Por Luiz Marcatti, presidente da MESA Corporate Governance
Apesar da crise econômica provocada pela pandemia, apenas na primeira semana de abril seis empresas abriram o capital na B3, elevando a 26 ações as listagens em 2021. E o movimento ainda vai longe, já que estão sob análise da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 82 pedidos para ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês).
Na avaliação de Luiz Marcatti, presidente da MESA Corporate Governance, consultoria especializada em Governança Corporativa, com 20 anos de mercado, para garantir longevidade as empresas precisam ter atenção na preparação do processo de IPO. “Não basta uma boa ideia. Mesmo com um produto ou serviço muito bom, se não tiver um bom plano de negócios e demonstrar alta capacidade de implementá-lo, com sua alta administração -governança e gestão corporativas – adequada a empresa pode não avançar”, avalia.
O presidente da MESA Corporate Governance aponta quatro pontos que merecem atenção das empresas que pretendem se listar na bolsa.
1- Organização administrativa
O maior desafio para empresas que vão abrir capital é a estruturação de uma alta administração – governança e diretoria – altamente competente. Todo negócio nasce de uma ideia inovadora ou percepção diferente, mas a gestão nem sempre recebe a devida atenção. Contar com profissionais especializados para administrar e criar uma base organizada fará com a empresa alcance a maturidade e mantenha o foco no negócio, não em problemas de gestão.
2- Planejamento para o IPO
Quando uma empresa entra na bolsa de valores, ela precisa constantemente impactar positivamente o investidor e os analistas, atentos a cada detalhe do negócio. “Maquiar” a performance é um grande erro. Em algum momento, o mercado percebe que a companhia fez um planejamento muito rápido e o produto ou serviço, que pode até ser bom, naufraga, pois não há garantia de gestão qualificada.
3- Atenção às Parcerias
Muitas startups que surgem como promissoras despertam interesse de parceiros financeiros. No entanto, alguns desses associados buscam a empresa para lucrar apenas na abertura do capital. São veículos que aceleram o crescimento dos negócios e aproximam a empresa do IPO, mas se limitam a organizar o mínimo para a entrada no mercado e lucrar com a venda de ações logo na estreia. Em pouco tempo deixam a companhia sem auxílio para manter as operações e a estrutura necessária para atendimento do exigente mercado investidor. É uma relação, na avaliação de Marcatti, que precisa ser analisada com cuidado, identificando os reais ganhos que uma parceria trará para o negócio, não olhando apenas para o aporte de recursos. Os valores e as visões de negócio precisam estar alinhados, para que este casamento seja promissor. O IPO não é um fim em si próprio.
4- Percepção do mercado
A startup que alcança sucesso no IPO é a que alia criação de uma solução inovadora com um impacto positivo no mercado. Ou seja, os investidores precisam ter a percepção de que o negócio entrega uma boa solução, mas, também, que está organizado para crescer, com governança e diretoria de alta performance. Indicar a governança para o mercado como um checklist, sem realmente ter práticas efetivas, prejudica a estrutura futura da companhia, afeta sua imagem e contribui para sua desvalorização.