O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) registrou lucro líquido de R$ 9,8 bilhões no primeiro trimestre de 2021, 78% acima do mesmo período do ano anterior, com resultado positivo impulsionado pela venda de participações societárias e pela intermediação financeira. Os desembolsos tiveram crescimento de 35%, chegando a R$ 11,3 bilhões, sendo que 46% desse valor (R$ 5,2 bilhões) foram destinados a micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) e 49% (R$ 5,6 bilhões) ao setor de infraestrutura.
Mais da metade da carteira de crédito de operações diretas e indiretas não automáticas do Banco (52,5%) está vinculada a empreendimentos que apoiam a economia verde e o desenvolvimento social. Esses recursos estão aportados em projetos de setores como saneamento, energias renováveis, desenvolvimento urbano, entre outros incluídos na sigla ASG (que se refere a questões ambientais, sociais e de governança corporativa). Apenas no primeiro trimestre de 2021, R$ 3,7 bilhões foram desembolsados para esses setores, conforme apresentação de resultados feita nesta quinta-feira (13).
O produto de intermediação financeira atingiu R$ 4,4 bilhões, aumento de 7,8% em comparação ao primeiro trimestre de 2020. A receita com operações de crédito e repasses aumentou 10,8% em relação ao primeiro trimestre de 2020, chegando a R$ 9,2 bilhões.
Essas operações beneficiaram, entre janeiro e março de 2021, 23 mil empresas com cerca de 162 mil trabalhadores.
Também teve impacto positivo no resultado a reversão de R$ 432 milhões de provisão para risco de crédito no primeiro trimestre de 2021. A reversão decorre de recuperação de créditos, principalmente por honra do Fundo de Garantia à Exportação (FGE), além da melhora da classificação de risco de algumas empresas. No primeiro trimestre de 2020, foi registrada provisão de R$ 1,7 bilhão, influenciada pela revisão dos ratings dos setores mais afetados pela pandemia da Covid-19.
Mesmo excluídos os eventos extraordinários, como vendas das ações e o provisionamento para risco de crédito, por exemplo, o resultado recorrente do BNDES foi positivo em R$ 2,4 bilhões no primeiro trimestre de 2021, estável em comparação ao mesmo período de 2020.
Ativos – O ativo do Sistema BNDES totalizou R$ 737,2 bilhões em 31 de março de 2021, apresentando diminuição de R$ 41,1 bilhões (5,3%) no trimestre. A redução se deu, principalmente, devido ao pagamento antecipado de R$ 38 bilhões ao Tesouro Nacional e à desvalorização da carteira de participações societárias em função de oscilações dos papéis no mercado financeiro.
A carteira de crédito e repasses, líquida de provisões, totalizou R$ 446,1 bilhões, representando 60,5% dos ativos totais em 31 de março de 2021 e se mantendo no mesmo patamar de 31 de dezembro de 2020.
A inadimplência acima de 90 dias, referência para o setor bancário, se manteve em patamar baixo, oscilando de 0,01% em 31 de dezembro de 2020 para 0,04% em 31 de março de 2021, ficando bem aquém da inadimplência do Sistema Financeiro Nacional (2,19% em 31 de março de 2021). A boa qualidade da carteira de crédito e repasses foi mantida, uma vez que 91,8% das operações estavam classificadas nos níveis de risco inferiores (entre AA e C) em 31 de março de 2021. Esse percentual permanece superior ao registrado pelo Sistema Financeiro Nacional, que foi de 91,0% em 31 de dezembro de 2020 (última informação disponível).
O índice de renegociação atingiu 51,85% da carteira bruta em 31 de março de 2021, ainda fortemente impactado pelas renegociações do Standstill, suspensões temporárias de pagamentos, que alcançaram 44,5% da carteira bruta.
A carteira de participações societárias totalizou R$ 61,5 bilhões em 31 de março de 2021. A posição representa um decréscimo de 21,1% no trimestre, em função das alienações de ações (R$ 12,6 bilhões), notadamente Vale e Klabin, além da desvalorização dos investimentos em não coligadas, com destaque para Petrobras e Eletrobras.
Fontes de recursos – Em 31 de março de 2021, o FAT e o Tesouro Nacional representavam 43,6% e 20,9%, respectivamente, das fontes de recursos do BNDES.
O valor devido pelo BNDES ao Tesouro Nacional era de R$ 153,9 bilhões em 31 de março de 2021, representando uma redução de 21,2% em relação à posição em 31 de dezembro de 2020. O decréscimo decorreu de liquidação antecipada, no montante de R$ 38 bilhões, além de pagamentos ordinários de R$ 3,4 bilhões.
O FAT se manteve como principal fonte de recursos do BNDES. No trimestre, ingressaram R$ 5,1 bilhões de recursos do FAT Constitucional e foram liquidados R$ 6,3 bilhões referentes aos juros semestrais. O volume de recursos do fundo com o Banco totalizou R$ 321,5 bilhões em 31 de março de 2021.
O passivo com captações externas totalizou R$ 37,9 bilhões em 31 de março de 2021, um acréscimo de 7,1% no trimestre, em função, principalmente, de efeito cambial.
O total de fontes de recursos financeiros do BNDES fechou o trimestre em R$ 668 bilhões, abaixo dos R$ 698,5 bilhões no encerramento de 2020.
Patrimônio líquido – O patrimônio líquido atingiu R$ 113,9 bilhões em 31 de março de 2021, estável em relação ao saldo de R$ 113 bilhões em 31 de dezembro de 2020. O ajuste negativo de avaliação patrimonial, líquido de tributos, de R$ 8,9 bilhões, compensou parcialmente o lucro líquido de R$ 9,8 bilhões.
Limites prudenciais – Base para o cálculo dos limites prudenciais estabelecidos pelo Banco Central (Bacen), o Patrimônio de Referência totalizou R$ 190,1 bilhões em 31 de março de 2021 (ante 194,5 bilhões em 31 de dezembro de 2020).
O Índice de Basileia manteve-se em situação confortável, caindo de 41,2% ao final de dezembro de 2020 para 40,3% em março de 2021, acima dos 9,25% exigidos pelo Banco Central.
Eventos Subsequentes – Algumas iniciativas de abril de 2021 terão impacto nos balanços futuros do Banco, principalmente a venda de debêntures participativas da Vale S.A., liquidada no dia 14, que gerou uma entrada líquida de caixa de aproximadamente R$ 2,0 bilhões. Começou também em abril nova rodada de suspensão temporária de pagamentos de empréstimos, o Standstill, que pode beneficiar até 100 mil micro e pequenas empresas, em continuidade às ações do BNDES contra os efeitos da pandemia da COVID-19.
Sustentabilidade – A vinculação de 52,5% da carteira de crédito (considerando operações diretas e indiretas não automáticas) a projetos que apoiam a economia verde e o desenvolvimento social reforça a agenda ASG do BNDES e o compromisso com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Cerca de R$ 5,85 bilhões desembolsados entre janeiro e março contribuíram para o estímulo à indústria, inovação e infraestrutura (ODS 9); R$ 4,59 bilhões para a promoção de trabalho decente e crescimento econômico (ODS 8); e R$ 4,41 bilhões para a ampliação de energia limpa e acessível (ODS 7). Há, porém, desembolsos que contemplaram mais de um desses ODS.
Fábrica de projetos – No início de 2021, a Fábrica de Projetos teve avanços significativos, chegando a 120 iniciativas de estruturação de desestatizações em março, com valor de R$ 243 bilhões entre outorgas e investimentos previstos. O avanço mais notável, já ocorrido no segundo trimestre, foi o leilão dos serviços de abastecimento de água e esgoto no estado do Rio de Janeiro, realizado em 30 de abril, que deverá beneficiar cerca de 11 milhões de fluminenses.
Outros destaques da Fábrica de Projetos no período foram a realização do leilão da Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE-D), no Rio Grande do Sul; a assinatura do contrato de venda da CEB Distribuição (CEB-D), no Distrito Federal; a contratação da PPP de iluminação pública de Petrolina; e realização de audiências e consultas públicas da PPP de iluminação de Curitiba, do porto de Vitória (CODESA) e de saneamento de Porto Alegre.
Mercado de Capitais e MPMEs – A fim de expandir o crédito às MPMEs – incluindo os microempreendedores individuais –, o BNDES aprovou dois novos fundos de crédito que estimulam o financiamento por canais não bancários no primeiro trimestre de 2021, totalizando quatro fundos aprovados no programa. Já foi comprometido R$ 1,6 bilhão do BNDES nesses fundos (que disponibilizarão R$ 2,1 bilhões para os empreendedores) e o programa conta com um orçamento total de R$ 4 bilhões do BNDES.