrando, em centenas de milhares, daqui a dois anos. Especialmente no campo de redes e conectividade, o número de cadeiras vazias triplicará, segundo estudo da consultoria IDC encomendado pela Cisco. As 39,9 mil posições não preenchidas em 2011 subirão para 117,2 mil em 2015. Isso significa que a demanda por trabalhadores excederá em 32% a oferta.

O resultado da pesquisa reforça um cenário preocupante no País, a um ano da Copa do Mundo e a três da Olimpíada: a falta de mão de obra qualificada no mercado das TICs. O Brasil é o segundo país da América Latina que mais enfrenta dificuldade para contratar profissionais nesse setor, apenas atrás do México, diz Giuseppe Marrara, diretor de relações governamentais da Cisco do Brasil. “Formar gente o suficiente (nas universidades e escolas técnicas) é muito difícil.”

Segundo o executivo, apenas para a área de redes, o País tem cerca de 22 mil novos formandos a cada ano, enquanto a demanda é por 40 mil. Essa disparidade acaba provocando as distorções típicas do segmento da tecnologia, em que profissionais em início de carreira recebem salários equivalentes, na teoria, a posições seniores. Há casos em que um gestor de segurança chega a receber mais de R$ 20 mil. Leia reportagem completa no Estadão.