Apertem os cintos, o piloto do Uber sumiu – Por Arie Halpern

Depois de sacudir o sistema de transporte urbano e tirar o sono dos taxistas em mais de 70 países com o aplicativo que permite contratar corridas de carros particulares, o Uber está apontando seu chifre de unicórnio para negócios mais ousados. Explique-se que “unicórnio”, no jargão da nova economia, não é um ser imaginário, mas uma empresa que se lançou no mercado como embrião de um grande negócio, cresceu e viu seu valor ultrapassar a barreira do bilhão de dólares. O Uber, avaliado em 63 bilhões de dólares, encabeça o ranking de unicórnios da revista Fortune. Pois bem, esse animal econômico adquiriu, em agosto, a Ottomotto, uma startup dedicada à tecnologia de veículos ditos autônomos, porque dispensam motoristas.

Desde o ano passado, no polo robótico de Pittsburgh, a empresa mantém uma equipe de pesquisadores – mais de quarenta foram “roubados” da Carnegie Mellon University, com quem a empresa tinha um acordo de cooperação – trabalhando sobre o mesmo objeto: carros autônomos. E a empresa já faz testes com a intenção de colocar, em breve, esses veículos acéfalos à disposição de clientes que se disponham a utilizá-los no transporte. Antes disso, ainda, o Uber havia comprado a deCarta, uma empresa de softwares de mapeamento. O que o seu fundador e comandante, Travis Kalanick, está mirando? Bem, ele realmente não economiza nos sonhos e na ambição: ele está de olho num mercado estimado em dez trilhões de dólares.

Dez trilhões?! Como assim?! Kalanick é uma versão excepcionalmente bem-sucedida do “homem da cobra”. Este era um tipo popular, misto de vendedor e artista de rua. Ele atraia a atenção do público com um saco vazio em que dizia haver uma cobra. Entretinha as pessoas com histórias e vendia remédios para picada de cobra e outros bichos. Kalanick, com seu aplicativo, realiza viagens para mais de 30 milhões de clientes por mês, em quase 500 cidades, sem que para isso tenha sido necessário imobilizar um único centavo em uma frota própria de carros e sem empregar nenhum motorista. Com essa prestidigitação, que recebeu o nome de UberX, ofereceu um solução prática e mais barata que o serviço de táxi. Depois disso, lançou o UberPool que permite ao usuário compartilhar o transporte com outros passageiros e reduz ainda mais os preços. Com esse passo, começou a competir não mais com os táxis, mas com o transporte público. Agora, com os carros autônomos, o objetivo é livrar-se também do motorista, para tornar o transporte ainda mais barato.

Aqui chegamos ao tal mercado de dez trilhões de dólares. Com o serviço atual, o Uber come uma fatia do mercado de táxis cuja receita global é estimada em cem bilhões de dólares. Com o veículo autônomo, segundo Kalanick confessou à The Economist, sua intenção é tornar o Uber tão barato e conveniente que ele se transforme em uma alternativa ao carro particular. Outras grandes corporações do mundo da tecnologia também estão nessa estrada, investindo em projetos de carros autônomos, e são competidores de peso como Google, Apple, Facebook, Tesla. O caminho para realizar esse sonho também é acidentado e bastante policiado pelo Estado regulador, pois o transporte autônomo envolve a segurança das pessoas. A primeira onda de disrupturas provocada pelo Uber mal começou e já estão assistindo à próxima onda se formar. Apertemos os cintos.

Arie Halpern, economista e empreendedor com foco em tecnologias disruptivas e diretor da empresa israelense Gauzy Technologies

O Big Data no mundo corporativo – Por Arie Halpern

Qual é o objetivo do seu negócio? O big data pode ajudá-lo a responder a essa pergunta. A tecnologia, que consiste em recolher, armazenar e analisar grandes volumes de dados, quando aplicada da maneira correta, é capaz de resolver intrincadas questões no mundo dos negócios. Esse aspecto é o que tem atraído empresários de todo o mundo para o big data. De um universo de 401 profissionais de TI e de outros negócios entrevistados pela associação CompTIA, 72% afirmaram que os resultados obtidos com o uso da tecnologia superaram as expectativas. Vantagens competitivas, redução de custos, otimização de tempo e maior produtividade são alguns resultados apontados.

De tecnologia de software, o big data passou à ferramenta estratégica de negócios. O Netflix, avaliado pelo mercado em US$ 49 bilhões, conhece o comportamento do seu consumidor e possui uma visão ampla e geral do produto que oferece graças a essa tecnologia. É com a ajuda dos dados que a Netflix oferece um serviço personalizado para cada cliente. Mas o que a tecnologia faz? Ela permite que correlações sejam encontradas com facilidade e precisão. Desde tendências de negócios no local em que uma empresa está instalada até índices de combate à criminalidade. É com a exatidão em detectar comportamentos através de dados que empresas podem aumentar significativamente a produtividade, além de gerenciar e administrar melhor o tempo para ações mais direcionadas e conclusivas. Portanto, se uma empresa souber como utilizar os dados, poderá melhorar um produto, reduzir ou cortar custos, evitar o desperdício de recursos, antecipar crises, entre outras ações, assim como o Netflix vem fazendo com sucesso.

Nesse contexto, o big data já uma realidade para o empresariado nacional e internacional, especialmente para médias e grandes empresas. Segundo a consultoria IDC, os gastos mundiais com soluções de big data atingirão US$ 48,6 bilhões em 2019. E, com a alta na demanda, profissionais detentores desse conhecimento também estão conquistando mais espaço nos departamentos de TI. Segundo levantamento do portal ComputerWorld, em apenas um ano, especialistas em big data passaram da décima para a quarta posição na lista de “empregos quentes”, com 36% dos questionados buscando profissionais para essa tarefa.

*Arie Halpern é diretor da Gauzy Technologies e autor do blog Disruptivas e Conectadas. –

A sociedade dos drones: eles vão mudar o mundo – Por Arie Halpern

Esqueça motoboys e entregadores. No futuro próximo, documentos, pequenas encomendas e pizzas serão transportados e entregues por pequenos veículos aéreos não tripulados, os drones.

Esqueça também os canteiros de obras tal como são hoje. Eles terão mudado de figura. Lembrarão uma colmeia, com um enxame de drones em volta. Em substituição aos trabalhadores humanos pendurados em andaimes, eles se encarregarão de assentar as peças da estrutura em construção, com precisão, num verdadeiro balé aéreo.

Por toda parte nos depararemos com drones em funções diversas: policiamento, inspeção de vias públicas e instalações, controle de tráfego, manutenção de instalações, limpeza, irrigação, dedetização e bisbilhotices, dos vizinhos e dos serviços de informação. Bombeiros serão auxiliados por drones em operações de resgate ou combate ao fogo. A imprensa será quase onipresente com suas câmeras voadoras. Nos parques, veremos drones inteligentes interagindo com humanos como o cão que corre atrás da bola e a traz de volta para o dono.

Talvez essa seja uma visão tímida da sociedade dos drones que vai se desenhando. Afinal, ela contempla apenas funções que esses veículos já são capazes de executar com maior ou menor desenvoltura. Mesmo essa projeção conservadora do que será o futuro, no entanto, nos indica que assistiremos a uma grande e disruptiva mudança em nossas vidas quando os drones estiverem sendo utilizados em grande escala.

Pode-se imaginar essa sociedade assistindo a um desenho animado dos Jetsons ou a alguns dos vídeos sobre experiências com drones. O registro da instalação Flight Assembled Architecture, realizada no FRAC Center de Orleans, próximo de Paris, é uma antevisão do futuro da construção. Na experiência, realizada por uma equipe de pesquisadores do Swiss Federal Institute of Technology, drones levantam uma edificação de seis metros de altura. Matthias Kohler, um de seus idealizadores, garante que os drones vão mudar a cultura da construção e da arquitetura. O roboticista Raffaello D”Andrea, por sua vez, mostrou à plateia do TEDGlobal quadricópteros capazes de agir com base na experiência adquirida. Eles podem, por exemplo, se mover rapidamente equilibrando um copo d”água ou protagonizar a cena do parque descrita acima. (Os vídeos podem ser vistos em https://vimeo.com/69257453 e https://youtu.be/w2itwFJCgFQ.).

Flight Assembled Architecture from Gramazio Kohler Research on Vimeo.

No setor militar, até aqui o maior patrocinador dos drones, a nova tecnologia mudou a maneira de fazer a guerra. Há uma discussão muito séria em andamento, alimentada por vazamentos sobre a ação das Forças Armadas dos Estados Unidos a respeito de abusos na utilização de drones. Como sicários inumanos, eles são capazes de perseguir e alvejar um indivíduo onde quer que ele se esconda. Basta que o serviço de inteligência tenha conseguido rastrear os sinais de seu celular.

Transposta para o uso civil, a tecnologia dos drones tem um potencial disruptivo tão grande – especialmente na logística de transporte – que está obrigando as grandes empresas a repensar suas operações. Assim é com a alemã DHL, com a Amazon, com o Google, com o WalMart, com a Shell.

Todas estão em campo fazendo experimentos. A DHL obteve a primeira licença na Europa para utilizar drones em serviços de entrega, em caráter experimental. Faz seus ensaios na Alemanha com veículos não tripulados que cruzam 12 quilômetros, à velocidade de 18m/s para levar medicamentos aos habitantes da ilha de Juist. O Google faz entregas com drones no interior da Austrália, onde pode operar os equipamentos sem restrições. E a Amazon vem causando com a criação de um serviço que promete entregar produtos na casa do consumidor em 30 minutos.

Como toda inovação, as disrupturas na aplicação de drones vêm acompanhadas de conflitos e questões. A disputa pelo espaço aéreo, o incômodo causado pela convivência com os drones, a redução da privacidade, os riscos à segurança são algumas delas. Sobre todas, porém, está colocado o desafio de elevar a sociedade a um grau de desenvolvimento político e cultural que não transforme tecnologias tão poderosas em ameaças à vida e à liberdade dos humanos.

*Arie Halpern, economista, é diretor da israelense Gauzy Technologies.

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